Lisboa cria plano de apoio a ucranianos afectados pela guerra

A Câmara Municipal de Lisboa criou um plano de apoio aos ucranianos que vai passar não só por doações para as famílias ucranianas a viverem na cidade, como também pela abertura de um centro de acolhimento temporário para os refugiados que cheguem a Portugal. O refeitório municipal de Monsanto está em funcionamento a partir desta segunda-feira para servir refeições aos cidadãos ucranianos que necessitem.

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Na conferência de imprensa estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, a embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, e a directora do Serviço Municipal de Protecção Civil de Lisboa, Margarida Castro Martins LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

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Cinco dias depois da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, Lisboa assumiu a liderança na ajuda aos cidadãos ucranianos a residir na capital e aos refugiados que a cidade vai receber. Em conjunto com a embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, e a directora do Serviço Municipal de Protecção Civil de Lisboa (SMPC), Margarida Castro Martins, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas (PSD), apresentou esta segunda-feira um conjunto de medidas destinadas a apoiar as famílias ucranianas no município, que vão desde o alojamento à alimentação.

“Gostaríamos de dar o sinal de que Lisboa é uma cidade aberta e que está com Kiev, mas sobretudo de que estamos coordenados neste momento tão difícil para as nossas vidas”, afirmou Carlos Moedas numa conferência de imprensa nos Paços do Concelho, em que explicou que a câmara decidiu dar “passos concretos” para liderar e coordenar os esforços de apoio aos ucranianos. Considerando que Lisboa tem uma “responsabilidade acrescida” de responder à crise da Ucrânia, este plano de apoio da autarquia aos cidadãos afectados pela guerra surge, assim, como forma de “dar o exemplo”, disse ainda o presidente da CML.

Chefiada por Margarida Castro Martins, a iniciativa vai decorrer em duas fases. Em primeiro lugar, passa por “ajudar os ucranianos que vivem em Lisboa e não podem voltar para o país”, disse Moedas. Para isso, foi criada uma linha telefónica (800 910 111) e um e-mail (sosucrania@cm-lisboa.pt) de esclarecimento para as pessoas que querem ajudar e através dos quais os cidadãos ucranianos podem pedir apoio em matéria de alimentação, alojamento, apoio psicossocial, roupas e medicamentos.

Para além disso, a Protecção Civil vai abrir o refeitório municipal de Monsanto já esta segunda-feira a fim de servir refeições aos ucranianos residentes em Lisboa. “Vamos encontrar soluções para todos. Podem estar descansados”, afirmou o presidente da câmara, que está em contacto com o Governo para identificar as famílias ucranianas a viver em Lisboa.

Através de uma “acção concertada e centralizada”, disse a responsável pela missão, a câmara e a Protecção Civil vão fazer a ponte entre “aqueles que precisam de ajuda e aqueles que querem ajudar”, isto é, entre a embaixada da Ucrânia e as juntas de freguesia, que se dedicarão a sinalizar as necessidades das famílias ucranianas e a fazer chegar donativos às mesmas, e os lisboetas que queiram entregar bens nos Paços do Concelho.

Numa segunda fase, com vista à recepção dos refugiados ucranianos, a câmara vai criar um centro de acolhimento temporário num pavilhão desportivo na sede da polícia municipal de Lisboa. Estando já a ser preparado, em conjunto com a Cruz Vermelha, assim que a câmara tenha informação por parte da embaixada da Ucrânia de que os refugiados estão a caminho, este centro de emergência deverá estar operacional em 72 horas. “Somos o sítio onde muitos vão chegar e temos de estar preparados antes de chegarem”, defendeu Moedas.

A longo prazo, o autarca referiu que a prioridade da autarquia será colocar as crianças refugiadas nas escolas da cidade, em coordenação com o Governo, assim como encontrar alojamento junto dos serviços da câmara para as famílias vindas da Ucrânia. Contudo, o presidente da CML frisou que “agora o importante é dar uma resposta imediata neste momento de guerra”.

Carlos Moedas destacou ainda a disponibilidade dos munícipes que têm contactado a câmara para doarem bens e acolherem refugiados nas suas casas, bem como dos vereadores e dos presidentes das juntas de freguesia de Lisboa, que têm assumido projectos de apoio próprios ao longo dos últimos dias.

"Lisboa vai sempre ser uma cidade aberta e justa para ajudar todos aqueles que precisam. Ser lisboeta é isto: não hesitar em ajudar”, disse, garantindo que a cidade está unida “na missão de ajudar a Ucrânia”.

Considerando a ofensiva militar das tropas russas à Ucrânia “inqualificável e inaceitável”, o presidente da CML deixou também uma palavra de apoio aos ucranianos: "Têm em Lisboa a vossa casa”, afirmou.

A embaixadora da Ucrânia aproveitou o momento para condenar a ocupação russa levada a cabo por Vladimir Putin e agradecer a Portugal pelas medidas já tomadas em defesa da Ucrânia como o envio de armamento e meios de protecção individual, que considera “um sinal forte para o povo ucraniano”, e o encerramento do espaço aéreo português a aviões russos.

"Estas medidas afectam a economia da Rússia e isso pode ajudar a que a Rússia pare a guerra com a Ucrânia”, referiu, lançando ainda um novo apelo a Portugal para que rompa ligações com a Federação Russa. “Esta medida é muito dura, mas é justa neste momento porque os ocupantes russos estão a matar os ucranianos, nomeadamente, as crianças. Já morreram 16 crianças”, afirmou.

Questionado pela imprensa sobre os esforços da União Europeia (UE) e de Portugal no apoio à Ucrânia, o presidente da CML referiu que as sanções económicas à Rússia “foram sem precedentes” e tiveram “um efeito de união”. “Nunca vimos a UE tão unida como hoje e a ajuda em termos de armamento de Portugal à Ucrânia é inédita. Estas medidas essenciais da UE e a ajuda das cidades europeias para ajudar concretamente as pessoas, é única na história”, argumentou.

Esta iniciativa chega no seguimento de uma “manifestação de solidariedade” convocada pela CML na quinta-feira passada, que contou com a presença do autarca e da embaixadora Inna Ohnivets junto a centenas de pessoas frente à câmara, cuja fachada foi iluminada com as cores da bandeira ucraniana.

Também no domingo passado, milhares de pessoas manifestaram-se em frente à embaixada da Rússia em Lisboa e no Terreiro do Paço contra a invasão russa.