Manifestantes contra demolição da “histórica” estação da Boavista no Porto
Em vez de mais um espaço comercial na Boavista, pedem um jardim público. “O nosso objectivo, o que nós esperamos, é que, perante este desagrado popular, as autoridades competentes possam tentar reverter ou minorar os efeitos negativos desta decisão sobre a cidade”, afirmou um dos manifestantes.
Dezenas de pessoas concentraram-se este sábado em frente à antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, para contestar a sua demolição e a construção de um El Corte Inglês, decisão que classificam de “aberração”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Dezenas de pessoas concentraram-se este sábado em frente à antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, para contestar a sua demolição e a construção de um El Corte Inglês, decisão que classificam de “aberração”.
“É uma aberração construir isto [El Corte Inglês] na Boavista, zona que está tão poluída e congestionada, por isso, o ideal seria transformar este terreno num jardim público”, disse Francisco Alves, membro do Movimento por um Jardim Ferroviário na Boavista.
Tendo por som de fundo a palavra de ordem “menos betão, mais jardim, ouçam a população”, que um dos manifestantes ia gritando, Francisco Alves referiu que construir um centro comercial num local onde já existem cinco é um “absurdo”.
Dizendo que esta decisão demonstra o “capitalismo no seu pior”, Francisco Alves entendeu que, ao invés de ajudar e impulsionar o comércio local, o El Corte Inglês vai ser uma espécie de “eucalipto que vai secar tudo à sua volta”.
O membro do Movimento por um Jardim Ferroviário na Boavista lembrou que o mundo está a viver uma crise climática e que, por esse motivo, é preciso descarbonizar e criar mais zonas verdes e a construção deste centro comercial é o “oposto disto”.
Manifestantes dizem “não ao El Corte Inglês, sim a um jardim púbico”
Sobre o porquê de um jardim na Boavista, Francisco Alves frisou que faltam espaços verdes nesta zona do Porto, que tem um dos índices de calor e ruído mais altos da cidade.
Nas paredes da antiga estação ferroviária, que foi a primeira do Porto depois de inaugurada em 1875, estavam afixados cartazes onde se lia “destruir património é um drama”, “não ao El Corte Inglês, sim a um jardim púbico” ou “preserve o património e a vida cultural”.
E é precisamente por entender que a destruição desta estação ferroviária significa a eliminação de um património histórico e cultural da cidade que Hugo Pereira, igualmente do Movimento por um Jardim Ferroviário, marcou presença no protesto.
“O nosso objectivo, o que nós esperamos, é que, perante este desagrado popular, as autoridades competentes possam tentar reverter ou minorar os efeitos negativos desta decisão sobre a cidade”, afirmou.
Hugo Pereira salientou que o novo centro comercial terá um impacto “desastroso” no trânsito e na concorrência com os pequenos comerciantes. E, acrescentou, não trará nenhum valor económico adicional.
Antiga estação será demolida
A antiga estação ferroviária da Boavista será demolida no âmbito da desafectação do domínio público de vários edifícios da Infra-estruturas de Portugal (IP) no local, para ser construído um El Corte Inglés, segundo um despacho publicado no passado dia 8 de Fevereiro.
A IP e o El Corte Inglés celebraram, a 21 de Setembro de 2021, o quinto aditamento ao contrato promessa de constituição de direito de superfície, decorrente do Pedido de Informação Prévia (PIP) aprovado em 2020 pela Câmara do Porto.
De acordo com um esclarecimento do Ministério das Infra-estruturas e da Habitação a uma pergunta do grupo parlamentar do BE, partilhado pelo movimento em defesa do jardim, os lotes 2 e 3 têm um valor de 21,2 milhões de euros, segundo o PIP.
O PIP também enquadra que a parcela de 254 metros quadrados referida, “não constituindo um lote para construção, possui potencial urbanístico” e é passível de ser entregue à Câmara do Porto pela cadeia espanhola como “dação em cumprimento de parte do pagamento de taxas urbanísticas”.
O esclarecimento da tutela refere também que a Direcção-Geral do Tesouro e das Finanças (DGTF) realizou uma avaliação de toda a operação imobiliária, cujo montante ascende aos 52,6 milhões de euros.
“O montante estabelecido de preço para a constituição do direito de superfície a favor do El Corte Inglés para o Lote 1 é de 29.444.510,46 euros”, acrescenta.
No documento, a tutela nota ainda que o PIP aprovado inclui a compatibilização com o projecto da Metro do Porto em curso para aquele local, salvaguardando uma área de 697 metros quadrados para a futura edificação da sede social da empresa.
A cadeia espanhola já pagou 19,97 milhões dos 20,82 milhões de euros fixados há mais de duas décadas, tendo por base um PIP aprovado em 2000 pela Câmara do Porto.