Rússia ameaça Finlândia e Suécia com consequências militares se aderirem à NATO

Participação dos dois países nórdicos na cimeira extraordinária da Aliança Atlântica como observadores enfurece Moscovo. Primeira-ministra finlandesa admite “mudar o sentido do debate” no país sobre potencial adesão.

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Protestos contra a invasão da Ucrânia junto à embaixada da Rússia em Estocolmo Paul Wennerholm/EPA/TT

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A Rússia ameaçou esta sexta-feira a Finlândia e a Suécia com “sérias repercussões políticas e militares” caso os dois países nórdicos decidam aderir à NATO. O aviso foi feito pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, durante uma conferência de imprensa em Moscovo, um dia depois do secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, ter convidado as duas nações para participarem como observadores na cimeira extraordinária da organização, que teve lugar esta sexta-feira.

“A Finlândia e a Suécia não devem basear a sua própria segurança prejudicando a segurança de outros países”, afirmou Zakharova. Na quinta-feira, a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, admitiu que a invasão russa da Ucrânia poderia “mudar o sentido do debate” sobre a adesão à NATO do país, cuja fronteira com a Rússia se estende por mais de 1300 quilómetros.

Nas suas declarações, a porta-voz da diplomacia de Moscovo deu o que parece ser uma resposta directa às palavras de Marin. “Olhamos para o compromisso do Governo finlandês com uma política de não-alinhamento militar como um factor importante para assegurar a segurança e a estabilidade no Norte da Europa”, disse Zakharova, prometendo que uma possível adesão quer da Finlândia quer da Suécia à NATO, que “é acima de tudo uma aliança militar”, mereceria “uma resposta da Rússia”.

Também na quinta-feira, o Presidente da Ucrânia agradecera a finlandeses e suecos a ajuda militar, técnica e humanitária prestada. “Agradecido à [Finlândia] por dar 50 milhões de dólares em ajuda. É uma contribuição efectiva para a coligação antiguerra. Continuamos a trabalhar. Precisamos de aumentar as sanções e o apoio à defesa [da Ucrânia]”, escreveu Volodimir Zelensky na sua conta no Twitter, meio que utilizou também para agradecer aos suecos: “A Suécia fornece assistência militar, técnica e humanitária à Ucrânia. Grato [à primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson] pelo seu apoio efectivo.”

A Suécia não tem fronteira terrestre com a Rússia, mas a ilha de Gotland, situada no centro do mar Báltico, é de grande importância estratégica no que à defesa diz respeito. Em Janeiro, perante a crescente mobilização militar russa junto à fronteira da Ucrânia, o Governo de Estocolmo decidiu reforçar a presença militar na ilha.

Apesar do seu estatuto de neutralidade, Finlândia e Suécia são, na prática, aliados da NATO e a sua eventual adesão seria vista por Moscovo como mais uma ameaça à sua segurança. Na quinta-feira, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, afirmou que embora não esteja para breve a adesão dos dois países à organização, ambos “acreditam que a NATO não deve assinar qualquer tipo de acordo com a Rússia” que imponha limitações quanto a futuros alargamentos.

“Para a Finlândia e para a Suécia, é uma questão de autodeterminação e do direito soberano de escolher o seu próprio caminho e, potencialmente, no futuro, de candidatarem-se à adesão à NATO”, disse Stoltenberg, antes de vincar que a organização “valoriza bastante a parceria” com os dois países nórdicos.

A abertura do Governo finlandês para debater a eventual adesão à NATO não é, para já, partilhada pelo país vizinho. “A Suécia não faz parte de alianças há muito tempo e a opção tem servido bem os interesses do país”, afirmou na quinta-feira a primeira-ministra, Magdalena Andersson.

Condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia - “entrámos num novo e negro capítulo na história da Europa” - Andersson afastou qualquer hipótese de mudança de rumo por parte da Suécia. “Numa situação como esta, é importante que a política de segurança de longa data da Suécia permaneça firme. Que sejamos previsíveis e claros”, disse a líder do Governo sueco.