O ioga pode ajudar as mulheres a ganharem poder sobre elas próprias, defendem praticantes
Por cá, a prática do ioga é mais popular no mundo feminino. Por isso, neste Dia da Mulher, o PÚBLICO falou com dois especialistas sobre como o ioga pode ajudar as mulheres a elevarem a sua auto-estima.
Nove em cada dez praticantes de ioga são mulheres, revela um questionário conduzido pela Federação Portuguesa de Yoga (FPY) no final do ano passado, em parceria com o Yoga Integral Portugal e três outras associações e que teve o intuito de avaliar a prática do ioga em Portugal. A emancipação da mulher explica a sua maior inclinação para o ioga no mundo ocidental, defende Swami Vidyanand, mestre de ioga na Índia e fundador da Yoga Alliance International, ao PÚBLICO.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nove em cada dez praticantes de ioga são mulheres, revela um questionário conduzido pela Federação Portuguesa de Yoga (FPY) no final do ano passado, em parceria com o Yoga Integral Portugal e três outras associações e que teve o intuito de avaliar a prática do ioga em Portugal. A emancipação da mulher explica a sua maior inclinação para o ioga no mundo ocidental, defende Swami Vidyanand, mestre de ioga na Índia e fundador da Yoga Alliance International, ao PÚBLICO.
Tal acontece porque as mulheres têm maior sensibilidade para a “criação” e para o “cuidar” do outro e delas mesmas, acredita o mestre indiano. “A mulher é uma criadora”, declara. E a procura pelo ioga vem neste sentido, uma vez que as mulheres se têm vindo a aperceber de que, cuidando de si próprias, ficam “mais capazes de cuidar do outro”, concorda, por seu lado, Joana Oliveira, presidente da FPY e professora de ioga desde 2007.
O lado feminino tende a ser “muito exigente” ao querer estar sempre à altura de todas as solicitações, explica ao PÚBLICO, a professora. Por isso, as mulheres vêem no ioga uma ferramenta útil para se conhecerem melhor, mas também que as ajuda a sentirem-se mais calmas e, consequentemente, a “espraiar essa alegria e equilíbrio ao seu meio envolvente”.
Em simultâneo, afirma a presidente da Federação Portuguesa de Yoga, esta prática “promove a auto-estima e a força interior”, dado que o praticante passa a ter certas ferramentas que estimulam um “processo de empoderamento”. E explica: “Sentimos que estamos mais fortes, que nos conhecemos melhor e que o corpo está melhor globalmente. E isso tudo acaba por nos dar mais poder sobre nós próprias.”
Em geral, a impressão com que se fica é que a pessoa está mais saudável e tem mais energia, resume Vidyanand, advertindo, contudo, para a necessidade de se mergulhar completamente na filosofia do ioga, não se ficando apenas pela prática “mecânica”. É que o ioga tem uma forte componente física, actuando quer interna como externamente, ao nível muscular, das articulações e dos ossos, assim como da postura corporal. Além disso, também trabalha o sistema endócrino, imunitário e intestinal, bem como na respiração, que é um dos grandes pilares do ioga, enumera o mestre.
Esta maior consciência corporal promove, por sua vez, “uma melhor relação com o corpo e gera bem-estar físico”. Um aspecto que é especialmente relevante para as mulheres, considerando as inseguranças que muitas possuem por se sentirem “muito julgadas pelo exterior”, como repara Joana Oliveira.
Efeitos terapêuticos
A par do físico, há que considerar os efeitos terapêuticos do ioga, nomeadamente o efeito anti-stress e a melhoria da gestão emocional, que são resultado das técnicas de meditação e de mindfulness. Embora o ioga seja inseparável desta prática meditativa, “não é sempre calminho”, clarifica a presidente da FPY, até porque “pode mexer muito connosco e fazer-nos repensar as coisas”.
É através de uma prática mais contínua que os efeitos do ioga se vão fazendo sentir e os hábitos dos seus praticantes vão mudando gradualmente, refere Joana Oliveira , sendo que normalmente são os outros, e não quem o faz, que observam primeiro essas mudanças. “Não são coisas que aconteçam conscientemente.”
E quando se amplia esta prática para além dos níveis físicos, entra-se, por fim, na linha da espiritualidade. Para Swami Vidyanand, ligado ao ioga há meio século e responsável por várias escolas na Índia, este é muito mais do que uma simples prática física. “O ioga é o processo através do qual se fica a conhecer a nossa verdadeira fonte, a nossa verdadeira casa, o nosso verdadeiro eu”, diz. Antes disso “está-se preso ao corpo, aos medos”, realça o fundador da Yoga Alliance International. É ao olharmos para dentro de nós que atingimos uma “libertação”, que nos traz, “clareza de espírito” e uma maior “compreensão do que nos rodeia”, acrescenta.
Por isso, o mestre indiano concorda com Joana Oliveira, na ideia de que os efeitos do ioga, a nível individual, se acabam por reflectir na relação com o outro. Vidyanand acrescenta que tal também se aplica à capacidade de dar resposta a situações desafiantes. Ainda assim, uma “praticante de ioga não é um super-homem”, salvaguarda a presidente da FPY, pelo que se vê confrontada com altos e baixos como toda a gente. Tem é a particularidade de ter uma maior confiança em si própria e de ser capaz de enfrentar os problemas de forma menos “impulsiva”, conclui.