NATO não acredita no recuo russo e quer reforçar presença na Europa do Leste
Jens Stoltenberg anunciou que a Aliança Atlântica está a estudar a possibilidade de instalar grupos de combate em países como a Roménia, Hungria, Bulgária e Eslováquia.
A NATO está a ponderar aumentar a sua presença permanente no flanco Leste para conter a ameaça militar russa, que o secretário-geral, Jens Stoltenberg, diz ser “o novo normal” na segurança europeia. Moscovo reiterou a intenção de fazer recuar algumas das tropas deslocadas para perto da fronteira com a Ucrânia, mas o Ocidente garante que ainda não verificou qualquer alteração.
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A NATO está a ponderar aumentar a sua presença permanente no flanco Leste para conter a ameaça militar russa, que o secretário-geral, Jens Stoltenberg, diz ser “o novo normal” na segurança europeia. Moscovo reiterou a intenção de fazer recuar algumas das tropas deslocadas para perto da fronteira com a Ucrânia, mas o Ocidente garante que ainda não verificou qualquer alteração.
Na Ucrânia, epicentro da crise de segurança na Europa, esta quarta-feira foi rotulada pelo Presidente, Volodimir Zelensky, como o “dia da unidade”, em que se multiplicaram iniciativas largamente simbólicas para mostrar à Rússia e ao mundo que os ucranianos estão preparados para defender o seu território. “Não receamos previsões, não temos medo de ninguém, de nenhuns inimigos. Iremos defender-nos”, declarou Zelensky, vestido com uniforme militar, durante um discurso na cidade na cidade costeira de Mariupol, próxima da linha da frente do conflito contra os separatistas pró-russos, que desde 2014 já causou mais de 14 mil mortos.
No início da semana, Zelensky tinha deixado um apelo dramático aos ucranianos para saírem às ruas esta quarta-feira com as cores nacionais, azul e amarelo, para mostrar a unidade do país no dia para o qual os serviços de informação norte-americanos antecipavam o início de uma ofensiva russa no país.
Na verdade, Moscovo tem declarado que não pretende invadir a Ucrânia, embora não exclua uma resposta militar caso os seus interesses no país sejam atacados – particularmente a população russófona do Leste ou as autoridades separatistas apoiadas pelo Kremlin.
Esta quarta-feira, o Ministério da Defesa declarou oficialmente terminados os exercícios militares na Península da Crimeia, anexada em 2014 pela Rússia, e ordenou a retirada de mais efectivos que se encontravam perto da fronteira ucraniana. “As unidades do Distrito Militar do Sul, que completaram a participação em exercícios tácticos, estão a retirar, através da ferrovia, para as suas posições permanentes. O pessoal colocou veículos blindados – incluindo tanques, veículos de combate de infantaria e equipamento autopropulsionado de artilharia – nas plataformas ferroviárias e nas estações rodoviárias”, informou o Ministério da Defesa às primeiras horas da manhã.
Na véspera, o Governo russo já tinha anunciado o regresso de soldados às bases respectivas, naquele que foi o primeiro sinal que contrariou a tendência das últimas semanas de acumulação de forças russas junto à fronteira ucraniana.
No entanto, o Ocidente mantém as suas reservas quanto à veracidade dos anúncios russos e exige a verificação efectiva do recuo. Moscovo tem divulgado algumas imagens de tropas e veículos blindados a serem transportados, mas não refere mais pormenores como o número exacto de tropas que está a fazer recuar ou o seu destino.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, disse à Reuters que as informações que tem disponíveis não lhe permitem concluir que tenha havido qualquer retirada. “Isto não é confirmado nem pelas informações dos serviços de informação ucranianos nem pela comunidade de informações dos nossos parceiros estratégicos”, afirmou.
Um dos receios em Kiev é de que a aparente retirada seja apenas uma “migração” de tropas e armamento para outras zonas próximas da fronteira ucraniana, o que mantém a pressão sobre o país. “Todas as tropas que foram trazidas devem regressar aos seus pontos permanentes de mobilização. Aí tornar-se-á claro que [os russos] revogaram os seus planos agressivos”, disse Reznikov.
Com os níveis de confiança entre a Rússia e o Ocidente a atingirem um dos pontos mais baixos das últimas décadas, ninguém parece querer arriscar. O aviso mais sério veio da NATO, que não só voltou a contrariar os anúncios de um recuo militar russo como acusou Moscovo de estar a aumentar o número de tropas perto da fronteira ucraniana. “Até agora, não há um recuo”, afirmou Stoltenberg.
O secretário-geral da NATO considera que a Europa está a viver um “novo normal” com a pressão militar russa perto das fronteiras da Ucrânia e da própria aliança. “O novo normal é que a Rússia demonstrou que está realmente disposta a contestar alguns dos princípios fundamentais da nossa segurança, o direito de cada nação escolher o seu caminho”, declarou. Moscovo tem exigido que a NATO se comprometa a não aceitar a adesão da Ucrânia à Aliança – algo que os EUA e os seus aliados já fizeram saber que recusam.
Esse comportamento levou os ministros da Defesa da NATO, reunidos em Bruxelas esta quarta-feira, a manifestar a intenção de estudar a instalação de grupos de combate em países como a Roménia, Bulgária, Hungria e Eslováquia, que possam “fortalecer as capacidades de dissuasão e defesa” da Aliança. Se a ideia prosperar, trata-se da maior alteração da postura da NATO na Europa do Leste desde que a presença militar foi reforçada na Polónia e nos países bálticos, após a anexação da Crimeia.