Investigadores da Universidade do Porto descodificam genoma da cavala

A sequenciação do genoma da cavala permitirá conhecer melhor e proteger de forma sustentável esta espécie, bem como perceber a sua adaptação aos efeitos das alterações climáticas.

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Cavalas Rui Soares

Cientistas do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar) da Universidade do Porto descodificaram, recorrendo a tecnologias de nova geração, o genoma da cavala, o que permitirá conhecer e proteger de forma sustentável esta espécie explorada comercialmente em Portugal.

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Cientistas do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar) da Universidade do Porto descodificaram, recorrendo a tecnologias de nova geração, o genoma da cavala, o que permitirá conhecer e proteger de forma sustentável esta espécie explorada comercialmente em Portugal.

“Temos no Ciimar um projecto ambicioso que passa por fazer a sequenciação do genoma de uma série de espécies marinhas muito relevantes do ponto de vista económico e social”, afirmou Filipe Castro, investigador do Ciimar e docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Depois de em 2018 a equipa de investigadores se ter debruçado sobre a biologia da sardinha, sequenciado o seu genoma, recorreu agora a “tecnologias de nova geração” para produzir o primeiro genoma da cavala, tendo o artigo sido publicado na revista científica Gigabyte.

Em declarações à agência Lusa, Filipe Castro esclareceu que a cavala é uma espécie “muito relevante do ponto de vista das descargas dos portos nacionais” e que, em 2020, foi o peixe com “maior volume de captura”. “É um peixe muito importante, provavelmente menos apreciado do ponto de vista económico, mas que tem tido aplicações interessantes em conservas e por chefs”, observou o investigador, acrescentando que, comparativamente ao genoma da sardinha, esta descodificação representa um “avanço” a nível tecnológico.

“O que esta revolução nas tecnologias de sequenciação permitiu foi passarmos de um puzzle de muitas peças para um de poucas peças, em que o erro cai abruptamente”, referiu ainda Filipe Castro.

Também à Lusa, André Machado, principal autor do estudo, esclareceu que na sequenciação do genoma da cavala foram utilizadas “pequenas peças de leitura”, o que tornou mais simples a montagem. “Em vez de utilizarmos peças muito pequenas, em que tínhamos de estar a montá-las com softwares muito exaustivos, usamos peças maiores para as quais é preciso menos recursos computacionais e conseguimos ter uma montagem mais limpa, porque é uma montagem directa de peças grandes”, disse, salientando que o avanço científico “acelerou bastante a descodificação”.

“Algo que se fazia entre oito meses e um ano, agora faz-se num mês, no máximo, dois meses”, salientou André Machado.

Segundo os investigadores, a tecnologia usada para a sequenciação do genoma da cavala acelerará o estudo da informação genética de outras espécies, nomeadamente das que fazem parte “do imaginário das espécies portuguesas e que são exploradas comercialmente”, como a faneca e a sarda.

A sequenciação do genoma da cavala abre também portas à investigação científica, ao permitir conhecer e proteger de forma sustentável esta espécie, bem como perceber a sua adaptação aos efeitos das alterações climáticas, como a mudança de temperatura, e a resistência a químicos.

“Este primeiro recurso é essencial para estudar a biologia, mas, mais do que isso, agora os próximos passos que iremos dar é começar a trabalhar no detalhe e nos genes que existem e como é que conseguem fazer com que o organismo se adapte mais ou menos à adversidade”, referiu André Machado.

Filipe Castro sublinhou que “este é um dos vários exemplos de como a ciência pode e deve ser posta ao serviço da sociedade e da economia”. “Não podemos explorar os recursos sem os conhecer. Temos um livro de instruções que nos permite proteger de forma sustentável esta espécie.”