Volkswagen estuda dispersar capital da Porsche em bolsa
Um dos activos mais rentáveis do grupo pode valer entre 60 e 85 mil milhões de euros, estimam analistas. Venda pode ajudar a financiar a viragem eléctrica.
O maior fabricante europeu de automóveis, a Volkswagen, admitiu nesta terça-feira que está em “discussões avançadas” sobre uma eventual entrada da Porsche na bolsa. A dispersão de parte do capital social de um dos seus activos mais rentáveis pode representar um negócio multimilionário e uma importante fonte de receita para ajudar a financiar a transição energética que tem vindo a ser apresentada como crucial.
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O maior fabricante europeu de automóveis, a Volkswagen, admitiu nesta terça-feira que está em “discussões avançadas” sobre uma eventual entrada da Porsche na bolsa. A dispersão de parte do capital social de um dos seus activos mais rentáveis pode representar um negócio multimilionário e uma importante fonte de receita para ajudar a financiar a transição energética que tem vindo a ser apresentada como crucial.
Os serviços da Bloomberg Intelligence estimam que a empresa que detém a marca Porsche pode valer entre 60 mil milhões e 85 mil milhões de euros. Outras estimativas citadas nesta manhã pelo Financial Times apontam para um valor bolsista potencial na ordem dos 200 mil milhões de euros. O que seria quase o dobro da capitalização bolsista actual da própria Volkswagen, que é de cerca 110 mil milhões de euros.
Seja qual for o intervalo, qualquer um destes montantes cobriria o custo da viragem eléctrica neste grupo. Segundo contas feitas em Julho de 2021, o investimento necessário rondaria os 73 mil milhões de euros. Uma dispersão do capital da Porsche em bolsa, mesmo que parcial, poderia representar um importante encaixe financeiro para apoiar este esforço.
A Porsche e a Audi são as duas marcas mais rentáveis do grupo. A Volkswagen (VW) detém a maior unidade industrial na Europa, na sua cidade-sede de Wolfsburgo, empregava 660 mil pessoas no Verão de 2021 e quer chegar a 2030 com 50% das vendas em carros eléctricos.
A fábrica portuguesa do grupo, a Autoeuropa Volkswagen em Palmela, continua a produzir veículos com motor de combustão interna, um tipo de motorização que a marca disse pretender abandonar a partir de 2035. Por agora, a fábrica de Palmela não faz parte dos planos de reconversão já apresentados pelo fabricante alemão. Os 5000 trabalhadores do grupo em Portugal votarão um novo pré-acordo laboral, na próxima quinta e sexta-feira, para os anos 2022 e 2023. Este pré-acordo inclui o anúncio de um novo modelo para a fábrica, que de momento produz o sucesso de vendas T-Roc e o monovolume em fim de vida Sharan, que deverá ser descontinuado este ano.
Num comunicado divulgado pela administração, o grupo reconhece que chegou a um “acordo de princípio” com a holding Porsche SE para uma eventual venda da Porsche em bolsa. Esse acordo “deverá servir como base para os próximos passos rumo a uma potencial Oferta Pública Inicial [IPO, na sigla inglesa]”.
As acções da VW estão a subir 9,67% para 191,90 euros, na bolsa de Frankfurt, depois deste anúncio.
A Porsche é uma das marcas de luxo no portefólio do grupo VW, a par da Lamborghini ou da Bentley. Há muito que se especula sobre uma eventual entrada da Porsche em bolsa, mas até hoje essa possibilidade, citada insistentemente em 2021 na imprensa alemã, tinha sido sempre rejeitada.
“A conclusão deste acordo de princípio ainda depende da aprovação por parte do conselho de gestão e do conselho supervisor da Volkswagen AG. Ainda não há decisão final”, adverte o comunicado desta terça-feira, realçando que tanto o acordo como a entrada da Porsche na bolsa é um processo que “continua em aberto”.
A separação da marca Porsche e ida ao mercado em busca de dinheiro fresco é uma via de financiamento alternativa para um grupo que depende das suas vendas e da emissão de dívida. Ao contrário da Tesla, que a VW pretende destronar da liderança no segmento eléctrico, o grupo automóvel alemão não pode angariar capital com facilidade, dada a sua complexa teia accionista. Sem aumento de capital, a dispersão em bolsa diluiria a participação de importantes accionistas, pondo em causa o poder de controlo de investidores estrangeiros (que detêm mais de 40% do grupo), da holding Porsche SE (31,4%) e do próprio estado federado da Baixa Saxónia, onde a VW tem o seu quartel-general e que controla 11,8% do capital.
Desde 2018, pelo menos, que se fala numa eventual separação da marca Porsche. A marca Porsche, detida pela Porsche AG (abreviação de Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG), e a holding Porsche SE (de Porsche Automobil Holding SE) são coisas distintas. Esta última é maioritariamente detida pelos herdeiros das famílias austro-germânicas Porsche-Piëch e accionista de referência da VW.
Depois de uma tentativa fracassada para assumir o controlo da VW, há uma década, a Porsche SE chegou a acordo para uma fusão com o grupo VW. A holding familiar ficou então com mais de 50% das acções ordinárias do fabricante de Wolfsburgo (controlando 53,3% das acções com direito de voto). A VW, por sua vez, ficou em 2012 com a marca de carros desportivos de luxo Porsche.