Total adia regresso a Cabo Delgado por tempo indeterminado

CEO da empresa francesa diz que não vai relançar o projecto de exploração de gás enquanto “continuar a ver fotografias de campos de refugiados”. Em causa está também a falta de segurança dos trabalhadores.

Foto
Campo de deslocados em Metuge, na província de Cabo Delgado Paulo Pimenta

A empresa multinacional francesa de exploração de gás e petróleo TotalEnergies anunciou que não vai relançar o seu projecto na província de Cabo Delgado, em Moçambique, “até que todos os deslocados tenham regressado a casa”. O projecto Mozambique LNG, iniciado em 2019 e interrompido em 2021, com um investimento de 20 mil milhões de euros, só será retomado quando a Total tiver provas de que consegue operar sem ter constantes quebras de segurança.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A empresa multinacional francesa de exploração de gás e petróleo TotalEnergies anunciou que não vai relançar o seu projecto na província de Cabo Delgado, em Moçambique, “até que todos os deslocados tenham regressado a casa”. O projecto Mozambique LNG, iniciado em 2019 e interrompido em 2021, com um investimento de 20 mil milhões de euros, só será retomado quando a Total tiver provas de que consegue operar sem ter constantes quebras de segurança.

Patrick Pouyanne, presidente e CEO da empresa, garantiu que “jamais construirá uma fábrica numa zona constantemente cercada por soldados” e sublinhou que não existem quaisquer garantias de segurança para voltar a enviar pessoal para o Norte de Moçambique, onde se descobriu uma grande quantidade de gás natural em 2010.

“Sejamos claros, é uma guerra, e as forças de segurança ainda não controlam plenamente Cabo Delgado. A TotalEnergies só vai regressar quando a população civil estiver de volta às aldeias e com uma vida normal”, assegurou Pouyanne. “Não vou relançar o projecto enquanto continuar a ver fotografias de campos de refugiados e enquanto não tiver a certeza que seis meses depois não terei de retirar novamente”, acrescentou.

A empresa, até há pouco tempo empenhada em colaborar com as comunidades moçambicanas e com o Governo para desenvolver os recursos com segurança ambiental e frutos económicos para o país, revela agora que “devolverá o dinheiro” e “travará as cartas de crédito”. Pouyanne garantiu à agência France-Presse que esta decisão não se deve a qualquer problema de aproveitamento financeiro, mas sim a questões humanitárias e de segurança.

A mensagem do responsável da Total é dirigida ao Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, que na óptica da empresa falhou com as promessas de segurança que havia feito. Palma, vila da província de Cabo Delgado, foi atacada a 24 de Março do ano passado, poucas horas depois da TotalEnergies ter divulgado um comunicado a dizer que só operaria com base numa promessa de segurança por parte de Nyusi. Na altura, a empresa francesa retirou todo o seu pessoal da área e agora diz que não lhe bastam apenas promessas, mas sim provas efectivas do final do conflito.

A decisão da Total afecta o possível aproveitamento das grandes quantidades de gás natural na zona de Cabo Delgado e as vantagens financeiras que poderia trazer a Moçambique. A construção da fábrica de liquidificação de gás extraído do fundo do mar, a acontecer, constituirá o maior investimento privado recente em África.