Camionistas canadianos bloqueiam fronteira com os EUA

Sondagem mostra preocupação no Canadá com “contágio” da polarização política dos Estados Unidos.

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O ponto de passagem mais movimentado entre o Canadá e os Estados Unidos continuava parcialmente fechado na terça-feira depois de camionistas canadianos terem bloqueado faixas de rodagem em protesto contra as medidas de controlo da pandemia do seu Governo. A fronteira reabriu entretanto do lado canadiano para o americano, mantendo-se encerrada no sentido oposto.

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O ponto de passagem mais movimentado entre o Canadá e os Estados Unidos continuava parcialmente fechado na terça-feira depois de camionistas canadianos terem bloqueado faixas de rodagem em protesto contra as medidas de controlo da pandemia do seu Governo. A fronteira reabriu entretanto do lado canadiano para o americano, mantendo-se encerrada no sentido oposto.

Os condutores pedem um fim da obrigação de vacinação contra a covid-19 para atravessar fronteiras, num protesto que começou a 28 de Janeiro na capital, Otava, bloqueando estradas. Desde domingo à noite que a polícia está lentamente a voltar ao controlo da cidade, expressando preocupações com o facto de pelo menos um quarto dos 418 camiões em protesto na cidade terem ocupantes menores.

A polícia imobilizou uma série dos veículos pesados que participavam no protesto e foram apreendidos centenas de litros de combustível.

Quanto ao bloqueio da ponte que liga Detroit, Michigan, com Windsor, Ontário, o ministro da Segurança Pública do Canadá, Marco Mendicino, disse que estão a ser feitos esforços para “conseguir manter as cadeias de fornecimento a funcionar na ponte, e manter em movimento as rodas da nossa economia”.

Normalmente passam na ponte cerca de 8000 camiões por dia, muitos com produtos que o Canadá exporta para os Estados Unidos.

Do lado americano, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que “é evidente que estas anomalias ultrapassaram a obrigação dos requisitos da vacina”, acrescentando que os EUA estão “naturalmente em contacto” com o lado canadiano.

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, apareceu em público na segunda-feira pela primeira vez, mais de uma semana depois ter sido infectado com o coronavírus que provoca a covid-19, dizendo que o protesto tinha de parar.

Trudeau criticou as tácticas dos manifestantes, mas um dos seus colegas do Partido Liberal, Joel Lightbound, rompeu com a posição do Governo em relação à obrigatoriedade da vacina.

Entretanto, algumas províncias canadianas estão a começar a levantar as restrições rigorosas da covid-19.

Enquanto isso, uma sondagem mostrou preocupação no Canadá com um potencial efeito de contágio da instabilidade política nos EUA, especialmente nos protestos em Otava em que, segundo a polícia, está envolvida “uma quantia significativa” de dinheiro americano e apoio organizacional.

O protesto foi marcado pelo uso de símbolos como a bandeira da confederação dos EUA, usada por apoiantes de Donald Trump nos EUA. Alguns manifestantes dizem que o seu objectivo é não só reverter a obrigação da vacina, mas derrubar o Governo.

“O sucesso ou falhanço dos Estados Unidos terá um impacto profundo no Canadá”, disse Bruce Heyman, antigo embaixador dos EUA no Canadá entre 2014 e 2017. “Parte da natureza mais extremada da nossa política nos últimos anos moveu-se para ocupar parte do Canadá hoje”, declarou.

Na sondagem, 78% dos canadianos dizem que estão preocupados com o facto de o ambiente político nos EUA poder afectar a sua economia e segurança.

Dois terços dos 38 milhões de canadianos vivem numa zona a 100 km da fronteira americana, e os dois países são os principais parceiros comerciais um do outro.

Para o Canadá, com 75% das exportações a terem como destino os EUA, e 50% das importações a virem do vizinho, a relação é fundamental.

A política canadiana tem sido muito menos polarizada do que a dos Estados Unidos, e as vacinas não foram tão politizadas: 80% da população do Canadá recebeu duas doses da vacina contra a covid-19, enquanto nos EUA a percentagem é de apenas 64%.

“Os canadianos têm em geral olhado para os EUA e sentido ‘o que quer que se passe ali, não é tão mau aqui no Canadá”, comentou Shachi Kurl, a presidente do Instituto de Sondagens Angus Reid, responsável pela sondagem. “Gostamos de pensar que somos um país de circunspecção e compromisso, amigável, mas duas em cada cinco pessoas já não se sentem assim”, declarou. Segundo a sondagem, cerca de 37% dos canadianos dizem que não há espaço para compromisso político no país.