A estreia de Pietro Castellitto (filho de Sergio) na realização vem com um certo currículo (um prémio de argumento no festival de Veneza de 2020) mas revela-se uma decepção e, mais do que isso, um sinal da dificuldade do cinema italiano contemporâneo em lidar com o seu património e as suas próprias tradições. De Pasolini à commedia all’italiana, passando pelo filme político à Bellocchio ou Bertolucci (dos inícios), tudo parece ter sido metido numa trituradora — e não é difícil identificar a trituradora: é de marca Sorrentino — e picado numa pasta grotesca e anedoticamente misantrópica, ao mesmo tempo em que tudo explode em efeitos visuais (os enquadramentos simétricos, a tendência para contrapicados deformadores da morfologia e da fisionomia, as grandes angulares a distorcerem a percepção espacial, etc) que são o sinal mais visível daquela “hipertrofia da superfície” que põe Castellitto como um evidente seguidor do realizador de A Grande Beleza.
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A estreia de Pietro Castellitto (filho de Sergio) na realização vem com um certo currículo (um prémio de argumento no festival de Veneza de 2020) mas revela-se uma decepção e, mais do que isso, um sinal da dificuldade do cinema italiano contemporâneo em lidar com o seu património e as suas próprias tradições. De Pasolini à commedia all’italiana, passando pelo filme político à Bellocchio ou Bertolucci (dos inícios), tudo parece ter sido metido numa trituradora — e não é difícil identificar a trituradora: é de marca Sorrentino — e picado numa pasta grotesca e anedoticamente misantrópica, ao mesmo tempo em que tudo explode em efeitos visuais (os enquadramentos simétricos, a tendência para contrapicados deformadores da morfologia e da fisionomia, as grandes angulares a distorcerem a percepção espacial, etc) que são o sinal mais visível daquela “hipertrofia da superfície” que põe Castellitto como um evidente seguidor do realizador de A Grande Beleza.