Sandra Guimarães e Vicente Todolí são os comissários convidados do festival PHotoEspaña 2022
A edição deste ano do festival decorre em Madrid e em várias sedes convidadas dentro e fora de Espanha, entre 1 de Junho e 28 de Agosto.
No ano em que o PHotoEspaña comemora um quarto de século, Sandra Guimarães, directora artística do espaço Bombas Gens Centre d’Art, em Valência, e Vicente Todolí, assessor da Colección Per Amor a l’Art, da mesma cidade, vão ser os comissários convidados do festival. Terão a missão de coordenar duas grandes exposições e um ciclo de debates orientados pelo tema Sculpting Reality.
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No ano em que o PHotoEspaña comemora um quarto de século, Sandra Guimarães, directora artística do espaço Bombas Gens Centre d’Art, em Valência, e Vicente Todolí, assessor da Colección Per Amor a l’Art, da mesma cidade, vão ser os comissários convidados do festival. Terão a missão de coordenar duas grandes exposições e um ciclo de debates orientados pelo tema Sculpting Reality.
O tema proposto por Guimarães e Todolí, que já trabalharam juntos no Museu de Serralves, no Porto, tem já um primeiro ensaio no Bombas Gens, com uma exposição (ainda a decorrer, até 1 de Setembro) que olha para a aproximação documental à fotografia a partir dos ricos fundos de imagem fotográfica da Colección Per Amor a l’Art, com 2629 obras de 221 autores. O programa proposto por esta dupla promete “uma reflexão sobre a fotografia de estilo documental como documento e como estética”, um campo teórico que tem alimentado algumas das mais interessantes propostas curatoriais dos últimos anos.
Um conceito cunhado por Walker Evans (1903-1975), o “estilo documental” na fotografia começou por estar ligado essencialmente à reportagem e ao fotojornalismo, que conheceram um enorme impulso a partir dos anos anos 1930 nos EUA, com o aparecimento de revistas de grande tiragem como a Life, a Look, a Fortune, a Vogue e a Harper’s Bazaar, ou outras mais restritas como a Collier’s, a Pageant e a Redbook, num tempo em que despontavam nomes como Garry Winogrand (1928-1984), Helen Levitt (1913-2009) e Robert Frank (1924-2019) e o colectivo Photo League (1936-1951), com uma fotografia socialmente comprometida. Este cordão umbilical ligado ao jornalismo haveria de conhecer um corte, com aproximações mais arrojadas e experimentais de que são exemplo os trabalhos de Lee Friedlander (1934) e Garry Winogrand, que fez dos horizontes tortos e das imagens sobrepovoadas, sem um protagonista muito evidente, imagens de marca.
Embora movido pela ambição de captar a realidade de forma “pura e transparente”, através de uma “straight photography”, este movimento que adopta o “estilo documental” não deixa de lado reflexões sobre a serialidade, a linha ténue que separa a encenação e a genuinidade, a ideia de arquivo e a subjectividade.
A ideia de um fotógrafo que aspira a representar a realidade como um escultor, abandonando (ou não mostrando) tudo o que não faz parte da obra final, está no centro do programa de Sandra Guimarães e Vicente Todolí, que no PHotoEspaña farão um percurso pela história da fotografia e pelo “estilo documental” deste suporte desde os anos 1930 até à actualidade. Segundo um comunicado da fundação Per Amor a L’Art, o tema Sculpting Reality foi buscar inspiração ao statement sobre o cinema de Andréi Tarkovski, que classificou o cineasta como alguém que “esculpe o tempo”.
No mesmo comunicado, Todolí sublinha o papel de Evans na afirmação da fotografia, lembrando a sua convicção de que esta “só era útil se transcendesse o sujeito e o objecto; [e de que] devia ser arte, não artística”. Já Sandra Guimarães, a segunda portuguesa a liderar as principais exposições do PHotoEspaña, depois de Sérgio Mah, que esteve à frente de três edições, entre 2008 e 2010, lembra que “o conceito de serialidade na arte é uma especificidade do meio fotográfico e está em vários artistas deste programa como estratégia para questionar e reflectir sobre o mundo que nos rodeia, sobre a realidade existente, complexa, cruel e bela”.
Sandra Guimarães é directora artística do Bombas Gens Centre d’Art desde 2020. Foi curadora do Museu de Serralves entre 1998 e 2010 e curadora-chefe do Remai Modern, em Saskatoon, no Canadá, entre 2015 e 2019, tendo trabalhado em exposições individuais e colectivas de artistas como Artur Barrio, Thomas Hirschhorn, Julião Sarmento, Rodney Graham, Luc Tuymans, Cindy Sherman, Jeff Wall, Stan Douglas e John Baldessari. Na edição do ano passado do PHotoEspaña comissariou, com Julia Castelló e Vicente Todolí, a exposição White Nights — Timm Rautert: Crazy Horse / Tod Papageorge: Studio 54.
Vicente Todolí, com formação em Geografia, em História e em História de Arte, com mais de 30 anos de experiência nas artes visuais, passou pelo Instituto Valenciano de Arte Moderno (IVAM, 1988-96), pelo Museu de Serralves (1996-2002), e pela Tate Modern (2003-2010). É director artístico do Pirelli Hangar Bicocca desde 2012 e presta assessoria a vários museus e fundações, entre as quais a Fundación Botín (Santander), a Fundació Per Amor a l’ Art (Valência) e a colecção Inelcom (Madrid).
A edição 2022 do PHotoEspaña decorre de 1 de Junho a 28 de Agosto.