UE tem reservas suficientes para aguentar um corte no abastecimento energético da Rússia
Ministros da Energia aprovam interligação da rede eléctrica ucraniana ao sistema europeu e disponibilizam reserva de combustíveis para o país, em caso de necessidade. Cenário de escassez do abastecimento não se coloca para já, mas como alertou Josep Borrell, “a energia não vai ficar de fora do conflito, quer queiramos quer não”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As sanções que a União Europeia decidiu aplicar à Rússia pela invasão da Ucrânia terão “custos elevados” para os Estados-membros, alertou o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, após uma reunião extraordinária dos ministros da Defesa, esta segunda-feira. “A paz vai ter um preço, não será um almoço grátis”, frisou Josep Borrell, que aconselhou os governantes dos 27 a explicar muito bem às suas opiniões públicas que se não estiverem dispostas a pagar esse preço agora, a factura acabará por ser muito maior.
“As nossas acções e reacções contra a Rússia terão pesadas consequências económicas. Temos de estar preparados”, afirmou o chefe da diplomacia europeia, antecipando ainda maior “turbulência no mercado da energia” e preços mais altos para os consumidores na sequência das medidas restritivas adoptadas pelos parceiros europeus, que paralisam praticamente todo o comércio com a Rússia.
Com a guerra na Ucrânia, e as ameaças do Presidente Vladimir Putin aos aliados europeus, o relacionamento entre Bruxelas e Moscovo entrou numa “nova era”. “As nossas relações com a Rússia já não serão mais determinadas pelo comércio”, frisou o Alto Representante.
“A energia não vai ficar de fora deste conflito, quer queiramos, quer não”, prosseguiu Borrell, sublinhando que a redução da dependência europeia do gás natural russo deixou de ser apenas uma etapa do processo de transição ecológica em curso, e passou a ser uma “política existencial” para a UE.
No entanto, e apesar dos receios de um corte do abastecimento do gás natural e petróleo vindo da Rússia, seja por iniciativa directa de Putin, seja pelo efeito indirecto das sanções, o cenário de escassez no mercado europeu não se coloca para já. “Mesmo os países mais dependentes da Rússia estão numa posição razoavelmente confortável. Parecem existir reservas de gás suficientes, e o que importa sobretudo é começar a pensar o próximo Inverno”, revelou o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que participou em mais uma reunião extraordinária do Conselho da União Europeia, esta segunda-feira, em Bruxelas.
No caso de Portugal, as reservas de gás estão acima dos 80%, e há reservas públicas de crude, gasóleo e gasolina para 90 dias de abastecimento.
Os ministros europeus com a pasta da Energia fizeram um ponto da situação do mercado, e definiram em que termos se poderão coordenar para reagir a eventuais dificuldades ou constrangimentos no acesso a fontes de energia (petróleo e gás), se o conflito se arrastar. A hipótese de virem a ser libertadas parcelas das reservas nacionais para o abastecimento ou estabilização de preços no mercado europeu não reúne consenso entre os 27: se o risco de ausência de combustíveis se materializar, os Estados-membros querem ter as suas reservas disponíveis para garantir o seu próprio abastecimento.
Porém, os 27 assumiram o compromisso, no âmbito do mecanismo de solidariedade com a Ucrânia, ceder uma parcela da sua reserva nacional para não faltarem combustíveis a esse país. No imediato, os ministros deram o seu acordo à ligação do sistema eléctrico da Ucrânia ao resto da Europa. A rede ucraniana, que estava ligada à Rússia, tem estado a funcionar de forma independente com sucesso, mas como salientou Matos Fernandes, “é obviamente da maior relevância poder dar estabilidade à Ucrânia, através desta ligação ao resto da Europa. Vamos acelerar o processo, mas há condições para que isso possa ser feito sem qualquer risco”, disse o ministro.