Uma noite templária na cidade de Tomar
“Assalto ao Castelo”! A leitora Inês Gomes sugere um passeio por Tomar e recorda um espectáculo em que se evoca a história milenar da cidade templária.
Nesta cidade nasceu, cresceu e viveu a minha família. Sempre a visitei desde pequena, pois a minha avó tem a sua casa numa aldeia dos arredores, onde costumo ir passar o Verão e alguns fins-de-semana. Tomar é calma e bonita. Para além de árvores e flores, tem também monumentos que contam a história não só de Tomar como de Portugal.
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Nesta cidade nasceu, cresceu e viveu a minha família. Sempre a visitei desde pequena, pois a minha avó tem a sua casa numa aldeia dos arredores, onde costumo ir passar o Verão e alguns fins-de-semana. Tomar é calma e bonita. Para além de árvores e flores, tem também monumentos que contam a história não só de Tomar como de Portugal.
Numa noite de sexta-feira, eu e a minha família fomos à cidade ver o “Assalto ao Castelo”, uma celebração de que já tínhamos ouvido falar mas que ainda não conhecíamos. Nesta celebração, muitos habitantes da cidade do Nabão organizam uma dramatização em que representam o ataque dos mouros ao castelo, de que os portugueses saíram vitoriosos. Essa vitória permitiu que os mouros não ocupassem o território da actual cidade e, por isso, os cavaleiros templários caminharam nos seus cavalos até à Igreja de Santa Maria do Olival, para agradecer o triunfo naquele conflito.
O cortejo até à igreja seria representado na noite seguinte. Como era noite de fim-de-semana, via-se uma multidão. Miúdos e graúdos usavam roupas e acessórios medievais e ouviam-se pelas ruas músicas da época. A cidade inteira aparentava estar de volta ao século XII e o ambiente que se criara era de animação e festejos. No Parque do Mouchão, atravessado pelo rio Nabão, havia uma feira medieval, onde se vendiam lembranças e se entretinham crianças e adultos.
Subimos até ao castelo, situado no ponto mais alto da cidade, e esperámos até à hora do começo das hostilidades. Enquanto aguardávamos, fomos encontrando familiares e amigos da aldeia que nos disseram que outros iriam representar a respectiva freguesia no cortejo, o que me deixou logo animada por saber que conhecidos meus entrariam naquele evento. Isso fazia com que me sentisse parte da cidade.
Vimos várias pessoas vestidas com trajes medievais e tochas nas mãos a sair pelos grandes portões do castelo. À frente seguia um cavaleiro com a bandeira da freguesia e, atrás, cavaleiros com os seus cavalos e aguadeiras que caminhavam em silêncio. A multidão observava aquele espectáculo emocionante, permanecendo no lugar, enquanto todos esperavam poder seguir atrás do cortejo.
Quando, finalmente, todas as freguesias saíram do castelo, os que assistiam moviam-se na azáfama de encontrar um bom lugar adiante, para poder ver o cortejo novamente. Alguns filmavam, outros acenavam entusiasmados para aqueles que reconheciam no cortejo, mas os que encarnavam personagens permaneciam no seu papel, ouvindo-se apenas uma música de fundo que ecoava pela cidade e os cascos dos cavalos a bater no chão.
Por fim, chegadas ao adro da igreja, as várias freguesias ocuparam o seu lugar e o pároco deu a bênção. Um dos cavaleiros ergueu a tocha e ateou fogo à grande cruz templária formada no chão do adro da igreja onde Gualdim Pais, fundador de Tomar, se encontra sepultado. Fogo-de-artifício surgiu no céu limpo daquela noite e todos olharam alegres para o espectáculo de luzes e cores, naquele que era o festejo do fundador da cidade templária.
Inês Gomes