Preços no mercado eléctrico são 12 vezes superiores aos registados há um ano
Recorde atrás de recorde, os mercados energéticos reagem às incertezas provocadas pela guerra na Ucrânia e acentuam as subidas de 2021.
Ao 12º dia de guerra na Ucrânia, os preços energéticos continuam imparáveis. No mercado ibérico da electricidade, o preço médio para terça-feira pulverizou todos os recordes conhecidos, fixando-se em 544,98 euros por megawatt hora (MWh) para o mercado espanhol e em 542,78 euros/MWh para o mercado português.
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Ao 12º dia de guerra na Ucrânia, os preços energéticos continuam imparáveis. No mercado ibérico da electricidade, o preço médio para terça-feira pulverizou todos os recordes conhecidos, fixando-se em 544,98 euros por megawatt hora (MWh) para o mercado espanhol e em 542,78 euros/MWh para o mercado português.
O preço máximo para amanhã, dia 8 de Março, foi atingido na faixa horária das 20 horas e chegou aos 700 euros por MWh do lado espanhol e aos 651 euros por MWh no lado português, num momento em que ainda não se sabe se as sanções à Rússia irão acabar por abranger as importações de gás e petróleo para a Europa.
Os valores actuais, improváveis há alguns meses, nascem da ebulição do mercado de gás natural (que é uma das tecnologias de geração que marca os preços nos mercados grossistas eléctricos europeus), onde os contratos estão a ser negociados na casa dos 300 euros por MWh, a acompanhar a escalada da violência a Leste e a incerteza face à continuidade das importações russas.
Mas a subida de preços começou muito antes da guerra, a partir de meados de 2021. Olhando em retrospectiva, há um ano, os preços no mercado ibérico rondavam os 50 euros por MWh e o mês de Março terminou com um preço médio de 45,41 euros por MWh.
Contudo, a partir do Verão, devido a uma maior procura de gás natural a nível global (em particular na Ásia), depois da quebra de consumo e aprovisionamento durante a pandemia e tendo em conta a dificuldade em voltar a constituir reservas perante a aproximação do Inverno na Europa (situação para a qual contribuiu a decisão de Moscovo de não aumentar as exportações), os preços iniciaram o movimento ascendente.
No mercado eléctrico, a barreira dos 100 euros por MWh foi quebrada no Verão e, em Dezembro, assistiu-se ao ponteiro a passar dos 300 euros por MWh pela primeira vez.
As subidas fizeram surgir a contestação de alguns países (como Espanha) em relação ao modelo de mercado marginalista adoptado na Europa, em que a tecnologia mais cara (o gás natural, que também incorpora os custos de emissões de carbono, actualmente em valores recorde) é aquela que marca o preço de cada faixa horária, mas estas pretensões esbarram na recusa da Comissão Europeia em alterar o modelo de mercado.
O preço médio do ano de 2021 na zona espanhola fixou-se em 111,93 euros por MWh e foi de 112,01 euros por MWh para a zona portuguesa (valores que comparam com os preços médios de 33,9 euros registados em 2020, ano em que começou a pandemia).
Depois do início de ano mais caro de sempre em 2022 - com um preço médio de 239,22 euros por MWh em Janeiro -, os valores atingidos para esta terça-feira tornam difícil prever o que poderá acontecer a partir daqui.
Para os consumidores portugueses de energia no mercado regulado (a rondar os 900 mil consumidores), onde as tarifas são válidas por um ano e não reflectem automaticamente a montanha russa que se verifica nos mercados grossistas, os custos energéticos são actualizados trimestralmente - algo que acontecerá em Abril, de acordo com os regulamentos da ERSE.
São principalmente os consumidores em mercado livre (que negoceiam directamente as condições contratuais com os seus fornecedores) e com tarifários indexados ao comportamento de mercado que estão a sofrer com esta escalada aparentemente incontrolável dos preços.