Putin ordena que as forças nucleares russas sejam postas em alerta máximo

Presidente da Rússia diz que a decisão é uma resposta às “declarações agressivas” dos países da NATO. Stoltenberg fala em “retórica perigosa” e EUA acusam Putin de “continuar a escalar” a guerra na Ucrânia” de uma forma “totalmente inaceitável”.

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Vladimir Putin ladeado pelo ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e pelo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, o general Valeri Gerasimov SPUTNIK/Reuters

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Com as tropas russas empenhadas em conquistar a Ucrânia e envolvidas há quatro dias em confrontos “em todas as direcções” no território do país vizinho, Vladimir Putin decidiu puxar neste domingo da perigosa carta da ameaça nuclear, ordenando às suas chefias militares que coloquem as forças nucleares da Federação Russa em alerta máximo.

O Presidente russo justificou a medida como resposta àquilo que considera serem “declarações agressivas” que ouviu e leu de representantes da NATO, somadas às sanções “ilegais” e “hostis” prometidas pelo Ocidente.

Citado pela agência de notícias russa TASS, Putin deu a ordem durante uma reunião com o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas russas, o general Valeri Gerasimov.

“Altos membros dos países que lideram a NATO (...) permitiram declarações agressivas contra o nosso país, por isso ordenei ao ministro da Defesa e ao chefe do Estado Maior General para transferirem o nível de dissuasão das forças do Exército russo para o nível especial de combate”, disse o chefe de Estado russo.

“Os países ocidentais (…) estão a agir de forma hostil contra o nosso país na esfera económica, com as sanções ilegais que toda a gente conhece muito bem”, denunciou Putin.

A União Europeia está a preparar-se para excluir alguns bancos russos do sistema de transferências monetárias internacionais SWIFT, para congelar os activos do Banco Central da Federação Russa e para proibir os oligarcas russos de utilizarem os seus activos financeiros nos seus mercados.

Em declarações ao Guardian, o analista de Segurança e Armamento Pavel Podvig explica que o “nível especial de combate” é um grau de risco militar russo que pode “tornar possível um ataque de retaliação” e que não significa, necessariamente a “preparação para disparar em primeiro lugar”.

“Isto é retórica perigosa. É um comportamento irresponsável”, criticou Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO.

“É claro que quando se combina esta retórica com aquilo que eles [os russos] estão a fazer no terreno – entrando em guerra com uma nação independente e soberana, levando a cabo uma verdadeira invasão da Ucrânia –, isso contribui para a gravidade da situação”, disse à CNN.

A Casa Branca também reagiu às declarações de Putin, dizendo que o Presidente russo “faz isto vezes sem conta” e acusando a Rússia de “fabricar ameaças que não existem para justificar mais agressões”.

“Em nenhum momento a Rússia esteve sob ameaça da NATO ou sob ameaça da Ucrânia”, afirmou Jen Psaki, porta-voz da Administração Biden, em declarações à ABC News, garantido, porém, que os Estados Unidos vão “fazer frente” a Putin.

Vários avisos

Dmitri Medvedev, antigo Presidente e primeiro-ministro da Rússia e actual “número dois” do Conselho de Segurança do país, que é liderado por Putin, já tinha defendido, no sábado, que as punições e ameaças do Ocidente eram uma razão para Moscovo abandonar NEW Start, o último tratado de limitação das armas nucleares que tem com os Estados Unidos.

O próprio Vladimir Putin, referindo a capacidade nuclear russa, no seu discurso de anúncio da invasão da Ucrânia, também já avisara os países ocidentais para não interferirem no conflito, sob pena de enfrentarem “consequências nunca vistas”.

“Mesmo depois da dissolução da URSS e de ter perdido uma considerável parte das suas capacidades, a Rússia continua a ser hoje um dos Estados nucleares mais poderosos”, afiançou o Presidente russo, citado pela Associated Press.

“Neste contexto, que não haja dúvidas para ninguém de que qualquer potencial agressor enfrentará a derrota e consequências terríveis, caso ataquem directamente o nosso país”, insistiu Putin.

Segundo as últimas estimativas da Arms Control Association, organização norte-americana que se dedica há cinco décadas a promover o controlo de armamento em todo o mundo, a Federação Russa tem, neste momento, 6257 armas nucleares, sendo o país com o maior arsenal nuclear do mundo. Dessas armas, perto de 5000 estarão prontas a utilizar.

As últimas – e únicas – vezes que foram utilizadas armas nucleares em contexto militar, foi nos bombardeamentos das cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui, pelos Estados Unidos, em 1945. A ameaça de nova utilização desse tipo de armamento foi uma constante durante toda a Guerra Fria, período em que se assistiu a uma perigosa corrida nuclear, liderada por Washington e Moscovo.

“Parece que o Presidente Putin está a continuar a escalar esta guerra de uma forma que é totalmente inaceitável”, criticou a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas. “Temos de continuar a travar as suas acções, da forma mais forte possível”, disse Linda Thomas-Greenfield à CBS.

Referendo bielorrusso

Para além do seu território, a Rússia tem neste momento mísseis antiaéreos e outros sistemas de mísseis avançados na Bielorrússia, bem como a sua frota com mísseis nucleares no Mar Negro, dois importantes apoios logísticos à guerra que está a levar à Ucrânia.

Os bielorrussos são, inclusivamente, chamados neste domingo a participar num referendo sobre a adopção de uma nova Constituição que rejeita o estatuto de “país não-nuclear”.

Se o “sim” vencer, como se espera, Putin poderá transferir armamento nuclear para o território do seu aliado, pela primeira vez desde que a Bielorrússia abdicou das mesmas, depois da desintegração da União Soviética.”

“Se vocês [o Ocidente] transferirem armas nucleares para a Polónia ou para a Lituânia, nas nossas fronteiras, pedirei a Putin para devolver as armas nucleares que abdiquei sem quaisquer condições”, afirmou o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, defendendo Moscovo das críticas e apontando o dedo ao Ocidente

“Agora está-se a falar muito contra o sector bancário; [contra o] gás, petróleo, SWIFT. É pior que a guerra”, atirou o chefe de Estado da Bielorrússia, citado pela televisão russa RT. “Isto está a empurrar a Rússia para uma terceira guerra mundial”.