Adalberto Dias sobre o Funicular dos Guindais, “uma arquitectura em movimento”

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O podcast No País dos Arquitectos está de regresso com uma terceira temporada. No 27.º episódio, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Adalberto Dias sobre o Funicular dos Guindais e os principais objectivos deste projecto, que foi construído na sequência do programa de intervenção urbana da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura.

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O podcast No País dos Arquitectos está de regresso com uma terceira temporada. No 27.º episódio, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Adalberto Dias sobre o Funicular dos Guindais e os principais objectivos deste projecto, que foi construído na sequência do programa de intervenção urbana da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura.

No lugar do Elevador dos Guindais houve, no século XIX, outro funicular a funcionar. Previa-se que este fosse o primeiro de uma série de transportes semelhantes a serem construídos no Porto, em zonas de grande desnível, com vista a fomentar “o desenvolvimento da cidade” e “a introdução de comodidade, eficácia e rapidez” na ligação entre diferentes partes da cidade. No entanto, dois anos após o seu funcionamento, um inesperado acidente ditou o seu encerramento.

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No ano de 2003, no âmbito do plano de reabilitação urbana do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, o arquitecto Adalberto Dias propõe um novo Funicular nos Guindais, com vista “a reposição da actividade urbana na própria encosta”. Como este território conheceu profundas transformações urbanas ao longo da sua história, o arquitecto teve de responder a vários desafios. Por um lado havia a cidade a duas cotas e a necessidade de ouvir o testemunho do tempo e da preexistência; por outro, existia a necessidade de uma estrutura que ligaria a área de intervenção com a rede urbana como um todo.

O novo Funicular dos Guindais entrou em funcionamento, em 2004. Durante a entrevista, o arquitecto esclarece que um dos principais focos foi enquadrar o equipamento num sistema integrado de ligações mecanizadas, articulando acessos entre os diferentes meios de transporte (metro, eléctrico e autocarro).

Hoje sabemos que o seu carácter de interface facilitou o trânsito no centro histórico: “Uma das razões da reposição e desta nova construção do funicular foi a possibilidade de este sistema ligar-se a outros sistemas”. Mais do que um meio de transporte, Adalberto Dias fez uma máquina que permite que as pessoas se movam e que vence a força da gravidade. Na cota alta situa-se a estação da montanha, que se desenvolve sob a rua Augusto Rosa, na Praça da Batalha; na cota baixa, na zona ribeirinha, situa-se a estação do vale, frente à saída do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I, na Avenida Gustave Eiffel.

Este sistema, que outrora operava através de um motor a vapor, é actualmente movido por tracção eléctrica e possui dois veículos de cabine panorâmica. A meio do percurso, a linha divide-se em duas bifurcações, permitindo o cruzamento das duas cabines em simultâneo. Sabendo de antemão que “a energia que é necessária para movimentar o sistema é gigantesca”, houve uma grande preocupação para garantir a eficácia do mesmo, não esquecendo nunca o enquadramento visual sobre a paisagem.

Como sistemas desta natureza escasseiam no território nacional, o arquitecto visitou outras estruturas semelhantes, na Itália e na Suíça, onde foi buscar inspiração. Independentemente da fonte e das possíveis referências, Adalberto Dias acredita que a arquitectura abre múltiplos caminhos: “A arquitectura tem muitas expressões e, em certo sentido, não tem limites. É infinita. Nós, arquitectos, temos de ser suficientemente maleáveis e ter espírito aberto para encontrar as soluções adequadas a cada espaço ou para cada tipo de utilização, que somos convidados a resolver. Não há dois sítios iguais. Não há dois projectos iguais. Não há dois programas iguais. Quer dizer, pode haver dois programas iguais, mas os dois programas iguais, como acontecem em terrenos diferentes, em circunstâncias diferentes, originam projectos completamente diferentes”, sublinha.

Durante a entrevista, o arquitecto foi ainda desafiado a descrever o percurso, que dura apenas três minutos e que tantos gostariam que “tivesse o dobro ou o triplo do tempo”. Mas vamos por partes, até porque como o próprio arquitecto sublinha “o Funicular dos Guindais é, em certo sentido, uma arquitectura em movimento”. Apelando à descida, em vez da subida, o arquitecto sugere que o trajecto se faça pela zona da Batalha, onde acedemos à estação do funicular. Esta “estação subterrânea” é, segundo o arquitecto, “uma espécie de gruta com pé direito duplo” que abriga “uma luz suave”.

O funicular, com inclinação de 45 graus – “a maior inclinação possível que até há poucos anos era autorizada nestes trajectos” – faz o seu percurso sobre uma estrutura metálica em viaduto, que acompanha o perfil íngreme da encosta. O percurso inicia num túnel e poucos segundos depois avança para a encosta. A meio do trilho, o passageiro “caminha ou levita essa encosta”, com uma paisagem única sobre o rio Douro, a Ponte Luís I e a Muralha Fernandina. No último momento da viagem, o funicular move-se para “a antiga portagem do tabuleiro inferior da ponte”. E é esse mesmo local que convida as pessoas a atravessarem “a ponte”, a percorrerem “a cidade de Vila Nova de Gaia” e “as Caves do Vinho do Porto”.

Com o percurso terminado, a nossa conversa também se aproxima do fim, mas Adalberto Dias não se despede sem antes lembrar uma pequena curiosidade e conta que, em determinado momento do projecto, um engenheiro alertou para a necessidade de “fazer ventilações naturais” - ventilações essas que “tinham de corresponder a determinado tipo de métrica e de ritmo”. Como o arquitecto queria evitar “o excesso de mecanismos eléctricos”, optou por criar chaminés: “Na altura em que desenhámos essas pequenas chaminés, em cima do túnel, percebemos que elas se assemelhavam à garrafa de vinho do Porto. Começámos a divertir-nos com isso e verificámos que a secção do túnel era uma espécie de homenagem ao vinho do Porto e ao rio Douro. No fundo, era um sistema que unia a cidade ao rio”, lembra.

No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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