Tutela promete “solução eficaz” para proteger sítio arqueológico do Lapedo de novos actos de vandalismo
Direcção-geral do Património Cultural vai reunir com a câmara de Leiria para, “a curto prazo”, decidir o que fazer para garantir maior segurança a este monumento nacional. Mas a data da reunião não está sequer definida. Passaram já 20 dias desde que o alerta de vandalismo foi dado à tutela e 11 desde que foi feita queixa às autoridades.
A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) fez saber esta segunda-feira que está em conversações com a Câmara Municipal de Leiria para encontrar formas de garantir a segurança do sítio arqueológico do Abrigo do Lagar Velho, recentemente vandalizado.
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A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) fez saber esta segunda-feira que está em conversações com a Câmara Municipal de Leiria para encontrar formas de garantir a segurança do sítio arqueológico do Abrigo do Lagar Velho, recentemente vandalizado.
Foi neste abrigo na rocha, praticamente destruído por trabalhos de terraplanagem em 1994, que em 1998 foi localizado o esqueleto de uma criança, ali deixado por caçadores recolectores há 29 mil anos, naquela que é até hoje a única sepultura infantil do Paleolítico identificada na Península Ibérica.
Numa nota enviada em resposta ao PÚBLICO e a jornais locais, a DGPC repudiou “veementemente” qualquer acção que resulte na destruição de património e informou que reunirá em breve com a autarquia para definir mediadas de protecção adequadas.
“A DGPC está empenhada neste diálogo e confiante de que o mesmo resultará, a curto prazo, numa solução eficaz e tecnicamente adequada que garanta maior protecção e segurança a este Monumento Nacional”, pode ler-se no email.
O objectivo imediato desta reunião, que, apesar da urgência, não tem ainda data marcada, é criar condições para “mitigar a ocorrência de actos de vandalismo”.
A 6 de Fevereiro, recorde-se, Vânia Carvalho, arqueóloga da autarquia, reparou que alguém andara a furar e a raspar, ao acaso, um troço da parede do abrigo, que fora já cuidadosamente escavado e marcado pelos arqueólogos.
Deste segmento de parede vandalizado, com 100 centímetros de comprimento, 30 de largura e 12 de profundidade, localizado numa parte do abrigo rochoso particularmente instável, terão caído cerca de 500 elementos identificáveis, entre fragmentos de osso, seixos do rio alterados pela acção do fogo, e instrumentos em pedra.
Paralelamente às conversações com a câmara de Leiria, e dispondo já do levantamento técnico e científico feito por Ana Cristina Araújo e Ana Costa, as duas arqueólogas que há anos dirigem as escavações no local com dois colegas espanhóis, a DGPC “solicitou um orçamento para uma primeira avaliação a uma empresa especializada em estabilidade de estruturas”.
O sítio arqueológico do Abrigo do Lagar Velho situa-se numa propriedade privada e está ao ar livre, permanentemente exposto à erosão, explica a referida nota da Direcção-geral do Património Cultural. “Não obstante as medidas preventivas de salvaguarda anualmente implementadas pela DGPC após a realização das campanhas de trabalhos arqueológicos no local, as condições elencadas configuram um contexto de elevada instabilidade e difícil intervenção, pelo que quaisquer soluções de preservação e conservação revestir-se-ão sempre de enorme complexidade.”
Foi a arqueóloga Ana Cristina Araújo, que tal como a geoarqueóloga Ana Costa, trabalha no Laboratório de Arqueociências (Larq) da DGPC, quem de imediato alertou os serviços para o acto de vandalismo. Quando o PÚBLICO esteve no local, a 17 de Fevereiro, este organismo não tinha ainda reagido ao pedido de ajuda das suas técnicas, apesar de avisado dez dias antes.
A nota desta segunda-feira chega, assim, 20 dias após ter sido comunicada a destruição à DGPC, quase dez depois de esta ter sido noticiada.
Desde 2019 que Ana Cristina Araújo vinha pedindo à DGPC que encontrasse uma solução para garantir a integridade e a segurança do Abrigo do Lagar Velho, sem que tivesse obtido qualquer resposta.
Vários contactos com o serviço da DGPC de que depende o Larq, o Departamento de Estudos, Projectos, Obras e Fiscalização, hoje dirigido pela arquitecta Elisabete Moura Barreiros Ferreira, não resultaram sequer, pelo menos até ao sítio ter sido alvo de vandalismo, numa deslocação de arquitectos e engenheiros ao local para avaliar se havia, ou não, urgência em estabilizar a estrutura e salvaguardar o troço de parede deixado a descoberto para que os visitantes possam compreender melhor o que aquele sítio arqueológico lhes dá a ver. O mesmo troço que foi agora destruído.