A importância das pequenas perdas

Todos nós, enquanto indivíduos e enquanto sociedade, temos de agir — não fosse este o mote do Dia Mundial da Obesidade deste ano.

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As pequenas perdas de peso podem refletir-se em mudanças significativas na saúde do indivíduo e na sua autoconfiança Priscilla Du Preez/Unsplash

Vivemos, hoje, numa sociedade cada vez mais informada e consciencializada para tópicos de grande impacto para todos nós. Entre estes, a importância da adoção de hábitos de vida mais saudáveis — um cenário desencadeado pelo esforço que sociedades científicas, associações de doentes, governos e outras organizações têm feito para gerar mais e melhor literacia em saúde.

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Vivemos, hoje, numa sociedade cada vez mais informada e consciencializada para tópicos de grande impacto para todos nós. Entre estes, a importância da adoção de hábitos de vida mais saudáveis — um cenário desencadeado pelo esforço que sociedades científicas, associações de doentes, governos e outras organizações têm feito para gerar mais e melhor literacia em saúde.

Contudo, os números mais recentes do Health at a Glance, de 2021, mostram-nos uma realidade algo paradoxal (e preocupante): os níveis de obesidade estão a aumentar em diversos países, e Portugal é o quarto membro da OCDE com maior taxa de prevalência de pessoas com excesso de peso e obesidade: 67,6%.

Perante este panorama, importa refletir sobre a origem desta tendência crescente. Desde logo, é fundamental esclarecer que a obesidade é uma doença crónica, grave e complexa, sobretudo pelo conjunto de fatores que a originam e/ou agravam. Falo, por exemplo, da hereditariedade, de fatores psicológicos e comportamentais (onde se inserem as escolhas alimentares e nível de atividade física) e de fatores externos, desde o nível de educação e de rendimento até ao acesso aos cuidados de saúde. Acresce que a obesidade é, por si só, um fator de risco para mais de 200 outras patologias — também estas graves —, um cenário que torna imperativa uma resposta urgente.

A verdade é que todos nós, enquanto indivíduos e enquanto sociedade, temos de agir — não fosse este o mote do Dia Mundial da Obesidade deste ano (Everybody needs to act, em inglês). A nível clínico, a estratégia terá de passar, cada vez mais, por uma resposta holística, multidisciplinar e adaptada a cada doente; uma estratégia de longo prazo — alicerçada a uma contínua atualização do conhecimento científico e inovação tecnológica, focada em atuar sobre as várias causas da doença e em prevenir o aparecimento das complicações associadas.

Gostaria de destacar a importância das pequenas perdas para o alcance de grandes resultados — apesar de parecerem pouco significativas na balança, pequenas perdas de peso podem refletir-se em mudanças significativas na saúde do indivíduo. De acordo com o National Heart, Lung, and Blood Institute nos Estados Unidos, perdas de peso na ordem de 5 a 10% do total do peso da pessoa podem levar a melhorias na regulação da pressão arterial, dos níveis de colesterol e dos níveis de glicemia. Segundo outra organização norte-americana, desta vez o National Weight Control Registry, comprovou-se, através de um estudo recente, que os participantes em processo de perda de peso experienciaram melhorias na sua condição física, nos níveis de energia, mobilidade, humor e até autoconfiança.

Se pensarmos a longo prazo, a gradual perda de peso implicará uma redução do risco de o indivíduo desenvolver doenças como a diabetes, doenças cardiovasculares e até alguns tipos de cancro. Mais, a perda de peso poderá contribuir para o aumento da esperança de vida — se recorrermos ao recente estudo Custo e Carga do Excesso de Peso e da Obesidade em Portugal, desenvolvido pelo CEMBE, verificamos que a obesidade retira hoje nove dias de vida, por ano, a cada português adulto com obesidade.

Mais do que nunca, precisamos de estratégias e respostas eficazes para conter e reverter a prevalência da obesidade, impedindo que esta seja uma barreira à equidade socioeconómica e ao progresso de Portugal. Do ónus individual é urgente passar para uma visão partilhada de saúde pública, na qual, uma vez mais, todos temos de agir.