Covid-19: urgência pediátrica no Algarve afectada por surto entre médicos
Horácio Guerreiro garantiu que a assistência “não está em causa” e que a urgência pediátrica “está sempre assegurado por outros médicos”, existindo em permanência um pediatra nos cuidados intensivos pediátricos que pode dar apoio no atendimento.
O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) tem 100 profissionais de saúde infectados com covid-19, o que está a criar dificuldades na elaboração das escalas de serviço, sobretudo na urgência pediátrica, disse esta quarta-feira à Lusa o director clínico.
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O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) tem 100 profissionais de saúde infectados com covid-19, o que está a criar dificuldades na elaboração das escalas de serviço, sobretudo na urgência pediátrica, disse esta quarta-feira à Lusa o director clínico.
“Só no hospital de Faro temos 13 médicos infectados, dos quais cinco da Pediatria e esse é o nosso problema principal, porque é a escala que está mais deficitária, o que nos obriga a conciliar com a unidade hospitalar de Portimão”, indicou Horácio Guerreiro.
De acordo com o clínico, nas três unidades que integram o centro hospitalar algarvio — Faro, Portimão e Lagos — existia, no domingo, um total de 100 profissionais de saúde infectados com a doença, “originando muitas dificuldades no funcionamento dos serviços”, mas que têm sido “minimizadas” com a ajuda dos outros profissionais.
“Neste momento, a maior dificuldade é na urgência de Pediatria de Faro, onde normalmente temos quatro pediatras de serviço, dois em cada um dos hospitais de Faro e Portimão, e, nesta altura, temos um défice de dois turnos por semana, períodos esses em que contamos com a unidade de Portimão”, sublinhou.
Aquele responsável admitiu que o impedimento dos médicos em trabalhar, devido à infecção pelo novo coronavírus, “vai provocar até ao fim do mês, dificuldades no atendimento da Pediatria, principalmente em um ou dois períodos”.
“Não sabemos ainda o que vai acontecer, mas esta semana temos um período a descoberto, por exemplo, durante o dia de hoje, em que temos outro médico que não está na escala de urgência e que vai prestar apoio até às 17h”, precisou.
Atendimento urgente “não está em causa"
Horácio Guerreiro garantiu que a assistência “não está em causa” e que a urgência pediátrica “está sempre assegurado por outros médicos”, existindo em permanência um pediatra nos cuidados intensivos pediátricos que pode dar apoio no atendimento. “Nunca há falta de médicos no hospital para garantir a assistência dos casos urgentes”, reforçou, sublinhando que as situações graves “são sempre atendidas”.
No entanto, se forem situações consideradas intermédias, que possam ser adiadas, a assistência é feita no turno seguinte, ressalvou o director clínico do CHUA. Em caso de última necessidade, “as crianças podem sempre deslocar-se de Faro para Portimão ou vice-versa”, referiu.
Horácio Guerreiro acrescentou que cada um dos seis médicos especialistas disponíveis para a urgência no hospital de Faro “está a fazer o limite legal de horas extraordinárias por semana”, ou seja, “mais 12 horas para além das 12 normais”, o que, para cumprir os sete dias da semana, significa que “faltaria um médico”.
De acordo com o director clínico do CHUA, os problemas no serviço de Pediatria não são só provocados pela covid-19, já que se trata de um serviço onde só existem três médicos com idade legal — menos de 55 anos —, para assegurar as urgências.
“Diria que o problema da Pediatria é crónico e muito dramático em quase todo o país, porque a maior parte dos hospitais não tem pediatras em número suficiente para assegurar as suas urgências”, apontou. Esta situação obriga “a recorrer a prestadores externos, que acabam por percorrer vários hospitais e, eventualmente, com disputas de preços, porque nem todos pagam o mesmo valor por hora”.
Segundo Horácio Guerreiro, os casos de infecção nos profissionais de saúde diminuíram a capacidade de resposta em alguns serviços do CHUA, onde se registaram surtos, como na unidade de Ortopedia, onde a actividade programada chegou a ser suspensa. “Contudo, temos sobrevivido e temos sido capazes de dar uma resposta bastante razoável em todos os sectores, naturalmente, com uma sobrecarga de trabalho para os médicos em alguns serviços”, concluiu.