UE fecha céus à aviação russa
“Não há lugar para aviões do Estado agressor em céus democráticos”, disse Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia. O céu europeu está a ficar cada vez mais estreito para os aviões russos, com mais países a aderirem ao boicote este domingo, incluindo Portugal. A UE acabou por tomar posição conjunta, que “inclui os jactos privados dos oligarcas”
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Este domingo, o céu europeu ficou ainda mais pequeno para a frota aérea russa, elevando o muro de impossibilidades para a aviação comercial da Rússia sobrevoar e aterrar em aeroportos do continente. A União Europeia, com 27 Estados-membros, decidiu tomar na tarde deste domingo uma decisão conjunta, muito mais vasta do que apenas a relativa às companhias aéreas.
Ou, pelas palavras de Ursula von der Leyen: “O nosso espaço aéreo será fechado a todos os aviões russos - e isso inclui os jactos privados dos oligarcas”. “Estamos a encerrar o espaço aéreo da UE para os russos”, lê-se na declaração publicada este domingo no site oficial da Comissão Europeia. Como? “Estamos a propor uma proibição de todas as aeronaves de propriedade russa, registadas ou controladas por russos”, explica a presidente da Comissão. “Estes aviões já não poderão aterrar, descolar ou sobrevoar o território da UE” e a medida “aplicar-se-á a qualquer avião de propriedade, fretado ou de outro modo controlado por uma pessoa física ou jurídica russa”.
Portugal foi, no início desta tarde, um dos Estados-membros que decidiu proibir as companhias aéreas russas de sobrevoar, aterrar ou descolar do seu território. Como Espanha fez o mesmo também durante a tarde, aviões vindo da Rússia deixaram então de ter muitos lugares onde aterrar na Europa. E, como na sequência do anúncio da UE, deixaram mesmo de poder sobrevoar 27 países do continente, isso impede o acesso a espaços aéreos onde ainda são permitidos, como é o caso da Suíça.
“Portugal vai fechar o seu espaço aéreo a companhias de aviação da Rússia”, anunciou esta tarde o Ministério dos Negócios Estrangeiros na página oficial do Twitter. “Tomámos esta medida em articulação com os nossos parceiros europeus e em resposta à agressão da Rússia contra a Ucrânia”.
A mensagem de Madrid, divulgada quase em simultâneo, na mesma rede social, foi no mesmo sentido: “a Espanha procederá ao encerramento do espaço aéreo às companhias aéreas russas”, afirmou o ministério dos Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana espanhol. “Seguindo as directrizes de cooperação estabelecidas pela União Europeia, esta medida terá um efeito nos voos operados pelas companhias aéreas russas que utilizam o espaço aéreo espanhol”.
Os governos da Estónia, Letónia e Lituânia juntaram-se no sábado aos congéneres do Reino Unido, Bulgária, República Checa, Polónia, Roménia e Eslovénia na decisão de fechar os seus céus a aviões de passageiros (entre as quais aos da companhia estatal Aeroflot) e de carga com origem na Rússia.
Nos últimos dois dias, foram semelhantes as afirmações de vários estados europeus no boicote à aviação comercial russa. Da direita para a esquerda (Alemanha, Países Baixos, Bélgica, onde a Comissão Europeia tem sede, França e Irlanda), e de cima para baixo (Islândia, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Itália) foram vários os Estados que tinham decido este domingo já, antes do anúncio da UE esta tarde, recusar que o seu espaço aéreo sirva aviões russos.
A Áustria, país neutro que não integra a NATO, também está disponível para encerrar o seu espaço aéreo aos aviões russos, adianta a Lusa.
“Não há lugar para aviões do Estado agressor em céus democráticos”, resumiu este sábado Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia, o sentimento dos países vizinhos da Ucrânia, invadida pela Rússia há dois dias.
Na reunião prevista para este domingo dos titulares dos Negócios Estrangeiros da UE, “vamos pressionar para um encerramento a nível da UE”, já tinha escrito esta manhã na sua conta no Twitter o chefe da diplomacia dinamarquesa, Jeppe Kofod, citado pela agência noticiosa portuguesa.
“Na Europa, os céus estão abertos, mas abertos àqueles que ligam as pessoas, não àqueles que cometem agressões brutais”, escreveu por seu turno o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, na mesma rede social, citado pela Lusa.
As retaliações não se fizeram esperar. Segundo o Financial Times, ainda este sábado, à luz da decisão do primeiro grupo de países excluírem a aviação comercial russa dos respectivos espaços aéreos, Moscovo disse que irá proibir as companhias aéreas britânicas, búlgaras, polacas e checas de voarem sobre, e aterrarem em, território russo.
Segundo os dados do site Flightradar24, citados pelo FT, um voo entre Moscovo e Budapeste, capital da Hungria, já levou mais 70 minutos a concretizar-se este sábado de manhã, antes mesmo dos três países bálticos anunciarem a sua decisão.
Canadá torna rotas russas mais complicadas
No continente americano, o espaço também ficou mais pequeno. O Canadá decidiu este domingo fechar o seu espaço aéreo às companhias aéreas russas, com efeito imediato, devido à invasão russa da Ucrânia.
Citado pela Reuters, Omar Alghabra, o ministro dos transportes do Canadá, afirmou este domingo: “Vamos responsabilizar a Rússia pelos seus ataques não provocados contra a Ucrânia”, escreveu o ministro dos transportes Omar Alghabra numa mensagem no Twitter.
Não há ligações aéreas directas entre a Rússia e o Canadá, mas vários voos russos regulares passam pelo espaço aéreo canadiano para viajar para destinos noutros países, disse um porta-voz de Alghabra, citado pela agência noticiosa. Que agora deixam de o poder fazer.
Companhias evitam Rússia esta semana
Para aqueles que ainda não foram banidos do espaço aéreo russo, há decisões empresariais já tomadas este fim-de-semana, antes mesmo de a UE vir tomar uma posição conjunta sobre o tema. Assim, a KLM e a Lufthansa não voarão sobre território russo na próxima semana. “A Lufthansa não utilizará o espaço aéreo russo durante os próximos sete dias”, comunicou a companhia aérea alemã, que realiza regularmente as ligações de Frankfurt e Munique a Moscovo e São Petersburgo.
A KLM chegou mesmo a iniciar duas ligações que acabaram por ser interrompidas, com os aviões a regressarem a Amesterdão devido ao efeito das sanções de há dos dias decretadas pela UE. Este sábado, 26 de Fevereiro, a parte holandesa do grupo Air France-KLM, afirmou, em comunicado: “A KLM Royal Dutch Airlines decidiu cancelar todos os voos para a Rússia cuja partida está prevista para os próximos sete dias”, assim como “também deixará de operar voos que atravessem o território russo em rota para outros destinos no mesmo período”.
O comunicado explica ainda que “esta decisão foi motivada por sanções acordadas pelos Estados-membros da UE, estipulando que não podem ser enviadas peças sobressalentes de aeronaves para a Rússia, mesmo que estas se destinem à companhia aérea em questão”, neste caso, a própria KLM.
E faz o aviso: “Isto significa que a KLM já não pode garantir que os voos para a Rússia ou a travessia do território russo possam regressar em segurança”. “Estão actualmente a ser procuradas alternativas para voos programados para sobrevoar o território russo, nas ligações a outros destinos”, adianta.
A Swiss International Air Lines, que pertence ao grupo Lufthansa, contudo, diz que mantém para já as suas ligações regulares à Rússia, o que vai levar certamente mais tempo e combustível após a invasão russa da Ucrânia (cujo espaço aéreo está encerrado) e das suas consequências para a aviação civil.
“A Swiss continua a operar voos para a Rússia como habitualmente e continua também a utilizar o espaço aéreo russo. Continuamos a acompanhar a situação de perto e estamos em estreito contacto com as autoridades suíças e internacionais, bem como com o grupo Lufthansa para as nossas decisões operacionais”, disse um porta-voz em resposta a uma pergunta da Reuters.
A ser actualizado este domingo com lista dos países que anunciam medidas