Desejos da diáspora para os próximos quatro anos

Tenho a esperança de que no fim desta legislatura as representações portuguesas no estrangeiro, Londres incluída, existam para verdadeiramente servir quem, na diáspora, está tão longe de casa e dos seus e nada mais procura do que ajuda, um pouco de empatia e uma palavra amiga na língua que nos deu ao mundo.

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Rui Gaudencio

O princípio é relativamente simples: sempre que é feriado em Portugal, tanto a embaixada como os consulados estão fechados e o mesmo acontece sempre que é feriado no Reino Unido. O melhor dos dois mundos, por conseguinte para quem trabalha nestes serviços.

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O princípio é relativamente simples: sempre que é feriado em Portugal, tanto a embaixada como os consulados estão fechados e o mesmo acontece sempre que é feriado no Reino Unido. O melhor dos dois mundos, por conseguinte para quem trabalha nestes serviços.

O mesmo não posso dizer como cidadão português residente em Londres se por algum azar tiver de me deslocar ao consulado. E digo azar agora que começa uma nova legislatura, na esperança de que no fim da mesma as representações portuguesas no estrangeiro, Londres incluída, existam para verdadeiramente servir quem, na diáspora, está tão longe de casa e dos seus e nada mais procura do que ajuda, um pouco de empatia e uma palavra amiga na língua que nos deu ao mundo.

Porque, e já não é de hoje, entre marcações online que não funcionam e telefones que ninguém atende, só se entra no consulado por especial favor ou sorte, sendo preferível ao emigrante a compra de um leitor de cartões de cidadão caso precise de renovar o dito, agradecendo a quem de direito a bendita ideia de disponibilizar todo o processo através do portal do cidadão.

Deste modo, a inevitável perda de dias de férias, ou então um ou mais dias de trabalho e respectivo salário, deixam de ser inevitáveis diante de um apoio que pouco mais é do que a representação nacional de bandeira à porta, objecto de curiosidade quando nos deslocamos ao centro em passeio na companhia de amigos ou familiares.

Outro pedido, perdão, outro desejo, outro sonho ainda por concretizar prende-se com o ensino da língua portuguesa no estrangeiro. Para quem não sabe, este é um direito consagrado na Constituição da República Portuguesa, mais precisamente no artigo 74, ponto 2, alínea i: “Assegurar aos filhos dos emigrantes o ensino da língua portuguesa e o acesso à cultura portuguesa”.

Ora, o ensino do Português fora da Lusitânia por norma só acontece se os pais tiverem a capacidade económica para pagar a um professor por aulas particulares. Quer isto dizer que entre o tempo e o dinheiro despendido mais a falta de professores portugueses, pouco mais se pode esperar de uma segunda, terceira e por aí fora gerações que saibam falar, mal, a língua que lhes deu origem.

A consequência é a rápida perda de interesse por Portugal, um país tão estranho como distante, diluído nos anos e na memória, vagas recordações de um passado feito de Verão e onde a vida não tem sentido quando se tem o mundo inteiro à disposição. Conclusão: os nossos filhos talvez voltem de vez em quando e os netos, ao melhor estilo inglês, nem sequer saberão apontar Portugal no mapa.

De modo a combater tal realidade, para quando o ensino gratuito do português? Para quando o acesso à língua quando se nasce no estrangeiro? E para quando o investimento público na formação e contratação de mais e mais professores?

Com mais de 2,5 milhões de portugueses emigrados, 350 mil dos quais no Reino Unido, ou seja cerca de um quarto da população residente em Portugal, para quando a equiparação do emigrante à condição de português de primeira? Com remessas anuais na casa dos 3600 milhões de euros, cerca de 1,8% do Produto Interno Bruto português, para quando o direito ao voto universal e anónimo?

E sim, se o voto postal das presentes legislativas encontrou o caminho da minha morada, o mesmo não posso dizer acerca de vários compatriotas ainda à espera que o voto chegue e por tal impossibilitados de votar. A razão? Ninguém sabe.

Convenhamos: as remessas dos emigrantes ficam na sua esmagadora maioria em Portugal e de lá não saem. O que é devolvido em investimento público a quem vive para sempre lá fora não é senão um insulto e o reflexo de um país ainda e sempre desigual onde quem está longe da vista, como é o nosso caso, está longe do coração.

Fica aqui este último desejo para a nova legislatura: o investimento anual de pelo menos 10% destas remessas nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo inteiro, começando pelo aumento do número de representações consulares. Vos garanto como receberemos Portugal de braços abertos e sorriso rasgado se Portugal nos vier bater à porta. O contrário? O contrário, meus caros, será o esquecimento quando a saudade chegar ao fim.