Uma homenagem justa aos antigos faroleiros
Um livro que recorda a dureza, monotonia e solidão da vida dos vigilantes do mar, que o iluminavam do pôr ao nascer do sol.
A autora, Sophie Blackall, sempre se sentiu fascinada por faróis no mar (não será a única), por isso investigou e visitou muitos antes de escrever e desenhar este livro encantador. “Um dia, numa feira de velharias, reparei numa gravura que mostrava o interior de um farol. Fiquei a pensar como seria viver ali, fazer daquelas minúsculas divisões redondas a minha casa, a milhas e milhas da costa, totalmente sozinha. Decidi, então, investigar: vi fotografias, li livros, visitei museus e subi às torres de vários faróis, desde Nova Iorque à Terra Nova”, conta nas páginas finais do livro.
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A autora, Sophie Blackall, sempre se sentiu fascinada por faróis no mar (não será a única), por isso investigou e visitou muitos antes de escrever e desenhar este livro encantador. “Um dia, numa feira de velharias, reparei numa gravura que mostrava o interior de um farol. Fiquei a pensar como seria viver ali, fazer daquelas minúsculas divisões redondas a minha casa, a milhas e milhas da costa, totalmente sozinha. Decidi, então, investigar: vi fotografias, li livros, visitei museus e subi às torres de vários faróis, desde Nova Iorque à Terra Nova”, conta nas páginas finais do livro.
Foi assim que aprendeu como os faroleiros cuidavam da luz entre o pôr e o nascer do sol, acordando consecutivamente durante a noite e noite após noite. Tinham de subir e descer escadas vezes sem conta com baldes pesados, cheios de petróleo, para alimentar o fogo que indicaria o caminho aos marinheiros e pescadores. Esse e outros trabalhos duros e repetitivos são descritos e ilustrados pela autora.
Olá, Farol! é assim uma forma de homenagear a vida destes homens e de algumas mulheres (não tantas) vigilantes. Um livro que tanto pode ser desfrutado por crianças como por adultos.
“Chega o novo faroleiro para substituir o antigo e continuar a cuidar da luz. Ele limpa as lentes e acrescenta petróleo e apara a ponta queimada do pavio. Durante a noite, dá corda ao mecanismo que mantém o candeeiro em movimento. Durante o dia, pinta as divisões redondas com tinta verde-mar. Ele escreve no diário do farol, cose à mão e escuta o vento que se levanta lá fora.”
A repetição, a monotonia, a solidão, mas também a alegria, a solidariedade e o consolo moram nestas torres redondas que iluminam o mar e salvam vidas.
O protagonista deste livro teve, a partir de certa altura, a companhia da mulher, mas antes disso escreveu-lhe muitas cartas que atirou ao mar, na angústia da espera por uma resposta. A mulher foi içada por um guindaste do convés do navio para o farol, como era a prática de então quando o mar estava muito picado. Tanto para visitantes como para mantimentos.
O livro venceu a Medalha Caldecott em 2019, a segunda vez que Sophie Blackall foi distinguida com este prémio.
Representar o tumulto e a acalmia da natureza
A terminar, a autora informa: “Na década de 1920, os candeeiros a petróleo começaram a ser substituídos por luzes eléctricas; pouco depois, os mecanismos de relojoaria foram trocados por máquinas automáticas, e o trabalho de faroleiro chegou ao fim dos seus dias. Os faróis elevam-se agora vazios acima das ondas, mas as suas histórias continuam a brilhar.” Como esta.
“O barco da Marinha chega com uma luz novinha em folha e uma máquina que a faz funcionar. Não há candeeiro para encher, nem pavio para aparar. O trabalho do faroleiro terminou. Ele sobe até ao cimo da escada em caracol e fecha o diário do farol para sempre.”
As imagens luminosas da artista australiana, formada em Design e que trabalha em animação e ilustração para a imprensa, alternam entre o tumulto e a acalmia da natureza, mas também das personagens. E criam um ambiente muito realista. Se nos deixarmos levar, sentiremos a força do vento, o cheiro e o sabor do mar. A sal.