Fim do PSD igual ao do CDS? “As organizações não são eternas”
Deputado do PSD nas duas últimas legislaturas defende que o partido deve fazer uma “reflexão profunda” num congresso extraordinário antes de escolher o próximo líder. Em entrevista ao PÚBLICO e ao programa Hora da Verdade, da Rádio Renascença, Pedro Rodrigues não se exclui da corrida eleitoral no PSD, defende que Paulo Rangel mantém “todas as condições” para voltar a ser candidato, mas não se compromete com nenhum nome.
Pedro Rodrigues discorda de Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD, na ideia de uma candidatura única, defendendo que depois das eleições internas o partido tem de se “galvanizar e unir”.
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Pedro Rodrigues discorda de Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD, na ideia de uma candidatura única, defendendo que depois das eleições internas o partido tem de se “galvanizar e unir”.
Pediu a convocação de um congresso urgente para discutir a reconstrução do PSD. Esse congresso devia acontecer antes da eleição do novo líder? Devia servir para alterar o posicionamento, formas de funcionamento do partido?
O resultado eleitoral do PSD nas últimas legislativas não pode deixar de convocar o partido para uma reflexão muito profunda sobre as causas que conduziram ao divórcio do PSD da sociedade portuguesa. Há causas conjunturais que contribuíram para o resultado eleitoral e têm que ver com a estratégia seguida pelo PSD.
Essas são conhecidas e em princípio transformam-se com a alteração da liderança, mas há causas estruturais para as quais o PSD tem de olhar com atenção e que dizem respeito à forma como se organiza do ponto de vista estrutural, como dialoga com os cidadãos e com os militantes e como define o seu posicionamento na sociedade portuguesa. São circunstâncias que se têm agravado ao longo dos anos. O PSD fala de uma reorganização interna há mais de 15 anos.
Actualmente, Rui Rio punha o partido ao centro, centro-esquerda. É essa redefinição que tem de ser feita?
É preciso perguntar o que isso significa do ponto de vista substantivo e em termos de políticas concretas. O que significa ao nível de uma política fiscal, da construção de um modelo económico que permita aumentar os rendimentos dos portugueses? O que significa para as jovens famílias? Aquilo a que se assistiu nos últimos anos – e nestas eleições foi muito paradigmático – é que o PSD facilmente encontra rótulos para o seu posicionamento, mas não encontra consequências com políticas concretas.
Numa entrevista ao PÚBLICO em Novembro passado, considerava que o país estava cansado de uma solução governativa que tem esmagado os empresários com a carga fiscal, que tem deixado a classe média sem perspectivas de subir na vida. A sua análise falhou, ou foi o PSD que não conseguiu comunicar uma mensagem apelativa?
Continuo a achar que o diagnóstico que fiz se mantém plenamente actual. O nosso PIB per capita é sensivelmente o mesmo desde 1995 e hoje estamos atrás de um conjunto de países da UE nos principais indicadores de evolução socioeconómica e que há sete ou oito anos era impensável. A verdade é que o PSD não foi capaz de transmitir essa mensagem aos portugueses, nem transmitir segurança. Não conseguiu dar esperança na capacidade de resolução dos problemas dos portugueses. E, em terceiro lugar, o PSD não conseguiu articular uma mensagem concreta que permitisse que os portugueses entendessem como é que um governo do PSD mudaria as suas vidas.
Quando fala do PSD, estamos a falar de Rui Rio...
Rui Rio corporiza a estratégia do PSD, ele é responsável pela estratégia política do PSD, mas perante o resultado que tivemos não se espere da minha parte, neste período, estar a tentar apontar dedos. Ao longo dos anos fui transmitindo estes alertas, infelizmente as circunstâncias vieram dar-me razão.
O futuro do PSD pode ser semelhante ao do CDS. Se não houver essa reflexão, o PSD pode desaparecer gradualmente?
Recuso-me a considerar essa possibilidade. Acredito muito que o PSD continua a ser o único partido reformista em Portugal que pode representar e liderar todo o espaço não socialista. Também tenho a consciência de que as organizações não são eternas. Ou o PSD é capaz de interpretar o sentimento que os portugueses transmitiram com este resultado eleitoral e anteriores – este não é virgem –, ou os cidadãos vão procurar outras alternativas.
Ninguém é dono dos votos, dos eleitores. Felizmente, os eleitores vivem num estado de tremenda exigência e não votam nos partidos numa sensação de clubite. O que se está a passar à direita do PSD não é causa de geração espontânea. O surgimento de novos partidos políticos, com a força que têm demonstrado nas duas últimas eleições, sobretudo nesta, não é por acaso. A responsabilidade é dos políticos e dos partidos que não têm conseguido diagnosticar as causas do descontentamento e encontrar as soluções para o resolver.
A sucessão de Rio já está aberta, fala-se em vários nomes para uma nova liderança. Está disponível para assumir uma candidatura?
O que é verdadeiramente importante não é que o PSD entre numa busca instantânea de personalidades para liderar o partido. Era muito benéfico para o PSD fazer uma reflexão não contaminada pela discussão da liderança. Depois disso, abrir o processo eleitoral interno, apresentarem-se as candidaturas à liderança, discutirem-se as moções de estratégia global e os militantes fazerem as suas escolhas. Tinha outra vantagem: o novo presidente do partido poderia já assumir funções numa circunstância em que o partido já se teria reorganizado e, no seu mandato de dois anos, poder dedicar-se ao país.
E a sua eventual candidatura?
Terei ocasião de fazer uma reflexão pessoal e sobre as circunstâncias em que o partido se encontra e que outros militantes estão disponíveis.
Entre os nomes de que se fala – Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz, Jorge Moreira da Silva – quem é que acha que pode ter melhores condições para liderar o PSD?
Do ponto de vista objectivo qualquer um dos três tem condições para liderar o partido. Certamente em função do que apresentarem também será possível perceber qual deles tem condições subjectivas mais adequadas para assumir funções. Sou amigo dos três, tenho muito respeito e consideração pelos três e ninguém me ouvirá cometer a deselegância de comentar uma eventual candidatura sem eles a terem manifestado primeiro.
Salvador Malheiro também falava em Paulo Rangel. Considera que este nome está arredado da corrida?
A resposta que dou em relação a Paulo Rangel é a mesma. Objectivamente tem todas as condições para liderar o partido, tal como os outros três nomes referidos – mas também não vou cometer a deselegância de comentar.
Concorda com Salvador Malheiro de que deve haver uma candidatura única?
Não concordo necessariamente. O PSD sempre foi um partido vivo. Olho para os momentos eleitorais como momentos de afirmação do partido e não de diminuição. É importante que quem quer que seja que tenha um projecto para apresentar aos militantes e ao país que se apresente, que diga ao que vem. O que não acho que faz sentido é alguns que tenham um projecto ficarem à espera que as coisas não corram bem. Isso é que não é correcto. Depois das eleições internas, o partido tem de se galvanizar, unir e fazer a síntese da pluralidade.
Que papel espera que o Presidente da República venha a ter com uma maioria absoluta? Tem de ser diferente do que foi até aqui?
O que espero do Presidente da República, e que sempre esperei – e que ele tem de certo modo cumprido –, é que no quadro das suas competências constitucionais seja um árbitro e um poder moderador na democracia portuguesa. Não tenho nenhuma preocupação particular sobre o que possa ser o seu papel. Se há coisa em que estou de acordo com o dr. António Costa é quando afirma que qualquer excesso do PS será certamente moderado pelo Presidente. É uma garantia de estabilidade e de confiança que não podemos deixar de ter.