Flee é a história de um refugiado afegão gay — e está nos Óscares
Documentário de animação dinamarquês recebeu três nomeações para os Óscares. Conta a história de um afegão que chega à Dinamarca e é “duplamente marginalizado, sendo gay e refugiado”.
Quando o realizador Jonas Poher Rasmussen tinha 15 anos, um adolescente afegão chegou à sua aldeia na Dinamarca. Espalhou-se que o jovem tinha fugido após a morte da sua família, viajando para o país escandinavo a pé. Com o tempo, os dois tornaram-se amigos próximos mas foram precisos quase 20 anos para o refugiado afegão, actualmente um académico bem-sucedido, se sentir preparado para contar a Rasmussen o que realmente aconteceu.
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Quando o realizador Jonas Poher Rasmussen tinha 15 anos, um adolescente afegão chegou à sua aldeia na Dinamarca. Espalhou-se que o jovem tinha fugido após a morte da sua família, viajando para o país escandinavo a pé. Com o tempo, os dois tornaram-se amigos próximos mas foram precisos quase 20 anos para o refugiado afegão, actualmente um académico bem-sucedido, se sentir preparado para contar a Rasmussen o que realmente aconteceu.
Essa história é contada em Flee (A Fuga, em português), que esta terça-feira recebeu três nomeações para os Óscares. É uma longa-metragem de animação em que o amigo de Rasmussen, sob o pseudónimo Amin Nawabi, revive os traumas do passado, contando a sua fuga do Afeganistão e a jornada de autodescoberta que se seguiu.
“Sempre estive curioso sobre como é que ele tinha chegado aqui e porquê, mas ele não queria falar sobre isso. E eu, claro, respeitei. Mas a nossa amizade cresceu e esta coisa, esta história, foi uma espécie de caixa-negra na nossa amizade”, disse Rasmussen, agora com 40 anos, à Reuters.
Abrir-se sobre o seu passado e partilhar o seu segredo tem trazido paz a Amin, afirma Rasmussen. “Ele é duplamente marginalizado, sendo gay e refugiado. Por isso, ver que as pessoas se estão a identificar com a sua história tem imenso significado para ele.”
Flee estreou-se em ovação no Sundance há um ano, vencendo o Grande Prémio do Júri na secção Cinema Mundial - Documentário, e desde então arrecadado inúmeros prémios. Recebeu duas nomeações para os BAFTA na semana passada e, nesta terça-feira, foi nomeado para Melhor Documentário em Longa-Metragem, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme de Animação nos Óscares de 2022.
Para o filme, Rasmussen aplicou técnicas de entrevistas de rádio, pedindo a Amin para se deitar, fechar os olhos e descrever as suas memórias em detalhe durante cerca de dez sessões, realizadas durante quase quatro anos. As palavras de Amin são acompanhadas de animação e imagens de arquivo reais.
Foi um longo processo até Amin se sentir pronto para partilhar os segredos que o estavam a assombrar e a afectar a relação com o seu futuro marido, disse Rasmussen. “A animação foi mesmo para ter a certeza de que poderíamos trazer o passado à vida”, afirmou o realizador. “E depois as imagens de arquivo serviram para relembrar as pessoas de que isto é uma história verdadeira e na base está a vida real.”
Inicialmente determinado a contar uma história sobre amizade e segredos, Rasmussen mudou de perspectiva quando a crise migratória de 2015 eclodiu na Europa. “Senti a necessidade de dar uma cara aos refugiados que vimos nas auto-estradas na Dinamarca e no resto da Europa... E mostrar que ser um refugiado não é uma identidade, é uma circunstância da vida.”
O filme dinamarquês conta com Riz Ahmed e Nikolaj Coster-Waldau como produtores executivos. Em Portugal, a estreia de Flee, que é distribuído pela Films4You, está prevista para o dia 7 de Abril.