EUA acreditam que Rússia tem 70% das forças prontas para invasão da Ucrânia

Novas informações obtidas por Washington reforçariam possibilidade de uma invasão em Fevereiro. Moscovo acusa norte-americanos de alimentarem “a loucura e o alarmismo”, Ucrânia diz que há pouco risco de guerra imediata.

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Reservistas ucranianos num exercício perto de Kiev EPA/SERGEY DOLZHENKO

A Rússia estará a acelerar os seus preparativos para uma eventual invasão da Ucrânia: segundo os serviços secretos norte-americanos, Moscovo já reuniu 70% do dispositivo necessário. Com 110 mil soldados mobilizados nas fronteiras da Ucrânia, a estimativa actual é que daqui a duas semanas essas tropas disponham dos meios necessários para uma invasão.

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A Rússia estará a acelerar os seus preparativos para uma eventual invasão da Ucrânia: segundo os serviços secretos norte-americanos, Moscovo já reuniu 70% do dispositivo necessário. Com 110 mil soldados mobilizados nas fronteiras da Ucrânia, a estimativa actual é que daqui a duas semanas essas tropas disponham dos meios necessários para uma invasão.

Sem saberem se Vladimir Putin já terá decidido avançar, os serviços de informação dos EUA acreditam que o Presidente russo quer estar preparado para todas as opções possíveis, da invasão parcial do enclave separatista de Donbass a uma invasão total.

Não é a primeira vez que Washington antecipa que uma operação militar em grande escala poderia ser lançada entre o fim de Janeiro e meados de Fevereiro: já no início de Dezembro, os serviços secretos diziam ter “provas de que a Rússia fez planos para movimentos significativos contra a Ucrânia”. De acordo com um documento obtido pelo diário The Washington Post, estaria a ser planeada para o início do ano uma ofensiva em várias frentes envolvendo cerca de 175 mil soldados.

Os novos avisos, feitos por responsáveis citados pelo Post e pelo jornal The New York Times, apontam para um cenário em que a Rússia poderia tomar a capital ucraniana, Kiev, rapidamente, resultando em pelo menos 50 mil civis mortos ou feridos.

Segundo Washington, a Rússia contava, até sexta-feira, com 83 “batalhões tácticos” (cada um tem entre 750 e 1000 soldados) prontos, com mais 14 a caminho. No cenário de uma invasão em grande escala, Moscovo quererá usar 110 a 130 batalhões, mas para incursões mais limitadas não serão necessários tantos. Para uma invasão total, contando com unidades de apoio, o Kremlin deverá querer ter 150 mil tropas preparadas. Com o ritmo actual de mobilização, afirma um responsável, esse momento deverá chegar nas próximas duas semanas.

“A loucura e o alarmismo continuam… e se disséssemos que os EUA poderiam tomar Londres em uma semana e causar 300 mil mortes civis?”, reagiu indignado no Twitter o vice-embaixador de Moscovo na ONU, Dmitri Polianski. Moscovo tem negado ter planos para uma invasão e acusado os EUA de exacerbarem tensões com o envio de tropas, armas e equipamentos para a Ucrânia, isto ao mesmo tempo que negoceia com Washington e com a NATO a partir de uma lista de exigências que inclui a garantia de que Kiev não irá nunca aderir à Aliança Atlântica.

Os EUA afirmaram repetidas vezes que os planos russos passariam por forjar um pretexto para avançar: no final da semana passada, foi o Reino Unido a dizer que sabe com “grande confiança” que Moscovo está a planear orquestrar um motivo para o ataque, enquanto Washington garantia ter provas de um plano do Kremlin para filmar um ataque falso contra território russo ou contra ucranianos russófonos e justificar, assim, uma invasão.

Cadáveres e actores

“Acreditamos que a Rússia produziria um vídeo de propaganda muito violento que envolveria cadáveres e actores a fazer-se passar por pessoas de luto, imagens de locais destruídos, assim como equipamento militar nas mãos da Ucrânia ou do Ocidente, até ao pormenor em que algum deste equipamento seria transformado para se parecer com o que é fornecido pelo Ocidente”, descreveu o porta-voz do Pentágono, John Kirby, numa conferência de imprensa. Tendo conhecimento destes planos, disse Kirby, a Administração de Joe Biden considera importante “denunciá-los”.

Um responsável da Casa Branca citado pelo Post assegurava que Moscovo já teria recrutado as pessoas que iriam fazer o vídeo, um esforço que contaria com o envolvimento profundo dos serviços secretos russos.

Tal como todas as acusações e denúncias dos últimos meses, esta também não veio acompanhada de provas, o que o Departamento de Estado justificou com a necessidade de proteger fontes e métodos usados para obter estas informações. A denúncia, explicou o porta-voz Ned Price, visa precisamente impedir que Moscovo venha a usar o alegado vídeo.

Face a tantas declarações sobre a probabilidade de um conflito, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, declarou que há pouco risco imediato de guerra com a Rússia, e implicitamente lançou uma farpa a previsões que têm sido feitas sobre o timing de uma operação militar russa: “primeiro, falaram em Janeiro, agora falam em Fevereiro, alguns dizem que vai ser na Primavera”.