Pedro Rodrigues desafia Rio a demitir-se para PSD sair da “paralisia”

Para o antigo líder da JSD, “é urgente que o PSD ultrapasse o momento de negação em que mergulhou e inicie o seu processo de reorganização”.

Foto
O deputado social-democrata Pedro Rodrigues está de saída do Parlamento Rui Gaudencio

O deputado e antigo líder da JSD Pedro Rodrigues desafiou esta quinta-feira o presidente do partido, Rui Rio, a apresentar a sua demissão para que o partido ultrapasse o “estado de negação” e de “paralisia”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O deputado e antigo líder da JSD Pedro Rodrigues desafiou esta quinta-feira o presidente do partido, Rui Rio, a apresentar a sua demissão para que o partido ultrapasse o “estado de negação” e de “paralisia”.

Em declarações à Lusa, Pedro Rodrigues disse esperar que o conselho nacional do partido, que se reúne no sábado, “inicie o processo de reflexão que o partido precisa e que o presidente do PSD apresente a sua demissão de modo a permitir que o partido ultrapasse o estado de negação em que se encontra”.

“É urgente que o PSD ultrapasse o momento de negação em que mergulhou e inicie o seu processo de reorganização, o que não é compatível com a dúvida que persiste sobre quando Rui Rio apresentará a sua demissão. O silêncio de Rui Rio a esse propósito mantém o partido num estado de inadmissível paralisia”, criticou.

Na semana passada, Rui Rio – que já anunciou que deixará a liderança do PSD na sequência da derrota nas legislativas e manifestou disponibilidade para se manter no cargo, no máximo, até início de Julho – defendeu que o processo eleitoral para escolher o seu sucessor deve ser feito com “calma, serenidade e sem recurso a Xanax” (medicamento para controlar a ansiedade).

Questionado na altura sobre não haver ainda qualquer candidato assumido à liderança do PSD, o social-democrata considerou “normal” porque só podem existir candidatos quando o próprio formalizar a sua demissão. “Só pode haver candidatos quando eu formalizar a demissão”, vincou Rui Rio, cujo mandato só terminaria em Dezembro de 2023.

O ainda deputado Pedro Rodrigues (não voltará ao Parlamento na próxima legislatura) defendeu, logo no dia seguinte às legislativas de 30 de Janeiro, “a convocação urgente” de um congresso extraordinário para discutir a reconstrução do partido, centrado nas causas que conduziram ao resultado, e não em “soluções instantâneas de liderança”.

Questionado pela Lusa se irá formalizar essa proposta na reunião marcada para Barcelos, o deputado salientou que “tanto quanto é possível compreender” o conselho nacional “não se debruçará sobre o cronograma eleitoral, mas servirá para fazer uma reflexão sobre os resultados eleitorais”.

“Evidentemente que não me demitirei de participar activamente nessa discussão. No momento em que se colocar a questão da discussão do cronograma eleitoral, e em função da proposta que a direcção do partido fizer, ponderarei a apresentação formal da proposta de realização de um congresso extraordinário”, afirmou.

O deputado considerou que, primeiro, o PSD tem de “discutir as causas que conduziram a este divórcio com a sociedade portuguesa”. “Segundo, encontrar o cronograma que em função dessa reflexão melhor sirva os interesses do partido. Terceiro, decidir em função do resultado dos momentos anteriores quem se encontra em melhores condições para liderar o PSD neste período”, afirmou.

Para Pedro Rodrigues, “inverter a ordem de prioridades significará um erro com enormes consequências reforçando o estado de negação em que o partido se encontra”.

Na ordem de trabalhos do conselho nacional de sábado está a “análise dos resultados das eleições legislativas e da situação política e decisão sobre processo eleitoral para os órgãos nacionais do partido”.

Fonte da direcção confirmou à Lusa que a comissão política nacional (CPN) mantém a posição de não levar qualquer proposta de calendário de directas e congresso a Barcelos e defendeu que nem sequer poderá ser votada no sábado qualquer data, uma vez que tal não está incluído na ordem de trabalhos.

Ou seja, a marcação do calendário eleitoral interno, ainda que possa ser debatida no sábado, exigirá sempre um novo conselho nacional para votar os regulamentos das directas e congresso, cuja elaboração é da responsabilidade da CPN.

Caso os conselheiros concordem com o “timing” que foi apontado pelo presidente – saída em Julho –, o calendário poderia passar por realizar directas na primeira quinzena de Junho e Congresso duas a três semanas depois, caso em que só seria necessário reunir o Conselho Nacional novamente em Abril.

No entanto, a mesma fonte admitiu que se o “tom” dominante da reunião de Barcelos for que Rui Rio deverá sair mais cedo, a direcção pode convocar novo conselho nacional em dez dias e as directas para mês e meio depois (45 dias costuma ser o prazo necessário para cumprir todos os procedimentos).

Vários presidentes de distritais do PSD têm hoje um encontro, em Leiria, para tentar “consensualizar” uma posição antes do Conselho Nacional que se realiza no sábado, que poderá passar por uma recomendação de uma baliza temporal à direcção para a realização das directas e do congresso.