O amor é a forma mais bela de sentir

Hoje é dia de celebrar o amor entre duas pessoas que o destino fez questão de juntar. E, embora na verdade não saiba bem o que é o amor do “felizes para sempre”, dos contos de fadas, gosto de observar os pequenos gestos à minha volta.

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"Talvez, um dia numa esquina da vida, quem sabe!" Scott Broome/Unsplash

Há muitos anos, era eu adolescente, gostava muito das frases do “Amor é”, um cartoon em que um menino e uma menina trocavam entre si gestos muito simples de amor. Nessa altura não se celebrava o dia de São Valentim, tradição importada por motivos comerciais, e que se enraizou entre nós vincadamente.

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Há muitos anos, era eu adolescente, gostava muito das frases do “Amor é”, um cartoon em que um menino e uma menina trocavam entre si gestos muito simples de amor. Nessa altura não se celebrava o dia de São Valentim, tradição importada por motivos comerciais, e que se enraizou entre nós vincadamente.

É bonito falar de amor. O amor é, tenho a certeza, a forma mais bela de sentir. Mas existem muitas formas de amar. Amamos os pais, amamos os filhos. No fundo também é uma espécie de amor o sentimento pelos nossos amigos verdadeiros, e espalhamos amor quando ajudamos alguém, conhecendo-o ou não.

Várias vezes recebi gestos espontâneos de amor dos meninos que sigo em consultas de pediatria, com olhares que me tocam o coração, beijinhos de despedida depois do choro inconsolável enquanto a doutora examinava com aparelhos assustadores, desenhos que me fizeram questão de trazer muitos meninos que conheço desde que nasceram quando aprendem a desenhar.

Gestos de amor dos seus pais, alguns com pequenos mimos que me enchem a alma com a sensação de ter ganho o dia ou mesmo os simples “ obrigado doutora”, quando os consigo ajudar a tratar dos seus filhos.

Os filhos são mestres em nos dar amor, aquele amor que nos dá sentido à vida, em abraços onde os transportamos outra vez para o calor morno do ventre, em bilhetes deixados de surpresa pela casa, em frases como “que bom está o jantar” quando até é feito à pressa, mas mais caprichado do que nos dias de semana em que o tempo é demasiado escasso e sou elevada à qualidade de excelente cozinheira, com promessas para mim mesma de me empenhar mais para merecer tal elogio.

Quando os nossos filhos estão doentes sentimos a dor dentro de nós. Quantas vezes me lembro de pensar que era eu que devia ter a dor de garganta ou de barriga em vez de um dos meus filhos. Dava a vida por cada um deles, e isso tenho a certeza que é amor.

O amor puro entre pais e filhos é, na minha opinião, o único incondicional. A vida também me foi ensinando, seja por experiência própria, seja por outras histórias, o que o amor não é. E se hoje se celebra o amor, independentemente do objectivo de mercado que marcou este dia na nossa agenda humana, é para ser celebrado, seja qual for a sua forma de expressão.

Há alguns anos, quando eu me insurgia radicalmente contra “dias de...”, e nem o meu aniversário queria comemorar — passada a euforia infantil dessa idade, chega uma outra idade em que a sociedade imprime na mulher o peso dos anos e “até parece mal” perguntar a uma senhora quantos anos tem —, o meu pai, que todos os anos me telefona à hora que nasci, respondeu-me que era importante assinalar a data com alegria, porque fazer anos era sinónimo de estarmos vivos, e nesse dia, se celebrava a vida.

Desde então, valorizo os “dias de...”. Hoje é dia de celebrar o amor entre duas pessoas que o destino fez questão de juntar. E, embora na verdade não saiba bem o que é o amor do “felizes para sempre”, dos contos de fadas, gosto de observar os pequenos gestos à minha volta.

Não propriamente as imagens que se sucedem nas redes sociais de casalinhos apaixonados em selfies forçadas, que fazem muita questão de mostrar ao mundo o quão felizes são. Mas aqueles pormenores mais escondidos, dos que passeiam abraçados no parque, ou de mãos dadas, sejam adolescentes na flor da idade que trocaram hoje o primeiro beijo, sejam os que pela sabedoria dos cabelos brancos que lhes emolduram o rosto ainda trocam olhares cúmplices, sem precisarem de palavras, e completamente alheios ao que os rodeia, suspensos num sentimento de amor que preservam, e há muitos anos tiveram a sorte de encontrar.

O verdadeiro amor entre duas pessoas que uniram corações fundidos num só, até que a morte os separe, permanece para mim uma utopia. Mas como humana sonhadora, gosto de acreditar na utopia. Talvez, um dia numa esquina da vida, quem sabe!

Convencionalismos à parte, clichés postos de lado, estou rodeada de amor, tanto no que se espalha no ar primaveril deste 14 de Fevereiro, entre tantas pessoas de coração genuinamente apaixonado, como de outras formas de amor que tenho a sorte de poder sentir.

E talvez esse amor de outras formas, seja entre pais e filhos, amigos, meninos nas consultas, ou entre duas pessoas sem a expectativa do “felizes para sempre”, mas que aproveitam momentos da vida para demonstrar amor nos pequenos gestos, e lhes é suficiente sentir o coração descontrolado em instantes que conseguem partilhar, seja o verdadeiro amor. Talvez…