“Quando há violência acabou o amor”

O Dia dos Namorados assinala-se na próxima segunda-feira e a última Conversa Ímpar, que pode ser vista no site e nas redes sociais do PÚBLICO, foi sobre o amor.

Foto
Por vezes, há casais que estão juntos mas já se divorciaram há muito, alerta Eduardo Sá Nuno Ferreira Santos/Arquivo

No princípio, a descoberta do amor pode dar as tais borboletas na barriga, admite o psicólogo Eduardo Sá. Ou não, diz a psicóloga Luana Cunha Ferreira, afinal tudo depende das nossas experiências, do que trazemos de outras relações, justifica. São muitos os conceitos e definições de amor, mas este não é violência, salvaguardam os especialistas, secundados pelo padre jesuíta Paulo Duarte, que lembra uma frase que ainda se ouve — “O amor tudo aguenta”. Não, responde, e é peremptório: “Quando há violência, acabou o amor.” O Dia dos Namorados assinala-se na próxima segunda-feira e a última Conversa Ímpar, que pode ser vista no site e nas redes sociais do PÚBLICO, foi sobre o amor.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No princípio, a descoberta do amor pode dar as tais borboletas na barriga, admite o psicólogo Eduardo Sá. Ou não, diz a psicóloga Luana Cunha Ferreira, afinal tudo depende das nossas experiências, do que trazemos de outras relações, justifica. São muitos os conceitos e definições de amor, mas este não é violência, salvaguardam os especialistas, secundados pelo padre jesuíta Paulo Duarte, que lembra uma frase que ainda se ouve — “O amor tudo aguenta”. Não, responde, e é peremptório: “Quando há violência, acabou o amor.” O Dia dos Namorados assinala-se na próxima segunda-feira e a última Conversa Ímpar, que pode ser vista no site e nas redes sociais do PÚBLICO, foi sobre o amor.

Paulo Duarte lembra que a sociedade ainda julga muito quem se separa e reconhece que a Igreja defende a indissolubilidade do casamento, mas há situações em que a solução é outra. “Se queremos falar de mandamentos, um deles é o da vida. Se a vida está em perigo, não vou estar a alimentar a manutenção dessa partilha de vida. É preciso estar atento aos sinais”, refere, recordando uma homilia que fez sobre violência doméstica e, no final, ficou impressionado com a quantidade de mulheres que o abordaram para agradecer, não porque a cerimónia tivesse sido “muito bonita”, mas porque se identificaram com as suas palavras. O sacerdote, autor do livro Deus como Tu, faz referência a uma expressão, “deveres de mulher”, que se traduz, por exemplo, no estar disponível para ter relações sexuais quando o marido quer. “Isso tem outro nome, é uma violação”, alerta, acrescentando que, como sacerdote, tem o dever de escutar mas também de encaminhar quando é preciso um acompanhamento mais técnico.

Luana Cunha Ferreira, além de ser professora na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa é especialista em psicologia da família e terapeuta de casais, e diz que esta é uma área que tem crescido na última década, sobretudo nos últimos dois anos, fruto da pandemia. Quem procura a terapia? “Pessoas que querem estar juntas e não fazem ideia de como [fazer a relação] resultar. As feridas são muitas, o stress atinge níveis elevados, a rotina, a falta de desejo sexual, a infidelidade, as transições para o primeiro e muitas vezes para o segundo filho, para a reforma, questões de gestão trabalho/família – não existe equilíbrio, mas conflito – e também as relações pouco tradicionais como monogamias abertas, ou seja, pessoas que querem fazer as coisas de forma diferente”, enumera. Também lhe chegam os casais que se querem divorciar e que precisam de uma “ajuda técnica”, acrescenta.

Por vezes, há casais que estão juntos mas já se divorciaram há muito, alerta Eduardo Sá, autor de livros de psicologia e que lançou recentemente o seu segundo romance. “Se um casal entende que aquilo que os segura é a presença dos filhos, então, é altura de ponderarem seriamente se serão um casal e [questionarem se não estão a] dar um mau exemplo aos filhos.” O especialista salienta que “os pais mal-amados serão sempre piores pais”. E alerta-os para não caírem na rotina e cultivarem a relação a dois. “Não é pecado assumirmos que a relação amorosa dos pais deve estar ao nível da forma como amam os filhos”, diz. Paulo Duarte conta que nas celebrações de casamento lembra aos padrinhos que podem “ajudar o casal a ser casal”, por exemplo, oferecendo-se para ficarem com as crianças para o casal namorar. “Quanto mais se amarem como casal, mais o amor paternal vai surgir, para que a criança aprenda também a amar”, justifica, lamentando a falta de educação emocional para se saber lidar com os sentimentos, bons e maus.

Podemos morrer de amor? Sim. Eduardo Sá lembra os casais mais velhos, que morre um e passado pouco tempo o outro segue-o. Adoece-se quando se é abandonado pelo outro? “Tudo o que é identidade, significado e pertença, em vez de encontrar muitos caminhos, fica centralizado numa pessoa só. Quando essa pessoa nos abandona, desaparecemos porque construímos o nosso significado de pertença à volta dela”, responde Luana Cunha Ferreira. A receita para a cura é “simples”: “Temos de sentir os sentimentos.” Refere Eduardo Sá: “Precisamos de morrer várias vezes para o amor. Morremos de amor e ficamos mais competentes para descobrir a pessoa certa para nós.” Conclui Paulo Duarte: “Todas as relações começam, mas nenhuma acaba. Transformam-se.”