O diabo nas colinas

Chega pela primeira vez a Portugal o romance póstumo de Beppe Fenoglio. A ler com perplexidade e atenção.

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Uma questão privada era uma lacuna na cena editorial portuguesa em relação à literatura italiana do século XX

É sinal do critério de uma editora rara como as Edições do Saguão que Uma questão privada de Beppe Fenoglio, romance publicado postumamente em 1963, chegue pela primeira vez a Portugal através de um catálogo dominado por uma oscilação dinâmica entre poesia e ensaio. Nessa oscilação a literatura italiana — com os Pensamentos de Leopardi e os poemas de Pavese (Virá a morte e terá os teus olhos) — tem sido estruturante; a introdução de um romance, e de um romance tão marcadamente construído sobre uma ideia forte de narrativa, desequilibra positivamente o desenho do catálogo, tornando-o mais interessante, ao mesmo tempo conferindo a Fenoglio um justíssimo estatuto de objecto estranho, a ler com perplexidade e atenção. Acresce que à escolha minuciosa dos títulos a editora alia o cuidado da edição — neste caso, o cuidado gráfico, visível desde a capa que se escreve sobre uma fotografia da paisagem que o texto explora obsessivamente, até ao cuidado da tradução a quatro mãos, assinada por Sofia Andrade e Andrea Ragusa, com uma nota que situa com precisão esta versão na história conturbada da publicação das obras póstumas de Fenoglio. Se Una Questione Privata estava entre as lacunas na cena editorial portuguesa em relação à literatura italiana do século XX — das quais a falta de uma boa tradução de La Coscienza di Zeno, de Svevo, é a mais perturbadora —, essa ausência foi preenchida com rigor e delicadeza.

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É sinal do critério de uma editora rara como as Edições do Saguão que Uma questão privada de Beppe Fenoglio, romance publicado postumamente em 1963, chegue pela primeira vez a Portugal através de um catálogo dominado por uma oscilação dinâmica entre poesia e ensaio. Nessa oscilação a literatura italiana — com os Pensamentos de Leopardi e os poemas de Pavese (Virá a morte e terá os teus olhos) — tem sido estruturante; a introdução de um romance, e de um romance tão marcadamente construído sobre uma ideia forte de narrativa, desequilibra positivamente o desenho do catálogo, tornando-o mais interessante, ao mesmo tempo conferindo a Fenoglio um justíssimo estatuto de objecto estranho, a ler com perplexidade e atenção. Acresce que à escolha minuciosa dos títulos a editora alia o cuidado da edição — neste caso, o cuidado gráfico, visível desde a capa que se escreve sobre uma fotografia da paisagem que o texto explora obsessivamente, até ao cuidado da tradução a quatro mãos, assinada por Sofia Andrade e Andrea Ragusa, com uma nota que situa com precisão esta versão na história conturbada da publicação das obras póstumas de Fenoglio. Se Una Questione Privata estava entre as lacunas na cena editorial portuguesa em relação à literatura italiana do século XX — das quais a falta de uma boa tradução de La Coscienza di Zeno, de Svevo, é a mais perturbadora —, essa ausência foi preenchida com rigor e delicadeza.