O que se passa nas cidades ucranianas sob ataque russo?
O sexto dia de conflito fica marcado por um bombardeamento russo ao centro da cidade de Kharkiv, que Zelensky considerou “um acto de terrorismo”. Também houve um ataque no centro de Kiev, com centenas de residentes a tentar fugir.
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Ao sexto dia da ofensiva militar russa em território ucraniano continuavam activas quatro frentes de guerra: em Kiev, Kharkiv, no Donbass e na Crimeia. Contudo, os avanços não foram uniformes em todas elas. Eis os principais acontecimentos nas cidades sob ataque.
Kiev:
Novas imagens de satélite divulgadas esta terça-feira pela empresa Maxar Technologies revelaram que a coluna militar russa às portas de Kiev tinha uma extensão de quase 64 quilómetros, muito maior do que se supunha anteriormente, o que parece confirmar que as tropas se preparam para um novo assalto à capital ucraniana.
Durante a noite, a Rússia conseguiu tomar Makariv, Borodianka e Vorzel e houve combates em Irpin – localidades a Oeste de Kiev.
Enquanto isso, centenas de pessoas aproveitaram o fim do recolher obrigatório para tentar escapar da cidade, naquela que pode ter sido uma das últimas oportunidades para a fuga antes de uma ofensiva russa mais musculada.
Ao início da tarde, o Ministério da Defesa russo avisou em comunicado que se preparava para atingir dois alvos militares ucranianos no centro da cidade “de forma a impedir ataques informativos contra a Rússia”. “Pedimos a todos os cidadãos ucranianos envolvidos pelos nacionalistas ucranianos nas provocações contra a Rússia, assim como aos residentes de Kiev que habitem perto dessas estações, para deixar as suas casas”, dizia ainda o comunicado.
Cerca de duas horas depois, a Rússia atacou com dois mísseis uma torre de televisão de Kiev, o que, segundo os serviços de emergência ucranianos, provocou a morte a cinco pessoas e feriu pelo menos mais cinco. As emissões televisivas na Ucrânia ficaram temporariamente suspensas. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, lembrou no Twitter que a torre se situa no mesmo local onde em 1941 os nazis assassinaram mais de 30 mil judeus, um dos maiores massacres da Segunda Guerra Mundial. “Oitenta anos depois, os nazis russos atacam o mesmo sítio para exterminar os ucranianos”, acusou Dmitro Kuleba.
Apesar disto, analistas britânicos e norte-americanos que têm acompanhado as movimentações militares dizem que os russos não fizeram grandes avanços territoriais desde segunda-feira.
Okhtyrka:
O bombardeamento de uma base militar nesta cidade entre Kiev e Kharkiv, durante a noite, vitimou pelo menos 70 soldados ucranianos e um número indeterminado de civis. Foi aqui, na região de Sumy, que esta terça-feira se realizou a primeira troca de prisioneiros de guerra, com a Ucrânia a entregar um russo em troca de cinco soldados.
Kharkiv:
Depois de uma noite de intenso fogo russo, que matou pelo menos um civil e provocou uma trintena de feridos, foi bombardeada a meio da manhã a Praça da Liberdade, no centro da segunda maior cidade da Ucrânia. Numa das maiores praças urbanas da Europa, um edifício onde funcionam serviços do governo regional e uma sala de espectáculos ficou parcialmente destruído e vários outros edifícios em redor sofreram grandes danos. Terão morrido pelo menos sete pessoas e 24 ficaram feridas, segundo os serviços de emergência ucranianos.
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Volodimir Zelensky, o Presidente da Ucrânia, classificou este ataque como “acto de terrorismo”, uma vez que “não há alvos militares nesta praça”. Quase à mesma hora, no Kremlin, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, dizia que “os ataques são apenas sobre alvos militares e usando armas de alta precisão”.
Mariupol:
O cerco está a apertar-se em redor desta importante cidade portuária a sul, com os avanços das tropas russas que entraram pela Crimeia e das forças militares da autoproclamada República Popular de Donestk. A cidade tem sido alvo de bombardeamentos constantes e, de acordo com o autarca local, Vadym Boichenko, foram destruídas infra-estruturas civis e “dezenas de civis morreram, incluindo crianças”.
Esta terça, um porta-voz do Ministério da Defesa russo anunciou que as suas tropas tinham “bloqueado completamente” o acesso das forças armadas ucranianas ao Mar de Azov. A Ucrânia não se pronunciou sobre o assunto.
Kherson:
Ainda a sul, Kherson, na foz do rio Dniepre, também está rodeada pelas tropas russas, que assumiram como objectivo para esta terça bloquear e tomar a cidade aos ucranianos. Um assessor de Zelensky, Oleksiy Arestovych, disse ao fim da manhã que havia confrontos nos arredores. O autarca de Kherson admitiu a existência do cerco, mas recusou render-se. Ao fim do dia, o ministro do Interior ucraniano disse que as forças russas tinham conseguido entrar na cidade, mas que o edifício da administração local ainda não tinha sido tomado.
Mykolaiv:
A cerca de 80 quilómetros mais para Oeste, também com ligação fluvial ao Mar Negro, Mykolaiv foi fortemente bombardeada nos últimos dias e há falta de mantimentos e de transporte para quem tenta fugir. Embora as tropas russas estejam nos arredores, a cidade mantém-se sob controlo ucraniano.
Odessa:
A grande cidade junto ao Mar Negro não foi directamente atingida por ataques na terça-feira, mas registaram-se bombardeamentos na localidade vizinha de Dachne. Em Odessa, os militares ucranianos e a população estão a preparar barricadas nas ruas para fazer face a um eventual desembarque russo. Na região, mas perto das fronteiras com a Roménia e a Moldávia, também a vila de Loshchynivka foi atingida por um míssil.