Número de ucranianos em fuga sobe de hora para hora
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) já conta 660 mil nos primeiros seis dias, mas estima que se chegue rapidamente aos 4 milhões.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os números sobem de hora para hora. O último balanço feito pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), esta terça-feira, indica que logo nos primeiros seis dias de guerra mais de 660 mil pessoas cruzaram as fronteiras terrestres da Ucrânia.
Qualquer número fica desactualizado muito depressa, porque há filas quilométricas, compostas sobretudo por mulheres e crianças, em vários pontos fronteiriços. À entrada na Polónia, há quem dê nota de esperas que se estendem por 60 horas. Na Roménia, as filas podem ir até 20 horas.
“Estamos a assistir àquilo que se pode tornar a pior crise de refugiados na Europa neste século”, declarou Filippo Grandi, alto-comissário da Organização das Nações Unidas para os Refugiados, num comunicado emitido por aquele organismo internacional esta terça-feira. Não via algo assim, na Europa, desde a Guerra dos Balcãs. “Embora tenhamos visto uma tremenda solidariedade e hospitalidade dos países vizinhos no acolhimento de refugiados (…) será necessário muito mais apoio para ajudar e proteger os recém-chegados”.
A ONU e as suas organizações parceiras lançaram um duplo apelo de financiamento à ajuda humanitária. Para já, a meta é arrecadar 1,7 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros). Grande parte desse valor, 1,1 mil milhões de dólares (982 milhões de euros), será para ajudar pessoas no próprio país. O resto será para ajudar a Polónia, a República da Moldova, a Hungria, a Roménia, a Eslováquia e outros países da região a acolher os requerentes de asilo.
Explicou o secretário-geral da ONU, António Guterres, que estes “planos incluem fundos para aumentar a entrega de medicamentos essenciais, água potável, abrigo e protecção”. Está a acontecer tudo muito depressa. “Precisamos de acelerar a nossa resposta agora para proteger a vida e a dignidade dos ucranianos”, disse, por sua vez, o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths.
É impossível saber quantas pessoas deixarão a Ucrânia e quanto tempo necessitarão de protecção internacional. Isso dependerá de quanto durar a guerra e de quem a vencer. O ACNUR estima que 4 milhões precisarão de ajuda nos países vizinhos ou da região e outros 12 milhões na Ucrânia.
Esta terça-feira, os dados fornecidos por cada país representavam um salto de mais de cem mil face ao dia anterior: 377.400 na Polónia, 77.970 na Hungria, 74.701 na Roménia, 69.581 na Moldova, 27.679 na Eslováquia. Outros foram para diversos países, incluindo a Federação Russa.
Quem cruza as fronteiras terrestres tem de sujeitar-se a um sistema de registo e triagem. As autoridades recomendam que os adultos tragam os seus passaportes e as certidões de nascimento das crianças que viajam com eles. Para solicitar asilo, têm de ser cidadãos ucranianos ou estrangeiros residentes na Ucrânia.
Os países vizinhos montaram centros de acolhimento, com alimentação e assistência médica. Inúmeros cidadãos europeus estão a abrir as suas casas. Muitos ucranianos ou estrangeiros residentes querem seguir viagem, uma vez que têm familiares ou amigos noutras partes da Europa. As regras usuais de protecção foram levantadas para facilitar esse trânsito.
A União Europeia baixou a guarda. Prepara-se para conceder aos ucranianos em fuga o direito geral de permanecer e trabalhar nos 27 Estados-membros até três anos. Também deverá conceder-lhes direito a acesso a habitação, assistência médica, educação e segurança social.
Portugal, no outro extremo da Europa, também se prepara para ajudar. Deverá ser-lhes atribuído de imediato número de utente do Serviço Nacional de Saúde, número da Segurança Social e Número de Identificação Fiscal. Este regime terá a duração de um ano, prorrogável por dois períodos de seis meses. O Governo está a coordenar a resposta com câmaras municipais e organizações de solidariedade, incluindo as associações de ucranianos residentes em Portugal. Na segunda-feira, já havia alojamentos disponíveis para 603 pessoas em Portugal. As ofertas de trabalho, por sua vez, já chegavam aos dois milhares. Entretanto, multiplicam-se as campanhas de solidariedade.
O maior desafio será ajudar quem se mantém na Ucrânia, atendendo à volatilidade da situação, às preocupações com a segurança, às restrições de movimentos. Segundo o ACNUR, já há pelo menos 160.000 pessoas deslocadas dentro do país.