Se a geração Z encontrasse a nouvelle vague (o filme era outro)

É um filme “inteligente” ou “calculista”?, perguntamos genuinamente sobre um dos candidatos ao Óscar do Melhor Filme Internacional: A Pior Pessoa do Mundo.

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Um filme “inteligente” ou um filme “calculista”?

Não acontece com todos os filmes, e não é necessariamente um ponto contra A Pior Pessoa do Mundo (até pode ser o contrário), mas perante o filme de Joachim Trier o espectador dá por si em ciclos sucessivos de suspensão da boa vontade, e logo a seguir da má vontade. Por outras palavras, a irritação, a vontade de detestar o filme, até injustamente, anda de braço dado com o desejo se deixar tocar por ele, mais do que, efectivamente, ele toca. Há uma certa ciclotimia no filme, de resto, embora não seja seguro que Trier pretenda que ela funcione desta maneira ziguezagueante na epiderme do espectador. Então, porquê o ziguezague? Em parte, da sobranceria, mais ou menos encapotada, com que o filme adopta — do primeiro ao último momento — a pose de quem vem para nos dar uma “lição de vida”. Tem sido, aliás, por entre a aclamação generalizada (melhor filme do ano transacto em várias publicações internacionais), aquilo que, tudo espremido, mais se elogia nele. A “coragem” (hoje, isso aproxima-se mesmo de um acto corajoso) de nos fazer seguir uma protagonista mais que imperfeita, para concluir (num grande abraço ao espectador que fatalmente se identificará com a imperfeição) que hesitar, fazer asneira de vez em quando, tomar decisões erradas, não enfrentar o mundo com a certeza de que se é o maior e que os outros são todos umas bestas, são coisas normais e não fazem de ninguém “a pior pessoa do mundo”. Não por acaso, a recepção ao filme destaca o retrato da “geração Z” como o seu ponto alto, a geração criada no aquário da internet e, portanto, no moralismo agressivo das “redes sociais”. Admitimos que o filme possa ter um efeito libertador para quem viva imerso num mecanismo cuja vocação primordial consiste na sinalização da virtude própria e na denúncia das falhas dos outros. Mas, como “lição de vida”, é de alcance curto.

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Não acontece com todos os filmes, e não é necessariamente um ponto contra A Pior Pessoa do Mundo (até pode ser o contrário), mas perante o filme de Joachim Trier o espectador dá por si em ciclos sucessivos de suspensão da boa vontade, e logo a seguir da má vontade. Por outras palavras, a irritação, a vontade de detestar o filme, até injustamente, anda de braço dado com o desejo se deixar tocar por ele, mais do que, efectivamente, ele toca. Há uma certa ciclotimia no filme, de resto, embora não seja seguro que Trier pretenda que ela funcione desta maneira ziguezagueante na epiderme do espectador. Então, porquê o ziguezague? Em parte, da sobranceria, mais ou menos encapotada, com que o filme adopta — do primeiro ao último momento — a pose de quem vem para nos dar uma “lição de vida”. Tem sido, aliás, por entre a aclamação generalizada (melhor filme do ano transacto em várias publicações internacionais), aquilo que, tudo espremido, mais se elogia nele. A “coragem” (hoje, isso aproxima-se mesmo de um acto corajoso) de nos fazer seguir uma protagonista mais que imperfeita, para concluir (num grande abraço ao espectador que fatalmente se identificará com a imperfeição) que hesitar, fazer asneira de vez em quando, tomar decisões erradas, não enfrentar o mundo com a certeza de que se é o maior e que os outros são todos umas bestas, são coisas normais e não fazem de ninguém “a pior pessoa do mundo”. Não por acaso, a recepção ao filme destaca o retrato da “geração Z” como o seu ponto alto, a geração criada no aquário da internet e, portanto, no moralismo agressivo das “redes sociais”. Admitimos que o filme possa ter um efeito libertador para quem viva imerso num mecanismo cuja vocação primordial consiste na sinalização da virtude própria e na denúncia das falhas dos outros. Mas, como “lição de vida”, é de alcance curto.