Vestidos de noiva no armário “todos os dias da nossa vida”? Este projecto dá-lhes uma nova história

A New Story Bridal nasceu, em Lisboa, no final do ano passado, pelas mãos de Teresa Baumeister Simões, com foco na compra e venda de vestidos de noiva em segunda mão.

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Um vestido de noiva fechado no armário, admirado esporadicamente para relembrar um dia feliz, eternamente à espera de filhas ou netas que o queiram usar ─ um cenário comum em muitas casas portuguesas. Pensar que haverá quem use novamente aquele vestido é “um cenário utópico”, acredita Teresa Baumeister Simões. Foi por isso e a pensar na sustentabilidade que a empresária fundou, no final do ano passado, a New Story Bridal, um serviço para compra e venda de vestidos de noiva em segunda mão, com showroom em Lisboa.

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Um vestido de noiva fechado no armário, admirado esporadicamente para relembrar um dia feliz, eternamente à espera de filhas ou netas que o queiram usar ─ um cenário comum em muitas casas portuguesas. Pensar que haverá quem use novamente aquele vestido é “um cenário utópico”, acredita Teresa Baumeister Simões. Foi por isso e a pensar na sustentabilidade que a empresária fundou, no final do ano passado, a New Story Bridal, um serviço para compra e venda de vestidos de noiva em segunda mão, com showroom em Lisboa.

Antes da pandemia, Teresa Baumeister Simões tinha um negócio de eventos dedicado à troca de roupas. Com os ajuntamentos cancelados durante tanto tempo, começou à procura de novas oportunidades na área da sustentabilidade. “Lembrei-me que os vestidos de noiva só são usados uma vez, tornando-se peças muito pouco sustentáveis”, conta ao PÚBLICO. De acordo com a plataforma Good on You, especializada em moda sustentável, serão necessários, em média, cerca de 9000 litros de água para produzir um vestido de casamento.

Se já no início de 2020, antes de a covid-19 mudar o mundo, a sustentabilidade era apontada como uma das tendências para a indústria dos casamentos, agora é uma certeza. E nesse campo, depois de reduzir o desperdício, minimizar a lista de convidados e encontrar alternativas mais amigas do ambiente, faltavam mudanças no que toca a um dos protagonistas desse dia: o vestido da noiva.

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Nicole Sanchéz

No estrangeiro, os negócios de compra e venda de vestidos de noiva usados não são uma novidade, mas por cá não existia um serviço que proporcionasse curadoria. Ou seja, quem vendia os seus vestidos fazia-o nas plataformas de venda na internet directamente ao comprador. “A New Story Bridal pretende ser uma solução para as noivas de hoje”, informa a empresária. Quem são? Teresa Baumeister Simões determina que são “pessoas mais conscientes, que querem que os seus valores sejam repercutidos no casamento”.

Na prática, a New Story Bridal trabalha à consignação. Ou seja, com uma comissão de 40% do valor, Teresa trata de vender os vestidos pelas noivas. Quem estiver interessado em vender o seu vestido, deverá submetê-lo através do formulário, disponível site do projecto. Depois de uma primeira triagem, com recurso a fotografias, é feita uma avaliação presencial. “Faço uma curadoria de vestidos com qualidade superior que possam ser usados novamente, [que tenham] bons acabamentos”, sublinha a fundadora, aconselhando que seja feita uma limpeza profissional ao vestido logo após a festa.

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A fundadora do projecto, Teresa Baumeister Simões Nicole Sánchez

“Passar o testemunho”

No showroom, Teresa Baumeister Simões tem, actualmente, consignados 54 vestidos. Entre as marcas disponíveis destacam-se Pronovias, Rosa Clará, Jesus Peiró, Penhalta, Iza Van e Uhma Ateliê. Quase todos os modelos têm menos de cinco anos, já que as noivas preferem modelos actuais. Também há acessórios, como véus, travessões para o cabelo ou sapatos. Os preços variam entre os 500 e os 1500 euros.

A empresária compreende que a decisão de vender um vestido nem sempre seja fácil de tomar, pelo valor sentimental que lhe está associado. Em média, um ano é o tempo que as mulheres demoram para pôr o vestido à venda. Queixam-se que ocupa muito espaço ou querem obter retorno de parte do investimento, mas também há casos mais dramáticos: como quem cancelou o casamento por culpa da pandemia ou a relação terminou antes de a cerimónia acontecer.

Todavia, aponta Teresa Baumeister Simões, o principal motivo por que as mulheres vendem os seus vestidos de noiva é para lhe dar uma nova vida. “É o sentimento de passar o testemunho. Dizem-me ‘este vestido fez-me feliz e quero que faça outra pessoa feliz’”, relata. Cada vestido deixado à consignação é acompanhado de um bilhete escrito pela mulher que o usou destinado à futura noiva.

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Nicole Sánchez

Para as noivas à procura de vestido, a empresária aconselha a visita cerca de seis meses antes ─ menor antecedência do que nas lojas convencionais já que a peça pode ser levada no próprio dia. Quando chegam vestidos novos ao showroom são partilhados no Instagram e podem escolher-se de antemão aqueles que se quer experimentar. Ainda assim, a empresária pede às noivas que tenham o “espírito aberto” a todas as opções. As noivas podem ainda levar acompanhantes, tal e qual acontece nos espaços tradicionais, já que, na opinião da fundadora da New Story Bridal, o momento de escolha do vestido (quer seja, ou não, em segunda mão) é uma etapa importante da preparação do casamento.

Embora o foco esteja nos vestidos em segunda mão, também é possível transformar vestidos antigos com a ajuda da designer Rita Álvares Pereira ─ que também vende neste espaço vestidos das suas colecções antigas. Sim, pode levar o vestido da mãe ou da avó que estava esquecido no armário e sair de lá com um outro adaptado aos novos tempos, preservando a história da peça antiga.

Com os vestido vintage perdidos no showroom Teresa Baumeister Simões também quer apostar no upcyle: isto é criar novos vestidos feitos com tecidos antigos. Para isso contará também com a ajuda de Rita Álvares Pereira. “A magia da economia circular é que todos podem participar”, conclui a empresária.