Ucrânia: associações temem que pessoas com deficiência “fiquem para trás”

Falta de acessibilidade aos abrigos e à ajuda humanitária pode tornar “terrível” a vida de 2,7 milhões de pessoas com deficiência na Ucrânia.

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A situação desta minoria é descrita como “terrível” Reuters/CLODAGH KILCOYNE

Associações internacionais denunciam a situação “terrível” das pessoas com deficiência na Ucrânia, e apelam para que esta minoria seja tratada com equidade nas acções de evacuação, ajuda humanitária e prestação de cuidados. “Quando um conflito eclode, a maior parte da população tenta deslocar-se para áreas mais protegidas, garantindo segurança e saúde para si e seus familiares. Mas para muitas pessoas com deficiência isto não é possível. Os planos de evacuação geralmente não são desenhados de maneira acessível”, afirma num comunicado a Aliança Internacional para a Deficiência (IAD, na sigla em inglês), entidade que representa mais de 1100 organizações dedicadas à causa em todo o mundo.

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Associações internacionais denunciam a situação “terrível” das pessoas com deficiência na Ucrânia, e apelam para que esta minoria seja tratada com equidade nas acções de evacuação, ajuda humanitária e prestação de cuidados. “Quando um conflito eclode, a maior parte da população tenta deslocar-se para áreas mais protegidas, garantindo segurança e saúde para si e seus familiares. Mas para muitas pessoas com deficiência isto não é possível. Os planos de evacuação geralmente não são desenhados de maneira acessível”, afirma num comunicado a Aliança Internacional para a Deficiência (IAD, na sigla em inglês), entidade que representa mais de 1100 organizações dedicadas à causa em todo o mundo.

Existem 2,7 milhões de pessoas com deficiência registadas oficialmente na Ucrânia, de acordo com o Fórum Europeu da Deficiência (EDF, na sigla em inglês). A entidade Inclusion Europe, que calcula que desse total 261 mil pessoas possuam deficiência intelectual, afirma em comunicado já ter recebido relatos de “famílias com filhos com deficiência a viver em caves ou casas de banho para se proteger de bombas”. Pessoas com deficiência que vivem em instituições também correm o risco de serem “abandonadas e esquecidas”.

Milan Šveřepa, director da Inclusion Europe, afirmou ao jornal britânico The Independent que o acesso a abrigos se tornou “incrivelmente difícil” para pessoas com condições como autismo, que acabam por serem abandonadas “nas suas casas, torcendo para nada de mal lhes aconteça”. O acesso à medicação para condições como a epilepsia, uma comorbidade comum no autismo, também passou a ser “impossível”.

O comunicado da IAD recorda que pessoas com deficiência não podem utilizar muitas estações de metro e bunkers. “Em muitos casos, os abrigos são inacessíveis para pessoas que usam cadeira de rodas. Informações sobre evacuação de emergência, localização de abrigos e como procurar assistência não são fornecidas em formatos acessíveis. Como consequência, muitas pessoas com deficiência sensorial, como cegos e deficientes visuais, surdos e deficientes auditivos, e surdos-cegos não entendem como beneficiar das opções de segurança e assistência disponíveis”, refere o documento.

Numa carta aberta, o EDF apelou a todas as partes envolvidas garantias de protecção e segurança das pessoas com deficiência na Ucrânia, lembrando que em situações de crise e conflito estas enfrentam um “risco desproporcional” de abandono, violência, morte, insegurança e falta de acesso aos cuidados de saúde. A situação desta minoria é descrita como “terrível”.

“As mulheres com deficiência estão em maior risco de violência sexual e as crianças com deficiência estão mais expostas ao abuso e à negligência. As informações cruciais sobre segurança e evacuação são muitas vezes inacessíveis, e os próprios centros de evacuação também raramente possuem acessibilidade, o que significa que as pessoas com deficiência são muitas vezes deixadas para trás”, afirma Yannis Vardakastanis, presidente da EDF, na carta aberta.

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Fórum Europeu da Deficiência lembra que em situações de crise e conflito pessoas com deficiência enfrentam um “risco desproporcional” de abandono, violência e morte REUTERS/Kai Pfaffenbach

A IAD também apela à inclusão dos próprios membros da comunidade no planeamento e na execução das acções de ajuda humanitária. “Quaisquer decisões, resoluções ou medidas internacionais adoptadas para lidar com a situação na Ucrânia devem incluir as pessoas com deficiência, facilitando a participação das mesmas nas decisões que as afectam”, refere um comunicado da entidade.

“Como a voz representativa de mais de mil milhões de pessoas com deficiência em todo o mundo, quero lembrar a todos as partes envolvidas que quaisquer medidas tomadas para enfrentar a situação e ajudar as pessoas afectadas devem garantir plenamente os direitos, a inclusão e a participação de todos os grupos de pessoas com deficiência de acordo com as normas internacionais”, afirma Vladimir Cuk, director executivo da IAD, no documento.

Os desafios enfrentados pela comunidade com deficiência no país não são novos. Segundo a IAD, há falhas no acesso à ajuda humanitária e à protecção desde 2014, a partir de quando se verificaram país, “em particular em zonas da parte oriental”, situações de emergência humanitária. Um relatório do gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) de 2021 estimou que, do número total de pessoas que precisavam de assistência humanitária naquela época na Ucrânia, 13% apresentavam alguma deficiência.