França chama embaixador expulso e anuncia mudanças na missão europeia de combate ao terrorismo no Mali

No terreno, já há russos a treinar tropas malianas em bases de onde os franceses saíram recentemente. Junta militar no poder continua em rota de colisão acelerada com os países europeus.

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Cartaz anti-França numa manifestação convocada pelo governo de transição do Mali, em Janeiro Reuters/PAUL LORGERIE

Quatro meses depois de o primeiro-ministro do Mali ter acusado a França de abandonar o país, Bamako acaba de expulsar o embaixador francês. O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Paris diz ter “tomado nota” da expulsão, que a junta militar justifica por declarações recentes de responsáveis franceses consideradas “hostis”, e confirma que, de momento, não haverá embaixador francês no Mali, sublinhando, ao mesmo tempo, o seu compromisso com a luta antiterrorista e com “a estabilização e o desenvolvimento do Sahel”.

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Quatro meses depois de o primeiro-ministro do Mali ter acusado a França de abandonar o país, Bamako acaba de expulsar o embaixador francês. O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Paris diz ter “tomado nota” da expulsão, que a junta militar justifica por declarações recentes de responsáveis franceses consideradas “hostis”, e confirma que, de momento, não haverá embaixador francês no Mali, sublinhando, ao mesmo tempo, o seu compromisso com a luta antiterrorista e com “a estabilização e o desenvolvimento do Sahel”.

Num comunicado, o Ministério francês exprime ainda “a sua solidariedade com os parceiros europeus, em particular a Dinamarca”, cujo contingente recém-chegado e integrado na operação internacional anti-jihadista Tabuka acaba de ser expulso pelos militares no poder no Mali “com base em motivos infundados”. O texto repete ainda a “solidariedade” da França com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que também viu o seu representante ser expulso de Bamako.

A junta maliana tinha dado na segunda-feira 72 horas ao enviado francês, Joël Meyer, para deixar o país. Paris decidiu chamá-lo de imediato. “É óbvio que a situação actual não pode perdurar”, avisara, na sexta-feira passada, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian. “Estamos envolvidos em discussões com os nossos parceiros africanos e europeus para saber como adaptar o nosso dispositivo em função da nova situação”, explicou.

As relações entre os europeus e a junta militar, que pediu a intervenção dos mercenários russos do grupo Wagner (uma milícia privada com armas pesadas que já esteve na Ucrânia, na Síria, em Moçambique ou na Líbia), não param de se degradar. Na quinta-feira, sob pressão de Bamako, a Dinamarca anunciou a retirada dos seus 100 soldados que deveriam integrar a força Tabuka, criada por iniciativa francesa – a junta disse que tinham sido mobilizados “sem autorização”.

A antiga potência colonial reduziu a sua presença no Norte do Mali o ano passado. Em Junho, o Governo francês anunciara que a operação Barkhane, que envolvia cinco mil militares franceses, seria substituída por outra missão conjunta com outros países e dedicada em exclusivo à luta contra o terrorismo, garantindo que a França continua empenhada neste combate no Sahel e manteria no Mali uma presença militar “significativa”.

Só que o governo do coronel Cheguel Maiga, saído de um golpe de estado em Maio, e com boas relações com os militares russos, aproveitou o desejo de Moscovo de alargar a sua influência em África e anunciou que face ao “recuo” francês queria “explorar novas vias e meios para garantir a sua segurança de maneira autónoma, com outros parceiros.”

Segundo Nicolas Bertrand, correspondente da France Télévisions, instrutores russos tomaram o lugar dos franceses em bases que estes deixaram no Centro e no Norte do Mali “apenas dias, semanas depois da partida”.

Os países europeus parceiros das forças especiais Takuba vão “trabalhar daqui até meio de Fevereiro” para adaptar a sua missão no Mali, tendo em conta o “isolamento progressivo” do país protagonizado pela junta, anunciou, entretanto, o porta-voz do Governo francês, Gabriel Attal. A expulsão do embaixador “é mais uma etapa neste isolamento”, descreveu, considerando que as discussões com os dirigentes do Mali “se tornaram muito difíceis” e notando que “não estamos perto de ter eleições”, já que a junta prevê uma transição de cinco anos.