E se a lã das ovelhas fosse transformada em pellets para fertilizar o solo?
Projecto Boa Terra foi apresentado ao Parque Natural da Serra de São Mamede e foi criado por um casal alemão. A “grande vantagem” é que aproveita um subproduto do animal que, frequentemente, “não tem valor, não é utilizado”.
Uma empresa pretende desenvolver, em Castelo de Vide (Portalegre), um projecto considerado “pioneiro” em Portugal que prevê a transformação da lã de ovinos e caprinos em fertilizantes biológicos para o solo, na forma de pellets.
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Uma empresa pretende desenvolver, em Castelo de Vide (Portalegre), um projecto considerado “pioneiro” em Portugal que prevê a transformação da lã de ovinos e caprinos em fertilizantes biológicos para o solo, na forma de pellets.
O presidente da comissão de co-gestão do Parque Natural da Serra de São Mamede (PNSSM), António Pita, explicou à agência Lusa que o projecto, denominado Boa Terra, foi apresentado àquela entidade por um casal alemão que reside naquela área protegida. “O casal vive em Marvão, há cerca de um ano, e apresentou à comissão este projecto muito simples, mas pioneiro no país”, que já existe em países como a Alemanha, revelou. O projecto, “basicamente, aproveita a lã dos animais de abate transformando-a em pellets como fertilizantes do solo”, acrescentou.
Para António Pita, que é também presidente da Câmara de Castelo de Vide, a “grande vantagem” desta iniciativa passa pelo aproveitamento de um subproduto do animal que, frequentemente, “não tem valor, não é utilizado”, e que, assim, passa a ser aplicado como um factor “extremamente positivo” no solo.
Contactado pela Lusa, o porta-voz da empresa, Ricardo Oliveira, explicou que a lã é transformada em fertilizantes biológicos através de uma máquina que tritura esse produto de origem animal. “A máquina vai triturar a lã em bocadinhos, entre os quatro e sete milímetros”, indicou, referindo que o produto é, depois, “compactado a alta pressão e higienizado a uma temperatura de 100 graus”.
Ricardo Oliveira explicou ainda que o produto pode, a seguir, ser aplicado directamente no solo, embora “o ideal” passe por efectuar uma pequena lavoura no solo, com uma profundidade de “entre três a quatro centímetros”. De acordo com o responsável, o projecto envolve um investimento “abaixo dos 250 mil euros” e deverá estar em pleno funcionamento a partir de Junho, devendo criar “quatro a cinco postos de trabalho”.
O presidente da comissão de co-gestão do PNSSM considerou que o projecto tem “o grande mérito” de cumprir com princípios de sustentabilidade ambiental, sem que sejam produzidos “quaisquer resíduos nefastos” para o ambiente. A empresa encontra-se nesta fase a obter os respectivos licenciamentos e espera obter a certificação de produto sustentável e biológico.
“O PNSSM vê com bons olhos” a vinda para a região deste “tipo de projectos”, sobretudo os que possam ter “o selo natural.pt, que é um selo ambiental de um produto feito numa área protegida”, disse António Pita.
Na mesma reunião da comissão de co-gestão do PNSSM onde o Boa Terra foi apresentado, estiveram presentes representantes do Instituto Politécnico de Portalegre, tendo sido “manifestado interesse” em colaborar, no futuro, com esta iniciativa. Segundo o representante do casal alemão promotor, nesta fase, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está a desenvolver um estudo para que a empresa possa obter o certificado para o uso da lã no solo.