Palcos da semana
Joan As Police Woman e Linda Martini andam em digressão. Lisboa vê surgir um novo Lear e reflecte artisticamente sobre a (des)colonização. Em Almada, vão à cena vidas agrilhoadas pelo trabalho.
Herança colonial em reflexão
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Herança colonial em reflexão
A Gulbenkian prepara-se para acolher “uma reflexão original sobre o racismo, a descolonização das artes, o estatuto da mulher na sociedade contemporânea ou ainda sobre a desconstrução do pensamento colonial”. Expressa-se nas cerca de 60 obras que compõem Europa Oxalá, uma exposição em que “21 artistas plásticos europeus com origens familiares nas antigas colónias em África reflectem sobre as suas heranças, as suas memórias e as suas identidades”, descreve a folha de sala. O conjunto chega a Lisboa no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França, depois de ter estado no Museu das Civilizações Europeias e Mediterrânicas (Mucem), em Marselha. Com curadoria de António Pinto Ribeiro, Katia Kameli e Aimé Mpane, estende a reflexão a visitas orientadas, conferências, mesas-redondas, música, performances e cinema.
Inquietações desconfinadas
Jeff Buckley dedicou-lhe a canção Everybody here wants you. O The Times atribuiu-lhe o título de mulher mais cool da pop. E os elogios repetem-se a propósito de The Solution Is Restless (2021). Forjado em confinamento, o nono álbum de Joan Wasser enquanto Joan As Police Woman é, na verdade, um trabalho colaborativo. Os créditos são partilhados com Dave Okumu (The Invisible) e Tony Allen, naquele que seria um dos derradeiros trabalhos do mestre do afrobeat. Damon Albarn, que apresentou Allen a Wasser, também participa.
Um novo King Lear
Em 2006, João Garcia Miguel propôs uma reinvenção da tragédia de Shakespeare, numa peça para dois actores em tom “clownesco”, a que chamou Burgher King Lear. Agora, dá continuação à investida e revisita a história em busca “das coisas transcendentais que nos tocam à superfície e nos empurram nas profundidades do existir”. E, nessa busca, adiciona-lhe mais um intérprete. Se antes eram um australiano e um português a dar vida às (múltiplas) personagens, o novo King Lear é representado por uma actriz portuguesa, Sara Ribeiro, e dois brasileiros, Chico Diaz e Cassiano Carneiro. A companhia do encenador prevê levar o espectáculo em digressão por paragens como Torres Vedras, Leiria ou Santa Maria da Feira, depois da estreia em Lisboa.
Errôr em trio na estrada
É com mais um álbum e menos um elemento que os Linda Martini se fazem à estrada. Acabado de chegar aos escaparates, o disco chama-se Errôr, é composto por uma dúzia de novas canções e, reza a nota que o acompanha, saiu do estúdio em duas semanas. Foi no início de 2021, “em plena terceira vaga”. Não foge aos sinais desses tempos. Um dos temas, Eu nem vi, “fala de diabinhos nos ombros que nos sussurram aos ouvidos”, adiantam. E também “de ansiedade, de camisas de forças e de como tirar os nós com os dentes”, acrescentam. Quanto ao “elemento perdido”, foi o guitarrista Pedro Geraldes, que anunciou a saída há dias. André Henriques (voz e guitarra), Cláudia Guerreiro (baixo e voz) e Hélio Morais (bateria e voz) dão início à digressão no Porto e, este mês, visitam também Lisboa, Castelo Branco, Braga e Ílhavo. Ovar, Freamunde, Leiria e Almada serão outras paragens contempladas nos próximos meses.
Além da Dor, a precariedade
A filha está doente. A mãe não tem permissão para tirar folga para ficar com ela. É preciso fazer um horário nocturno. O empregado não tem como recusar. O dinheiro na carteira é inversamente proporcional ao número de horas laborais. São episódios como estes que fazem Além da Dor, a peça escrita por Alexander Zeldin, onde o autor ensaia o que acontece quando se leva ao limite a rotina de (sobre)viver para trabalhar, em situação para lá de precária. A Companhia de Teatro de Almada estreia a sua versão dessa troca de impressões e emoções entre os empregados de limpeza de uma fábrica de processamento de carne, procurando assim “contrariar a invisibilidade social destes trabalhadores, essenciais, mas tantas vezes esquecidos”.