Portugal em 15 Carnavais possíveis: para o galheiro, em flor ou a fugir do bicho

À excepção da Figueira da Foz, onde o desfile vai mesmo avante, a maior parte dos festejos típicos foram cancelados. Mas, de Norte a Sul, os créditos não se deixam ficar por máscaras alheias e há outros carnavais à espreita.

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Em Cerveira, a folia vai à tenda

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Em Cerveira, a folia vai à tenda

Cerveira Viva: Carnaval 2022 monta a tenda no Jardim da Piscina Municipal de Vila Nova de Cerveira. A pista de 500 metros quadrados abre no dia 28 de Fevereiro, às 22h, e convida os DJ Mello, Overule, Landu BI, Pedro Tabuada, BIIA e Frank Maurel a subir à cabina de som e a fornecer as batidas até o sol raiar – no caso, até às 6h da manhã do Dia de Carnaval. Além da música, a autarquia põe no alinhamento alguns bares do concelho, que dão de beber à festa. A entrada é livre, sujeita às regras em vigor.

Entrudo na (Vila) Boa

O endiabrado Carnaval de Vila Boa (Vinhais) mantém acesa a tradição de chocalhar o Entrudo com manifestações pagãs. Gaiteiros, caretos, marafonos e madamas, todos estarão prontos para fazer a festa na aldeia transmontana, no dia 27 de Fevereiro. Começa às 14h com uma arruada dos gaiteiros. Meia-hora depois, arranca o desfile dos personagens pelas ruas, com direito a visitas às adegas para regar o festim. Às 18h, estará tudo a postos para a Queima do Entrudo. Depois de um lanche (às 19h), anunciam-se os Casamentos de Carnaval (às 20h), onde se formam casais entre os jovens da aldeia, com validade até, pelo menos, à meia-noite. A organização é da Associação Desportiva e Cultural de Vila Boa, com o apoio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Vinhais.

Em Podence, sê careto

Depois de um 2021 confinado ao online, o Entrudo Chocalheiro está de volta às ruas de Podence, em Macedo de Cavaleiros, entre 26 de Fevereiro e 1 de Março. A festa de Carnaval que diz ser “a mais genuína de Portugal”, e foi reconhecida pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, vem de fato completo: há caretos, desfiles de marafonas, passeios pedestres, exposições, visitas ao território e mercadinhos de produtos regionais. Juntam-se a Ronda das Tabernas, o Festival do Grelo e momentos como a Queimada na Eira ou o Pregão Casamenteiro. O programa detalhado pode ser consultado aqui.

Famalicão vai para o galheiro

Em Fradelos (Vila Nova de Famalicão), a época de folia traz Queima do Galheiro. Numa tradição pagã ancestral, que amontoa restos de sementeiras, galhos velhos e silvado à volta de um tronco de pinheiro encimado pelo boneco do Entrudo, celebra-se a mudança do ciclo de colheitas e a entrada na Quaresma com o fogo à vista. Os lugares de Ferreirinhos e de Quinta (Sapugal) servem de palco aos dois galheiros, que serão ateados a 1 de Março. Até lá, há um programa de animação composto por exposições, desfiles, desgarradas, um baile de máscaras e concertos de música popular – onde alinham grupos locais e, no dia da queima, em cada palco, Quim Barreiros e Toy. O espírito carnavalesco passa também pelo circuito pedonal que liga Famalicão a Gondifelos, onde andam os Caretos na Ciclovia (dia 27), e pelas mesas dos restaurantes do concelho que, no âmbito da iniciativa gastronómica Dias à Mesa, têm à prova o tradicional cozido à portuguesa (de 24 a 27 de Fevereiro).

Carnaval orquestrado no Porto

Se entre os membros da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música avistar um mosqueteiro, um anjo, um ciclista ou mesmo Napoleão, não se admire. É o agrupamento a voltar a abrir ao Carnaval as portas da Sala Suggia. Com ele vêm “ritmos contagiantes oriundos da Roménia, da Hungria, da Rússia ou de Espanha”, bem como a abertura de Guilherme Tell, de Rossini, e O Sonho de Uma Noite de Verão segundo Mendelssohn – tudo sob a batuta de José Eduardo Gomes. E vem também o convite para que o público traga disfarces à medida da festa musical. O Concerto de Carnaval acontece a 27 de Fevereiro, às 18h, na Casa da Música (Porto), com a entrada a valer 14€.

Gaia com a folia do mundo inteiro

“Sacudam-se as tristezas, procure-se a melhor máscara (de Carnaval, sublinhe-se) e depois é só escolher por entre as várias propostas de folia”. É com esta bandeira que o Entrudo chega ao Wow - World of Wine, em Vila Nova de Gaia. Aqui, o Carnaval tem quatro dias e vai buscar ao mundo a tradição e inspiração para a festa, onde tanto cabem as máscaras de Veneza como os ritmos brasileiros ou o cozido nacional. O programa decorre entre 26 de Fevereiro e 1 de Março e alinha momentos como o concerto de forró no bar Angel’s Share (dia 26, às 19h), a visita encenada De Roma a Veneza: Todas as Máscaras Vão Dar ao Museu no núcleo The Bridge Collection (dias 26 e 27, às 16h, 17€), o encontro de kizomba na praça ou a festa de máscaras no Pink Palace Carnavalesco (ambos no dia 28, respectivamente a partir das 15h e das 21h, grátis e 25€). Seja para passear ou participar nas actividades, a organização convida os visitantes a abraçarem a folia, vestidos a rigor. Mais informações aqui.

Estarreja em flor de folia

Sem o habitual desfile trapalhão, Estarreja não se atrapalha e “celebra as origens e as pessoas”, desafiando a ressuscitar um tradição que se perdeu no fim dos anos 1920: a Batalha das Flores. É reinterpretada através de uma instalação artística no centro da cidade e do convite a todos os munícipes para decorarem as suas janelas com flores. Mas há muito mais a brotar deste Carnaval reinventado. Na biblioteca, há sessões de Histórias Mascaradas para os miúdos. Nas sedes dos colectivos vencedores do Carnaval de 2020 (o Grupo de Folia Os Viscondes e a Escola de Samba Vai Quem Quer), há oficinas em forma de uma Fábrica da Fantasia onde se aprende a construir adereços e figurinos com quem percebe do assunto. No Cine-teatro, há cinema ao ritmo de Maria Bethânia, com a projecção do documentário Fevereiros; concertos para Contar a Cantar, Uma História de Carnaval ou escutar Clássicos do Samba; e o espectáculo de stand-up Sorria, É Carnaval, com João Seabra e Miguel 7 Estacas. No centro da cidade, a animação de rua sucede-se, seja ao embalo das baterias da escola de samba, dos saltimbancos da Companhia Malad’arte, da Mimo’s Dixie Band ou do Trio Eléctrico Axê Brasil. Mais informações aqui.

Nazaré: a gente e a saudade em exposição

É d’çeda a nossa gente. É com esta nota de intenções que a Nazaré corteja o Carnaval com uma exposição, assim intitulada, que mostra “como se vive uma das festas populares mais aguardadas do ano”. Patente no Centro Cultural até 6 de Março, é feita de fotografias, vídeos, documentos e até fatos de Carnaval, recolhidos pelo Gabinete de Património e Cultura entre os arquivos e a comunidade. A Câmara Municipal apresenta-a como “uma forma de tentar amenizar as saudades desta nossa e grande festa” e expressar que “o bichinho do Carnaval continua dentro de cada um de nós e anseia festejar”. Faz ainda saber que o título vem de uma marcha geral de 1985, com letra de José Maria Barros Carepa e música de Porfírio Laborinho”. Pode ser vista de segunda a sexta, das 9h às 13h e das 14h às 17h30, e ao fim-de-semana, das 10h às 13h e das 14h às 18h.

De Torres Vedras, matrafonas e sátira

A Torres Vedras não faltam os Reis do Carnaval, nem a sátira política e social, nem a criatividade e nem sequer as matrafonas. A diferença é que se mudam para poisos simbólicos e artísticos, em alternativa às grandes concentrações populares. As Matrafonas, por exemplo, exibem-se num documentário de Mariana Castelo Branco projectado no Centro de Artes e Criatividade, junto ao qual também se pode ver um mural de Nuno Saraiva inspirado em momentos emblemáticos da história do Carnaval da terra, desde o pós-25 de Abril. Os retratos da Cidade Carnaval do Oeste revelam-se também numa exposição de rua com fotografias desta narrativa anual que, em tempos normais, iria “do Corso Escolar à Chegada dos Reis, do concurso de mascarados aos corsos que ‘inundam’ as ruas do centro da Cidade, até ao fatídico Enterro do Entrudo”, lembra a autarquia. À espera dos transeuntes está ainda o Monumento ao Carnaval de Torres Vedras, concebido por Bruno Melo e protagonizado por uma “Aerovacina” manobrada por Gouveia e Melo e rodeada por personalidades como Joe Berardo, Marcelo Rebelo de Sousa, Cristina Ferreira, Graça Freitas ou Ricardo Salgado (alguns na forma de cabeçudos). O “Carnaval mais português de Portugal” lança também as serpentinas ao online, com vídeos, uma mini-série e a partilha de histórias carnavalescas através das redes sociais. O programa da Cidade Carnaval estende-se até 2 de Março e pode ser consultado aqui.

Lisboa volta aos bailes no teatro

A tradição dos antigos bailes nos teatros de Lisboa inspira a festa que o LU.CA - Teatro Luís de Camões preparou para os foliões. Nos dias 27 de Fevereiro e 1 de Março, das 15h às 19h, as cadeiras da plateia dão lugar a uma pista de dança, pronta para acolher miúdos e graúdos, trajados com “o melhor disfarce e os sapatos mais confortáveis para dançar e saltar até não podermos mais”, assim dita o dress code destes Bailes de Carnaval. A comandar a folia, na cabina de som, está o DJ Fernando Alvim. A entrada custa 3€ e é vendida no próprio dia, na bilheteira do teatro, sem possibilidade de reserva. Lá diz o ditado: quem primeiro chega, primeiro se avia.

Capital entre marchas e narigões

Não é raro ouvir repertório festivo vindo de uma orquestra. Não tão comum é ver os seus músicos mascarados enquanto o tocam. Para rechear o “domingo gordo” a preceito, a Orquestra Metropolitana de Lisboa preparou um corso musical pautado pela abertura da ópera Ruslan e Ludmila de Glinka, a suíte Masquerade de Khachaturian e várias marchas, polcas e valsas de Johann Strauss II. Ao programa festivo, dirigido por Jan Wierzba, junta-se a animação na orquestra vestida a preceito e também na plateia. Diz a folha de sala: “os músicos da Orquestra Metropolitana de Lisboa convidam-no a não pensar muito antes de aceitar o desafio que daqui se lança”. A ideia é ir “de casa mascarado com qualquer coisa que a sua obra musical preferida lhe faça lembrar”. Valem “chapéus, cachecóis coloridos, varinhas de condão, pinturas faciais ou narigões”. O concerto está marcado para as 17h de 27 de Fevereiro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com a entrada a custar entre 12,50€ e 25€.

Setúbal a jogar pelo seguro

Atirar bolas a latas, argolas e pinos. Fazer uma corrida de sacos, esquis, três pés ou mini-andas. Jogar à macaca ou minibowling. Se o Carnaval é festa, em Setúbal é sinónimo de diversão em família, com os jogos tradicionais como reis. A autarquia elegeu a Praça do Bocage como epicentro de três dias de animação. Entre 27 de Fevereiro e 1 de Março, das 15h às 18h, além de poderem participar gratuitamente nestas actividades – de preferência, mascarados para a ocasião –, sadinos e turistas são convidados a entrar em coreografias de grupo, a tirar fotografias com adereços numa cabina e a soltar Sorrisos e Gargalhadas com magia, palhaços e bolas de sabão.

Em Sesimbra, a ordem é para sambar

Apesar do cancelamento dos desfiles tradicionais, em Sesimbra o samba não vai parar. Com as escolas de samba e os grupos de axé locais a dar o corpo ao manifesto para carregar as baterias do espírito folião, estão agendados espectáculos no Parque Augusto Pólvora (Maçã) e no Parque da Vila (Quinta do Conde), recuperando “alguns dos mais belos fatos de 2020”, avança a organização. A comemoração conta ainda com o Concurso Infantil de Fantasias e um palco móvel que levará música às ruas das freguesias de Santiago e Castelo. A festa acontece entre 26 de Fevereiro e 1 de Março, com entrada livre (sujeita ao levantamento prévio de bilhete para os espectáculos dos dias 27 de Fevereiro e 1 de Março).

Sines entre majestades e matrafonas

Cancelados os cortejos habituais, o Carnaval de Sines põe as máscaras e vai a jogo com outros trunfos. O programa estende-se até 2 de Março e leva música, dança, desfiles e arruadas a vários espaços da cidade. A Noite da Matrafona (dia 25), a chegada dos Reis do Carnaval e os Desfiles da Folia (26 e 27 de Fevereiro, e 1 de Março), e os passeios Folia sobre Rodas e Caminhada do Pagode (dia 27) são alguns dos pontos altos do programa, que passa também pelos canais digitais do município e da Associação de Carnaval de Sines, onde será partilhado um vídeo sobre o Enterro do Entrudo. Num cartaz que se veste a preceito em todos os momentos, as máscaras carnavalescas são bem-vindas e, no caso da caminhada, um requisito obrigatório para quem nela quiser participar e ficar habilitado ao prémio de melhor traje: um vale de 50€ para descontar no comércio local.

Loulé a fugir do bicho

Um carro alegórico em forma de navio-escola com Gouveia e Melo, o “herói” da vacinação, como figura de proa, ancora no centro de Loulé. Outros carros do género mostram-se pela cidade algarvia. E vários apontamentos festivos decoram-na, com o “objectivo de recordar que Loulé é terra de Carnaval e que o seu corso é o mais antigo do país”, sublinha a autarquia. As festas e os desfiles podem não sair à rua mas, tal como aconteceu em 2021, há “um programa alternativo de animação” em curso, entre 24 de Fevereiro e 3 de Março. Carnaval de Loulé a fugir do bicho dá o tema às iniciativas. Entre elas está um Baile de Carnaval para dançar através das redes sociais, ao som do grupo Fora D’Horas (segunda-feira, às 21h30). Os dias “gordos” de domingo e terça são passados num Carnaval a Passear, à boleia de um autocarro que percorre as ruas levando na bagagem o espírito folião. Central no programa é a dinamização do comércio tradicional, “resgatando um pouco do que costuma ser a vivência de Loulé por estes dias, em que tradicionalmente toda a comunidade local se envolve numa grande festa”. As lojas são convidadas a “mascarar” as montras a rigor, com fatos e adereços carnavalescos; os fregueses têm à sua espera um sorteio que pode valer vales de compras. Está também prevista a realização do Mercadinho de Carnaval (sábado, das 10h às 17h, e domingo, das 14h às 17h), onde dezenas de artesãos e produtores montam as suas bancas em representação de “tradições serranas algarvias” como a latoaria, a cortiça, as aguardentes de medronho ou os enchidos da Serra do Caldeirão.