Rússia recusa cessar-fogo de 24 horas proposto pela Ucrânia
“Não planeamos atacar outros países e também não estamos a atacar a Ucrânia”, afirmou Lavrov depois do primeiro encontro entre ministros dos Negócios Estrangeiros de Moscovo e Kiev, que terminou sem grandes progresso na cidade turca de Antália.
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O Presidente russo, Vladimir Putin, não recusaria uma reunião com o seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky, para discutir assuntos “específicos”, afirmou Serguei Lavrov no final do primeiro encontro entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Ucrânia, realizado esta quinta-feira de manhã em Antália, na Turquia. O ministro ucraniano, Dmitro Kuleba, lamentou a ausência de decisões sobre a sua proposta de um cessar-fogo total de 24 horas, assim como na organização de um “corredor humanitário” em Mariupol, a cidade sitiada onde a situação dos civis é mais difícil.
Numa conferência de imprensa depois do encontro, que decorreu na presença do ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Çavusoglu, Kuleba descreveu a reunião como “difícil”, mas disse estar pronto para voltar a sentar-se com Lavrov. “Queríamos obter um cessar-fogo de 24 horas, Lavrov disse que Moscovo queria falar de corredores humanitários”, descreveu Kuleba.
“O primeiro motivo que me trouxe aqui foi a questão humanitária, as evacuações. Mas Lavrov não prometeu nada neste ponto”, garantiu o ministro ucraniano, referindo-se à urgente situação dos mais de 400 mil habitantes da cidade portuária de Mariupol, onde desde sábado se espera pela abertura de uma passagem segura que permita retirar civis e fazer chegar bens essenciais aos que lá permaneçam.
“Infelizmente, o ministro Lavrov não estava em condições de se comprometer com isso”, lamentou. A possibilidade de se declarar um cessar-fogo de 24 horas também foi levantada para “resolver as questões humanitárias mais urgentes”, explicou. “Mas parece que há outros decisores para este assunto na Rússia”, acrescentou.
Após o encontro, que se realizou precisamente duas semanas depois do início da invasão da Ucrânia, Lavrov disse que a Rússia vai tentar não voltar a depender do Ocidente e que sairá desta crise “sem ilusões”: o Ocidente, acusou uma vez mais, está a comportar-se de forma perigosa, incluindo a União Europeia. “Aqueles que enviam armas para a Ucrânia e para os mercenários devem entender o risco do que estão a fazer, afirmou. “Vemos o perigo com que actuam outros países, incluindo a União Europeia, que violou os seus princípios e valores” ao decidir financiar a compra de armamento e enviar armas para a Ucrânia.
“Não planeamos atacar outros países e também não estamos a atacar a Ucrânia. Explicámos muitas vezes: avisámos que estávamos numa situação que constituía um perigo para a segurança da Rússia. Há anos que o denunciávamos, mas ninguém nos dava atenção”, afirmou Lavrov, acusando uma vez a Ucrânia de estar a planear um ataque contras as autoproclamadas repúblicas do Donbass (cuja independência Putin reconheceu três dias antes de iniciar a guerra) e o Pentágono de estar a financiar “laboratórios usando o território ucraniano para fazer experiências com agentes patogénicos que podem acabar por ser armas biológicas”.
“Discutir, não decidir”
O chefe da diplomacia russa repetiu ainda que Moscovo está disponível para “discutir garantias de segurança para o Estado ucraniano juntamente com garantias de segurança para países europeus e, claro, para a segurança da Rússia”. “E o facto de agora, a julgar pelas declarações públicas do Presidente Zelensky, um entendimento de tal abordagem estar a começar a tomar forma, inspira um certo optimismo”, afirmou, numa referência ao facto de Zelensky ter sugerido, na terça-feira, que está disposto a recuar na vontade de adesão da Ucrânia à NATO.
“O encontro de hoje confirmou que não há alternativa ao formato russo-ucraniano na Bielorrússia”, onde delegações dois países já se reuniram três vezes, defendeu por fim Lavrov, acusando a Ucrânia de parecer querer ter reuniões só pelo facto de as ter.
Apesar de tudo, segundo Kuleba, os dois ministros decidiram “continuar os seus esforços”. “A Ucrânia não se vai render”, sublinhou ainda. “Estamos abertos à diplomacia, mas, se isso não resultar, vamos proteger o nosso país e o nosso povo.”
Numa entrevista à televisão turca TRT logo depois, Kuleba sublinhou a sua surpresa pela falta de poderes aparentes de Lavrov para tomar decisões sobre as suas exigências. “Ele veio discutir, mas não decidir”, disse. “Gostaria de elogiar Çavusoglu, que realmente fez o possível para facilitar a discussão. A minha impressão é que ele [Lavrov] não tinha autoridade para tomar decisões”, disse.
A Turquia, por seu turno, enquanto país que chegou a esta guerra com boas relações tanto com a Rússia como com a Ucrânia, e que tem fronteiras marítimas com ambos, vai continuar a insistir em iniciativas diplomáticas. Çavusoglu disse que Lavrov e Kuleba lhe pediram que assistisse à reunião, afirmando esperar que esta pudesse representar um “ponto de viragem”. “A reunião foi um começo importante”, afirmou no final. “Ninguém deve esperar milagres numa só reunião.”