As estradas perdidas do abstraccionismo

De Hitchcock a Lynch, de Antonioni a Carax, uma viagem pelas estradas perdidas do abstraccionismo. Com os apocalípticos pássaros observando.

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Psico conta-nos uma história na primeira meia hora, para depois passar a contar outra. A personagem principal, que começamos a seguir no início, com o roubo e a fuga que seguimos de perto, servem só para que a sua morte seja para nós muito mais brutal e violenta Bettmann/Getty Images

Em 1989, ano em que entrei para o curso de cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema, estreou O Sangue, primeiro filme de Pedro Costa, que nos marcou. Era um filme a que a Escola de Cinema estava ligada, ainda que lateralmente. Fui vê-lo com amigos que não eram do curso. Havia algo atractivo no trailer, que eles viram na televisão, e por isso acederam a ir ver um filme português. Não era comum. Oliveira tinha um estigma e havia todos os clichés do cinema português parado e sem acção muito presentes. O Sangue parecia contrariar isso. Não era um filme de acção, mas havia ali uma dinâmica forte, um movimento evidente e não era um filme “declamado”. Se para mim e para os meus colegas da Escola de Cinema foi uma revelação (aquelas personagens falavam como nós e pareciam existir num universo que se não era o nosso, era ali ao lado e eram filmadas num preto e branco deslumbrante), foi uma desilusão para os meus amigos. A narrativa ficava em aberto, deixando no ar a resolução de um conflito e de um problema em que as personagens estavam enredadas. Os irmãos continuavam separados, as dívidas por pagar, os “bandidos” continuavam a perseguir os “heróis”. Por mais que eu argumentasse que a obra não precisava de se explicar totalmente, foi estranho para os meus amigos.

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Em 1989, ano em que entrei para o curso de cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema, estreou O Sangue, primeiro filme de Pedro Costa, que nos marcou. Era um filme a que a Escola de Cinema estava ligada, ainda que lateralmente. Fui vê-lo com amigos que não eram do curso. Havia algo atractivo no trailer, que eles viram na televisão, e por isso acederam a ir ver um filme português. Não era comum. Oliveira tinha um estigma e havia todos os clichés do cinema português parado e sem acção muito presentes. O Sangue parecia contrariar isso. Não era um filme de acção, mas havia ali uma dinâmica forte, um movimento evidente e não era um filme “declamado”. Se para mim e para os meus colegas da Escola de Cinema foi uma revelação (aquelas personagens falavam como nós e pareciam existir num universo que se não era o nosso, era ali ao lado e eram filmadas num preto e branco deslumbrante), foi uma desilusão para os meus amigos. A narrativa ficava em aberto, deixando no ar a resolução de um conflito e de um problema em que as personagens estavam enredadas. Os irmãos continuavam separados, as dívidas por pagar, os “bandidos” continuavam a perseguir os “heróis”. Por mais que eu argumentasse que a obra não precisava de se explicar totalmente, foi estranho para os meus amigos.