As mulheres das vidas de Lavrov e Putin: uma história de amantes, filhos ilegítimos e milhões

São os dois homens-fortes da Rússia e defendem a ideia tradicional de família. Mas, longe dos holofotes e segundo uma investigação de uma fundação criada pelo principal opositor de Putin, escondem amantes, filhos ilegítimos e sustentam principescamente segundas famílias.

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Alina Kabaeva é apontada como a actual companheira de Putin Visual China Group/Getty Images

Polina Kovaleva tem apenas 26 anos e é filha de Svetlana Polyakova, uma funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) russo, com um rendimento anual condizente com o de um funcionário público a que juntou, entre 2015 e 2020, 97 milhões de rublos (menos de 700 mil euros) declarados do negócio de um restaurante. Sobre o pai biológico de Polina não há muita informação, sabendo-se apenas que​ não tem qualquer fortuna.

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Polina Kovaleva tem apenas 26 anos e é filha de Svetlana Polyakova, uma funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) russo, com um rendimento anual condizente com o de um funcionário público a que juntou, entre 2015 e 2020, 97 milhões de rublos (menos de 700 mil euros) declarados do negócio de um restaurante. Sobre o pai biológico de Polina não há muita informação, sabendo-se apenas que​ não tem qualquer fortuna.

Mas, desde há cinco anos, a jovem russa reside num apartamento de 4,4 milhões de libras (mais de cinco milhões de euros), em Kensington, um dos bairros mais ricos de Londres, tendo como vizinhos os duques de Cambridge, William e Kate. Espantosamente, a mãe detém ainda um conjunto de propriedades, avaliado em mil milhões de rublos (quase oito milhões de euros)​, entre as quais um apartamento no riquíssimo complexo moscovita Prechistenka 13.

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A discrepância entre os valores declarados e a fortuna existente tem um nome: Sergei Lavrov, acusa uma investigação da Fundação Anti-Corrupção (FBK, na sigla original), organização criada por Alexei Navalny, o principal opositor de Putin, a cumprir pena de prisão efectiva desde Fevereiro do ano passado e considerado pela Amnistia Internacional como um “prisioneiro de consciência”.

De acordo com a investigação, tornada pública em Setembro último e recuperada esta quinta-feira pela directora da FBK, Maria Pevchikh, no Twitter, Svetlana Polyakova é amante do ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, há anos, beneficiando de um lugar próximo de Putin e tendo influência directa no ministério. Mais: o nome de Svetlana Polyakova surge frequentemente guardado em listas telefónicas como “Svetlana Lavrova” ou “Lavrova Svetlana” (Lavrova vem de Lavrov ao qual e adicionado um “a” no final como de costume nos apelidos das mulheres russas).

A relação entre os dois tornou-se ainda mais óbvia depois de Svetlana Polyakova ter surgido na companhia de Sergei Lavrov e de Vladimir Putin durante uma visita à Igreja de S. Sérgio de Radonege, tendo sido “galardoada com a Ordem da Igreja Ortodoxa Russa de Santa Efrasinnia, Grã-Duquesa de Moscovo, III grau”.

Além disso, a investigação da FBK concluiu que a funcionária do MNE é presença assídua nas viagens oficiais de Lavrov, reconhecido na Rússia pela sua moralidade à prova de bala e que, segundo a biografia oficial, é casado há 51 anos com a filóloga e professora de língua e literatura russa Maria Lavrova, de quem tem uma filha, Ekaterina Sergeyevna Lavrova, de 30 anos.

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Svetlana Polyakova surgiu na companhia de Sergei Lavrov e de Vladimir Putin durante uma visita à Igreja de S. Sérgio de Radonege, em 2014 DR

A ginasta de Putin

O actual Presidente da Rússia, cargo que ocupa desde 2012, tendo assumido os destinos do país ainda entre 2000 e 2008, tem no seu currículo uma vasta experiência como agente dos serviços secretos KGB e, após o fim deste organismo, FSB. Por isso, não é de admirar que saiba ocultar a sua vida particular, da qual pouco fala.

Oficialmente, foi casado durante 30 anos com a linguista russa Ludmila Putina (que se voltou a casar, três anos após o divórcio, com o empresário Artur Ocheretny), de quem teve duas filhas: Maria, de 36 anos, e Ekaterina, de 35. Mas, consta que a sua descendência não se fica por aqui.

Várias investigações apontam o nome de Alina Kabaeva, a ginasta nascida no Uzbequistão que chegou a ser descrita como “a mulher mais flexível da Rússia” — e uma das atletas mais medalhadas da história da ginástica rítmica: duas medalhas olímpicas (uma de ouro), 14 no Campeonato Mundial e 21 no Campeonato Europeu —, como o daquela que ocupou o lugar de Ludmila. Há até quem afirme que os dois se terão casado numa cerimónia privada.

Mas, a ser verdade, Alina Kabaeva mantém-se longe dos olhares públicos e a negar qualquer envolvimento com o Presidente russo, assim como a existência de filhos em comum. Porém, acredita-se que os dois têm quatro a cinco filhos. Já os seus paradeiros são ao gosto das teorias da conspiração: enquanto fontes anónimas divulgaram a diversos órgãos que os filhos e a mãe estarão escondidos na Suíça, o antigo professor de Ciência Politica no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo, Valery Solovey, conhecido pelas suas mirabolantes ideias, garante que a família de Putin foi levada para um bunker à prova de armas nucleares que, segundo o cientista político, se assemelha mais a uma cidade de luxo e que se localiza sob a região montanhosa de Altai, junto à fronteira com a Mongólia.

Certo é que Alina Kabaeva, que se retirou da ginástica após um escândalo relacionado com doping e posteriormente na sequência de uma lesão, tem sido uma figura proeminente na Rússia. Depois de se ter filiado no Rússia Unida, o partido de Putin, ocupou assento parlamentar na Duma, a câmara baixa da Assembleia Federal, entre 2007 e 2014, onde votou a favor de uma série de leis controversas, como a que proíbe a adopção de órfãos russos por famílias nos Estados Unidos ou a que determinou a distribuição de “propaganda de relações sexuais não tradicionais” entre menores um delito punível.

Em 2014, assumiu a presidência do conselho de administração do Grupo Nacional dos Meios de Comunicação, uma nomeação amplamente criticada pelo elevado salário e a falta de experiência. E uma vez mais a relação não oficial com Putin foi apontada como a razão para a obtenção do cargo.

Um rol de descendentes?

Mas voltemos à suposta prole. Os rumores da existência de filhos em comum com a antiga ginasta tomaram maior seriedade quando, em 2015, a imprensa suíça divulgou que Putin estava no país para o nascimento de uma filha. Num artigo intitulado Es ist ein Mädchen! (É uma menina!), o jornal Bilk relatava que a filha de Putin e Alina Kabayeva tinha nascido na clínica privada Santa Anna di Sorgeno, no cantão de língua italiana de Ticino, na fronteira italiana, ao mesmo tempo que vários órgãos questionavam o paradeiro do político pelo facto de ter cancelado reuniões sem qualquer justificação.

Na época, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, negou a notícia. “A informação sobre um bebé nascido de Vladimir Putin é falsa”, disse Peskov, citado pela Forbes, rematando o assunto com uma quase piada: “Vou pedir às pessoas com dinheiro para organizarem um concurso sobre o melhor boato.”

Esta não foi a primeira vez que Peskov foi chamado a confirmar ou negar a existência de descendentes ilegítimos de Putin, depois de uma investigação da FBK ter revelado a existência de Elizaveta “Luiza” Krivonogikh​, filha de uma empregada de limpeza que, após a maternidade, se tornou accionista do Banco da Rússia e proprietária de vários apartamentos e de um iate, denunciou Alexei Navalny. A fundamentar esta teoria está a certidão de nascimento de Luiza que tem no lugar do nome de pai “incógnito”.

Então, a jovem não comentou o caso e até passou a seguir Navalny no Instagram. Esta quinta-feira, publicou um repúdio à guerra levada a cabo por Putin, ressalvando o medo por se expressar — “Nem consigo imaginar que consequências me esperam depois destas palavras...” — e deixando uma pergunta a quem a acusa de compactuar com o ataque à Ucrânia: “Será que um homem, tão louco a ponto de declarar literalmente guerra ao mundo inteiro, irá abandonar as suas decisões por causa de algum tipo de sentimento parental?”