Associações criticam ligação entre autismo e violência no ataque evitado à FCUL
As referências, em várias notícias, ao jovem detido como tendo síndrome de Asperger, “podem comprometer anos de luta pela inclusão das pessoas com autismo na sociedade”, alertam. Violência e agressividade não são características desta condição médica.
A Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA) e a Federação Portuguesa de Autismo (FPA) criticam a associação entre a síndrome de Asperger, da qual sofrerá o estudante de Engenharia Informática detido quando, alegadamente, preparava um ataque contra colegas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e os comportamentos violentos descritos pelas autoridades no processo que o levou a prisão preventiva no final da semana passada.
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A Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA) e a Federação Portuguesa de Autismo (FPA) criticam a associação entre a síndrome de Asperger, da qual sofrerá o estudante de Engenharia Informática detido quando, alegadamente, preparava um ataque contra colegas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e os comportamentos violentos descritos pelas autoridades no processo que o levou a prisão preventiva no final da semana passada.
“A violência e a agressividade não são características da síndrome de Asperger”, vinca a APSA, em comunicado, pelo “que não pode ser feita qualquer associação directa entre os actos de violência descritos pela comunicação social e esta síndrome”.
“Não faz parte de qualquer forma de autismo a existência de comportamentos sociopatas”, afirma, por seu turno, a FPA. Aquela organização acrescenta também que “dizer que uma pessoa autista é sociopata é o mesmo que dizer que uma pessoa de uma determinada raça, etnia ou que um jornalista, um político, um juiz ou um médico é sociopata”. Isto é, explicam também, “sociopatas podem existir em qualquer grupo ou profissão”.
Enquanto o autismo é uma alteração do neurodesenvolvimento, a sociopatia “é um distúrbio da personalidade, caracterizada por comportamentos anti-sociais”, esclarece a FPA, lembrando que as pessoas com perturbações do espectro de Autismo, como é o caso da síndrome de Asperger são, mais frequentemente do que perpetradores, elas mesmas “vítimas de violência e de bullying ao longo da sua vida”.
A FPA considera “criticável” a referência, em várias notícias, ao jovem como tendo “síndrome de Asperger”. A existência de notícias que associam Asperger e actos de violência “podem comprometer anos de luta pela inclusão das pessoas com autismo na sociedade”, alerta a associação.
A Síndrome de Asperger é uma forma de autismo que nas classificações mais recentes (DSM 5 de 2013 e ICD11 da OMS, que entrou em vigor no início deste ano) deixou de ser considerada como uma entidade independente, tratando-se antes de uma situação de Autismo sem alteração do desenvolvimento intelectual e com linguagem normal ou apenas ligeiramente afectada. O Autismo é uma condição em que há uma alteração do neurodesenvolvimento criando pessoas “neuro-diversas”, mantendo-se essa condição desde o nascimento até à morte.
A Síndrome de Asperger manifesta-se, sobretudo, por alterações na interacção social, na comunicação e no comportamento, explica a APSA no seu comunicado. As manifestações mais frequentes são alterações dos padrões de comunicação verbal e não-verbal ou uma atenção muito focalizada em interesses específicos.
“São sinais habituais de Síndrome de Asperger a dificuldade em estabelecer contacto ocular, a interpretação literal da linguagem ou a dificuldade em entender e expressar emoções”, mas nunca manifestações de violência, destacam.
O jovem aluno de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa suspeito de planear um ataque para matar os colegas esta sexta-feira ficou em prisão preventiva. As autoridades encaram-no como uma pessoa perturbada. Depois de ter dado entrada no Estabelecimento Prisional de Lisboa acabou por ser transferido para a zona de psiquiatria do hospital-prisão de Caxias.