Por “discordâncias” e não se “enquadrar” no futuro do partido, secretário-geral do Chega demite-se
Tiago Sousa Dias pretendia integrar as listas de candidatos à Assembleia da República, mas André Ventura deixou-o de fora. Já anunciou que tenciona nomear Rui Paulo Sousa, eleito deputado, para o lugar de secretário-geral.
Tiago Sousa Dias, um dos dois secretários-gerais do Chega, renunciou ao cargo na terça-feira, anunciou o próprio numa publicação no seu perfil no Facebook. “Tentei, por todos os meios, perceber e enquadrar-me no caminho que o Chega tem pela frente, mas, na ausência de respostas, não encontrei outra solução”, lamenta o até aqui dirigente do partido, que conta que transmitiu a André Ventura a sua “indisponibilidade” para continuar a exercer funções no Chega, embora se mantenha militante.
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Tiago Sousa Dias, um dos dois secretários-gerais do Chega, renunciou ao cargo na terça-feira, anunciou o próprio numa publicação no seu perfil no Facebook. “Tentei, por todos os meios, perceber e enquadrar-me no caminho que o Chega tem pela frente, mas, na ausência de respostas, não encontrei outra solução”, lamenta o até aqui dirigente do partido, que conta que transmitiu a André Ventura a sua “indisponibilidade” para continuar a exercer funções no Chega, embora se mantenha militante.
O secretário-geral assegura que “não há dramas. Não há gravidades. Não há querelas pessoais. Há simplesmente aquilo que entendo que deve acontecer em democracia. Discordância e assunção da responsabilidade pessoal de ser consequente com ela”. Mas também afirma: “Não abdico da liberdade de pensar por mim e de apenas me dedicar ao que verdadeiramente me motiva. Quando discordo, digo-o. Quando concordo, também”, deixando no ar a ideia de que terá havido questões inconciliáveis com o presidente do partido.
Contactado pelo PÚBLICO, Tiago Sousa Dias não quis fazer qualquer comentário sobre a sua demissão do cargo.
“Na discordância, podemos por vezes encontrar formas de dar de nós sem atrapalhar o trabalho principal. Noutras, sem solução, devemos simplesmente colocar de lado os egos, os títulos ou as honras, dando espaço a que outros, mais enquadrados no espírito e na missão designada, possam simplesmente dar mais de si do que eu conseguiria neste momento”, lê-se na publicação.
Tiago Sousa Dias pretendia ser candidato a deputado à Assembleia da República, mas acabou por não ser escolhido por André Ventura — que desde o congresso de Viseu tem o poder de escolher todos os candidatos do Chega a todas as eleições — para as listas. Será por isso que, diz, entendeu “dever silêncio até ao encerramento do processo eleitoral, que termina na contagem dos votos da emigração” (que se realiza nesta quinta-feira, na FIL, em Lisboa), para não prejudicar o partido.
Nesta quarta-feira à tarde, em declarações aos jornalistas no Parlamento, André Ventura anunciou a decisão de nomear Rui Paulo Sousa para o lugar de secretário-geral deixado vago. O novo deputado do Chega eleito por Lisboa (número dois da lista) foi mandatário da candidatura presidencial de Ventura e candidato à Câmara de Castelo Branco; é o coordenador da comissão de ética do partido, vogal da direcção nacional e mandatário financeiro do partido.
O outro secretário-geral é Pedro Pinto, que já foi também eleito líder parlamentar da bancada do Chega, depois de ter sido eleito pelo círculo de Faro. Ventura acrescentou que tenciona nomear dentro de poucos dias um secretário-geral-adjunto que fique com as pastas mais burocráticas e contabilísticas do partido.
Na publicação que escreveu no Facebook, Tiago Sousa Dias afirma-se orgulhoso do trabalho que fez no partido enquanto secretário-geral. “Entre tantas outras coisas, limpei juridicamente o partido; edifiquei uma nova estrutura jurídica que, com as virtudes e defeitos que possa ter, me parece mais sólida e para o final salvei o partido de um novo pântano que nos custaria o bom resultado que tivemos nestas eleições”, escreve.
Este “salvamento” foi a reformulação dos estatutos, a que o Chega foi obrigado depois de o Tribunal Constitucional ter recusado as alterações estatutárias aprovadas na convenção de Évora, argumentando que a convocatória não especificava que se iriam discutir e votar mudanças aos estatutos. A essas tarefas acrescenta a de ter lançado o “edifício tecnológico” do partido.
Um trabalho que, afirma, foi sempre feito a “título gratuito” por entender que “quem está nos órgãos nacionais [de um partido] não deve ter simultaneamente uma remuneração, o que sempre limitaria a sua liberdade”.
E é a questão da liberdade que vai repetindo no texto que publica. “Eu prezo muito a minha liberdade e exercê-la-ei sempre”, vinca.
Antes do Chega, Tiago Sousa Dias integrava o Aliança, de Pedro Santana Lopes, tendo sido cabeça de lista do partido nas legislativas de 2019 pelo círculo da emigração Fora da Europa.
Notícia actualizada às 18h com informação sobre o novo secretário-geral do partido, Rui Paulo Sousa.