“Estamos na fase de aliviar medidas com prudência, passo a passo”, diz conselheira do Governo para a pandemia

Raquel Duarte, que tem desenhado as bases dos planos de desconfinamento do Governo, afirma que o país está pronto para “eliminar medidas com prudência”. População mais vulnerável, como a que vive em lares, terá de continuar a ser protegida. Isolamentos e estratégia de testagem são áreas que poderão ter novas regras.

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Nelson Garrido

Portugal caminha para uma nova fase do combate à pandemia que poderá trazer um alívio das medidas restritivas. Agora que “as consequências da infecção parecem ser menores”, tanto em termos de formas graves da doença, como na mortalidade”, o país deve ajustar as restrições a este cenário.

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Portugal caminha para uma nova fase do combate à pandemia que poderá trazer um alívio das medidas restritivas. Agora que “as consequências da infecção parecem ser menores”, tanto em termos de formas graves da doença, como na mortalidade”, o país deve ajustar as restrições a este cenário.

É esta a visão da pneumologista Raquel Duarte e da equipa de especialistas que o Governo tem convidado para preparar os avanços e recuos do país no combate à covid-19. As propostas deste grupo de peritos, em que também se inclui o matemático Óscar Felgueiras e especialistas de várias áreas do conhecimento (economia, gestão, saúde pública, psicologia, educação e matemática), têm servido de base para o Governo tomar decisões nas diversas fases da pandemia.

Passámos agora o pico da onda e é provável que assistamos à diminuição da incidência e a um período de acalmia. Devemos ajustar as medidas ao risco da infecção na comunidade e às consequências da doença. Estamos na fase de aliviar com prudência, passo a passo, vendo as consequências desse alívio e estando atentos a novas variantes, novas surtos, novos agravamentos. Estamos no caminho para aliviar medidas”, diz a pneumologista ao PÚBLICO.

Para Raquel Duarte, é importante que, quando se compara as situações de vários países, se sublinhe que Portugal já faz parte de uma lista de nações com menor carga de restrições. “Quando vários países disseram que iam eliminar várias medidas, nós já estávamos nesse nível. Só conseguimos não ter nenhuma actividade encerrada porque tivemos cuidados em termos da testagem, da vacina, do certificado, da utilização de máscara, da lotação de espaços. Mas isso não é a normalidade e é previsível que essas regras se vão eliminado ao longo do tempo”.

Uma coisa é certa: a população mais vulnerável, como a que vive nos lares e outras estruturas, terá de continuar a ser protegida. Por outro lado, será necessário delinear uma estratégia de testagem diferente da actual, que não seja maciça, mas que permita identificar o que se passa na comunidade e proteger as populações mais vulneráveis e os locais de maior risco. “Não podemos ser surpreendidos por um pico de infecções. Temos de ter uma forma de monitorizar o que está a acontecer de uma forma muito segura para termos a certeza que estamos no caminho certo”, aponta.

A especialista também acredita que os isolamentos — quem isolar, como isolar — serão outro campo a sofrer mudanças nos próximos tempos, sendo que há uma série de países que já tem feito esse “ajuste”. “Acredito que estamos numa fase de mudança de paradigma, mas a pandemia já nos tem cortado as voltas, chegamos a pensar o mesmo no passado. A pandemia não vai acabar quando dissermos que ela vai acabar”.

O “esforço da vacinação” contra a covid-19 também tem de continuar, mas Raquel Duarte admite que, com o passar do tempo, apenas uma parte da população, a mais vulnerável, continue a ser vacinada. Mas, para já, esse ainda não é um cenário que esteja próximo e a aposta nas doses de reforço deve continuar. “A vacina tem dois pólos: o da protecção da população mais vulnerável e o da contenção dos motores de transmissão. Só abordando os dois é que vamos ter uma potencialidade máxima”.

DGS admite aligeirar regras

Na passada quinta-feira, a directora-geral da Saúde admitiu que as pessoas que estejam infectadas mas sem sintomas da covid-19 possam vir a ser dispensadas de fazer isolamento. Esta questão, assim como a utilização da máscara apenas em alturas de maior risco, está a ser estudada pela comunidade científica. Em relação às vacinas, Graça Freitas referiu que o expectável que no futuro passe a ser “selectiva, sazonal e para grupos de risco”.

Sobre o fim do isolamento, a directora-geral da Saúde sublinhou: “É para os casos positivos. Para os doentes, não. Os doentes continuam a ter direito ao isolamento, estão no auge da transmissibilidade. Pode haver uma redução dos dias de isolamento e outras medidas para os contactos”, afirmou em entrevista à CNN Portugal. Graça Freitas disse, no entanto, que estava a ser “cautelosa” e que tudo isto será condicionado pela evolução da pandemia nos próximos dias e semanas.

Graça Freitas afirmou que se tudo correr bem, Portugal, como outros países, vai passar a ter uma estratégia de vacinação contra a covid-19 “selectiva, sazonal e para grupos de risco”, tal como acontece com a gripe. “Provavelmente será este o panorama”, afirmou.