O artista como activista
Se ao artista é muitas vezes creditado o papel de activista na construção de novos valores ou estilos de vida, há cada vez mais manifestações artísticas que querem intervir, de facto, nos territórios.
A pergunta é de sempre: qual a função das artes e da cultura em sentido mais amplo? Alertar, questionar, educar, informar, entreter, transformar? E tem de existir uma função? Não há respostas fechadas.
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A pergunta é de sempre: qual a função das artes e da cultura em sentido mais amplo? Alertar, questionar, educar, informar, entreter, transformar? E tem de existir uma função? Não há respostas fechadas.
Há muito que o ambiente é objecto das mais diversas práticas artísticas – por detrás do verde idílico pintado pelos impressionistas estava o fumo das chaminés das fábricas. E, no meio da turbulência sociopolítica dos anos 60 e 70, foram muitos os artistas que se inspiraram numa nova compreensão da ecologia. Também agora se vislumbram produções artísticas que abordam a sustentabilidade, o consumismo, o ciclo de produção, a poluição, o aquecimento global, o desmatamento, a escassez de água, a erosão das espécies ou a exploração de recursos.
Ao artista é-lhe muitas vezes creditado o papel de activista na construção de novos valores ou estilos de vida. Em muitas manifestações artísticas que abordam as alterações climáticas, a produção de alimentos ou a exploração animal, existe o desejo de potenciar reflexões regeneradoras, reaproveitando materiais obsoletos, provindo daí essa ideia da arte como reciclagem – ou seja, são as próprias ferramentas artísticas, os modos de fazer, que tentam respeitar essa mudança cultural maior em que encontramos, ao longo dos anos, práticas muito diversas (land art, eco-arte, arte na natureza, bio-arte e outras).
Há cada vez mais manifestações artísticas que não se querem limitar ao papel de consciencialização ou de alerta, nem moverem-se numa espécie de gueto da disciplina – se existe campo em que o enfoque só pode ser amplo é o do ambiente, nas suas implicações políticas, económicas, sociais e comportamentais, tanto à escala local quanto global.
Sabemos hoje que não basta a mudança de comportamentos individuais na luta por um planeta mais sustentável. É preciso desencadear novas ideias políticas e paradigmas colectivos que provoquem, realmente, a transformação. E, aí, as artes e a cultura têm um papel relevante: na intervenção concreta nos territórios, e fomentando redes de diversos saberes reunidos à volta da noção de que existe um planeta que urge vivenciar de uma outra maneira.