Tropas russas atacam várias cidades da Ucrânia

Putin anunciou “operação militar especial” no Donbass e, pouco depois das 5h locais, foram relatadas as primeiras explosões e ataques a infra-estruturas em diversos pontos do território ucraniano, incluindo em Kiev.

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Depois de várias semanas de avisos e de movimentações militares na vizinhança da Ucrânia, as Forças Armadas russas avançaram nesta quinta-feira, por volta das 5 horas locais, para o território ucraniano, atacando várias cidades do país e mobilizando tropas através da Crimeia, do Donbass e de outros pontos da fronteira, e respondendo a uma autorização do Presidente Vladimir Putin para se dar início a uma “operação militar especial”.

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Depois de várias semanas de avisos e de movimentações militares na vizinhança da Ucrânia, as Forças Armadas russas avançaram nesta quinta-feira, por volta das 5 horas locais, para o território ucraniano, atacando várias cidades do país e mobilizando tropas através da Crimeia, do Donbass e de outros pontos da fronteira, e respondendo a uma autorização do Presidente Vladimir Putin para se dar início a uma “operação militar especial”.

“Putin lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia. As cidades pacíficas ucranianas estão sob ataque”, denunciou Dmitro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, através do Twitter.

As forças russas iniciaram a ofensiva a partir dos pontos onde, ao longo dos últimos meses, tinham acumulado perto de 150 mil soldados, veículos militares e material logístico – a partir das províncias separatistas, no Leste ucraniano; da Península da Crimeia, anexada em 2014, no sul; e através da Bielorrússia, onde forças russas estavam envolvidas em exercícios com o Exército local.

Os separatistas avançaram sobre as localidades mais próximas da linha de contacto, mas o Exército ucraniano diz estar a conseguir resistir à ofensiva nesta zona, referindo que matou 50 soldados russos junto à cidade de Shchastia, na região de Lugansk, um dos dois territórios separatistas cuja autoproclamada independência foi reconhecida por Vladimir Putin na terça-feira.

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Fonte:NYTimes Infografia|PÚBLICO

Pelo norte, através da fronteira bielorrussa, as forças russas estão a aproximar-se da capital Kiev, onde se registaram várias explosões às primeiras horas da manhã. O aeroporto militar de Gostomel, perto de Kiev, foi bombardeado, o que pode indiciar o avanço terrestre do Exército russo rumo à capital nas próximas horas. Milhares de civis estão a tentar sair da cidade pelos seus próprios meios, embora as autoridades locais tenham apelado à calma e garantido a segurança da metrópole de quase três milhões de habitantes.

Oleksii ​Reznikov, ministro da Defesa, lançou um apelo a todos os cidadãos para “pegarem em armas” e “se juntarem às Forças de Defesa Territorial” da sua “região local”.

Já o Exército russo diz que aniquilou as defesas aéreas da Ucrânia e assegura que os ataques não representam uma ameaça para civis ou para as cidades ucranianas. “Os activos de defesa aérea das Forças Armadas da Ucrânia foram suprimidos”, celebrou o Ministério da Defesa russo, num comunicado citado pela agência Interfax, em que informa que as notícias sobre o abate ucraniano de um avião de guerra russo são falsas.

Pelo menos 40 soldados e uma dezena de civis foram mortos nas primeiras horas da invasão, anunciou um conselheiro do Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky. “Sei que mais de 40 militares ucranianos foram mortos e várias dezenas ficaram feridos e que uma há uma dezena de civis mortos [em todo o país em consequência dos ataques aéreos e dos mísseis disparados esta manhã]”, afirmou aos jornalistas Oleksii Arestovich. ​

Zelensky declarou rapidamente a lei marcial, disse que ligou ao Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e, através de um vídeo, emitiu uma mensagem de confiança para a população: “O Exército está a trabalhar. Sem pânico. Somos fortes. Estamos prontos para tudo. Vamos derrotá-los a todos.”

O Kremlin garante, porém, que há soldados ucranianos que estão a reagir à ofensiva russa pondo-se em fuga. “Há unidades do Exercito ucraniano e militares que estão abandonar os seus postos em massa, baixando as armas”, diz o Ministério da Defesa, em comunicado, sem apresentar, no entanto, quaisquer provas que sustentem esse cenário.

Estados Unidos, NATO e vários países europeus condenaram de imediato a agressão russa e os seus representantes vão reunir-se de emergência nas próximas horas, provavelmente para avançar com as sanções económicas mais duras que tinham deixado na gaveta.

“A Rússia, sozinha, é responsável pela morte e pela destruição que este ataque vai trazer, e os Estados Unidos e os seus aliados e parceiros vão responder de forma unida e decisiva”, reagiu o Presidente dos EUA.

Artigo 4 da NATO

“Não vamos permitir que o Presidente Putin derrube a arquitectura de segurança da Europa. Ele não deve subestimar a determinação e a força das nossas democracias. A União Europeia apoia a Ucrânia e a sua população. A Ucrânia vai prevalecer”, afirmou Ursula von der Leyen. “Putin desencadeou a guerra no nosso continente europeu”, afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. “Acordámos num mundo diferente”, declarou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock. “Estamos perplexos, mas não estamos impotentes”, garantiu.

A NATO já se reuniu de urgência e vários dos seus membros – Bulgária, República Checa, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia e Eslováquia – accionaram o pedido de consultas urgentes ao abrigo do Artigo 4 do Tratado de Washington, previsto para quando “a integridade territorial, a independência política ou a segurança de qualquer das partes [da NATO] é ameaçada”.

Depois do encontro, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, confirmou que a aliança activou esta manhã os planos de defesa e que reforçará os seus meios de defesa no Leste da Europa nos próximos dias. “Este é um passo prudente e defensivo, mas necessário. Dá aos nossos comandantes a autoridade para destacar imediatamente as nossas forças e capacidades para onde são necessárias”, explicou Stoltenberg.

“Um ataque a um será considerado um ataque a todos. Essa é a nossa garantia de segurança colectiva”, garantiu ainda Stoltenberg, informando ter convocado os líderes da NATO para uma cimeira virtual, esta sexta-feira.

“Desmilitarizar” e “desnazificar” o país

Segundo Putin, que, mesmo tendo autorizado o destacamento de mais de 150 mil soldados nas fronteiras com a Ucrânia nas últimas semanas, sempre negou a intenção de invadir o país e que acusou o Ocidente de estar constantemente a mobilizar a sua “propaganda de guerra”, o ataque desta quinta-feira destina-se a garantir a segurança dos cidadãos russos e das repúblicas separatistas que reconheceu recentemente como Estados independentes, e a “desmilitarizar” e “desnazificar” o país vizinho.

“Decidi levar a cabo uma operação militar especial (…) para proteger a população que tem sido sujeita a bullying e a genocídio”, justificou o Presidente russo, citado pela Reuters. “E para trazer à Justiça aqueles que cometeram numerosos crimes sangrentos contra civis, incluindo civis da Federação Russa.”

O chefe de Estado russo recuperou ainda alguns dos argumentos históricos que já tinha apresentado aquando do reconhecimento das repúblicas separatistas ucranianas, falando na Ucrânia como um território pertencente às “terras ancestrais russas”, sem “tradição como uma verdadeira nação”. Com a actual liderança, explicou, Kiev é uma ameaça à existência da Federação Russa.

“A Rússia não se pode sentir segura, desenvolver-se, ou existir com uma constante ameaça vinda do território da Ucrânia moderna”, disse Putin, num discurso televisivo. “Toda a responsabilidade pelo derramamento de sangue ficará na consciência do regime que governa a Ucrânia.”

O Presidente russo afiançou, porém, que Moscovo não quer “ocupar a Ucrânia”.