Afinal, o Benfica-Ajax era mesmo 50/50

Quando pouco o faria prever, o Benfica acaba de ganhar, a 23 de Fevereiro, algo por que lutar nesta temporada. Tendo taças internas perdidas e campeonato como uma miragem, resta a Champions para ainda impressionar nesta época.

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Momento do jogo em que o Benfica marcou o primeiro golo contra o Ajax Reuters/RODRIGO ANTUNES

Nélson Veríssimo tinha dito que o Benfica-Ajax era uma eliminatória 50/50 na divisão de favoritismo e o Benfica tratou de provar, nesta quarta-feira, que a frase do técnico do Benfica não era só “bazófia” – expressão que o próprio escolheu. Portugueses e neerlandeses empataram (2-2) na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, um resultado que deixa tudo em aberto para o jogo em Amesterdão.

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Nélson Veríssimo tinha dito que o Benfica-Ajax era uma eliminatória 50/50 na divisão de favoritismo e o Benfica tratou de provar, nesta quarta-feira, que a frase do técnico do Benfica não era só “bazófia” – expressão que o próprio escolheu. Portugueses e neerlandeses empataram (2-2) na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, um resultado que deixa tudo em aberto para o jogo em Amesterdão.

Frente a uma equipa com perfil de “lobo” na sua fase atacante e “cordeiro” no sector defensivo, a dicotomia foi resolvida pelo Benfica, que conseguiu travar uma poderosa formação dos Países Baixos que seguia imbatível na Europa.

Quando pouco o faria prever, o Benfica acaba de ganhar, a 23 de Fevereiro, algo por que lutar nesta temporada. Tendo taças internas perdidas, campeonato como uma miragem e mesmo o segundo lugar bastante difícil, resta a Champions para ainda impressionar nesta época – algo que, em 90 minutos, passou de homérico a apenas difícil.

Neste jogo, o Benfica acabou por corrigir uma abordagem inicial teoricamente infeliz. Sabe-se o quanto o Ajax se expõe quando joga em ataque posicional, pelo que quanto mais bola o Benfica desse ao adversário mais perigoso se tornaria, pelo espaço dado pelos neerlandeses, sempre sofríveis na transição defensiva. Na primeira parte, o Benfica quis dividir o jogo, sendo pouco perigoso. Na segunda, “ofereceu” a bola ao adversário, tornando-se, aí sim, mais perigoso. Este aparente paradoxo teve, porém, total lógica tendo em conta os predicados do Ajax.

Má opção inicial

A primeira parte teve contornos curiosos, já que seria suposto haver um Ajax avassalador a circundar a área do Benfica e uma equipa “encarnada” de bloco muito baixo a tentar explorar transições, mas não foi bem isso que se viu.

Nélson Veríssimo resistiu à tentação de chamar a jogo mais um médio, mantendo o 4x4x2 que tem utilizado. Apesar de Gonçalo Ramos baixar muitas vezes para ser um terceiro jogador de meio-campo, a equipa pressionou quase sempre em 4x4x2, num bloco médio, mas o mais surpreendente foi mesmo ver os “encarnados” com uma estranha audácia com bola.

A equipa não só raramente abdicava de sair de trás com a bola controlada como projectou mais do que uma vez os dois laterais em simultâneo na primeira fase de construção. Fê-lo mesmo sabendo que o Ajax é a terceira equipa da Champions que mais bolas recupera no terço de campo adversário, algo que não foi aviso suficiente para alguma prudência no risco tomado em zonas recuadas.

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Resultado: aos 18’, não só Grimaldo perdeu uma bola em zona recuada como Gilberto, do lado oposto, estava totalmente projectado em largura. Mazraoui pôde cruzar da direita e Tadic, sozinho durante muito tempo, finalizou de primeira, sem deixar a bola cair no chão. Quando Gilberto chegou à área para fazer o seu trabalho já o sérvio estava a festejar.

Esta audácia com bola, que já tinha provocado sustos aos 6’ e aos 11’, deixou ainda o Benfica perto de sofrer aos 46’, havendo remate fraco de Antony. Mas houve mais para contar antes desse momento.

O Ajax foi crescendo no jogo depois do 1-0, mas, em rigor, até houve uma surpreendente divisão da iniciativa, com os neerlandeses possivelmente conscientes de que quanto mais “suicida” fosse o Benfica, maior probabilidade teria de “matar” já a eliminatória.

Mas os “encarnados”, de forma consentida ou não, acabaram por conseguir ter o Ajax em zona defensiva durante alguns períodos do jogo, ainda que essa opção estratégica os inibisse de activarem Darwin em profundidade com maior frequência – e, em tese, seria esse o “ouro” para este jogo, “convidando” o Ajax a subir a equipa.

O Benfica chegou ao empate aos 26’, num lance em que Vertonghen, após um canto, cruzou contra Haller, que fez autogolo – confirmou que marca em todos os jogos da Champions. Logo a seguir, o costa-marfinense vingou-se: após um cruzamento, ganhou o duelo com Vertonghen (abordagem estranha e algo passiva do belga) e rematou para defesa inicial de Vlachodimos, impotente para travar a recarga do avançado – desta vez, marcou na baliza certa.

O Ajax tomou, nessa fase, conta do jogo. A equipa cresceu e começou a fazer o Benfica correr atrás da bola, apostando no habitual jogo de permanente permuta de posições. E o Benfica, parecendo por vezes muito preso a referências individuais, acabou por pagar caro essa estratégia defensiva. O médio-defensivo Álvarez saiu da sua zona e apareceu na área a pedir um passe vertical a Antony. Houve remate ao poste do médio, com a recarga infeliz de Haller.

Sendo certo que o Benfica conseguiu suster o Ajax durante vários minutos, é certo também que os neerlandeses poderiam perfeitamente ter chegado ao intervalo com uma vantagem mais confortável.

Mudança estratégica

Para a segunda parte, Nélson Veríssimo mudou de forma clara a postura do Benfica. Como se esperava logo de início, a equipa entrou mais expectante, explorando depois o espaço. Chamou Darwin em profundidade mais vezes e teve até dois lances interessantes: um de Everton aos 57’ e, sobretudo, um contra-ataque mal definido por Rafa aos 60’ e um remate perigoso de Darwin aos 61’.

E Veríssimo colocou, depois, o uruguaio na ala, lançando Yaremchuk, para capitalizar mais ainda os predicados de Darwin. O ucraniano, também numa transição, esteve perto do golo aos 69’, assistido por Rafa.

Até que aos 72’ houve nova correria de Rafa, com o Ajax desposicionado – algo que já se sabe desta equipa –, e o remate de Gonçalo Ramos, para defesa de Pasveer, teve recarga vitoriosa de Yaremchuk.

Curiosamente – ou não –, quanto mais o Ajax tinha a bola, mais espaço dava, mais Darwin e Rafa entravam em jogo e mais perigoso ficava o Benfica, algo também espoletado pela presença de Yaremchuk a fixar marcações e libertar as “motas”.

Possivelmente acreditando que resolverá a eliminatória em Amesterdão, o Ajax assumiu, nesta fase, uma postura expectante, até pelo crescimento mental do Benfica e do próprio Estádio da Luz.