Cotrim assume IL como vencedora da noite. “É possível crescer sem populismo e com rigor”
Iniciativa Liberal superou objectivos estabelecidos por Cotrim. Chegou aos oito deputados, elegendo em Lisboa, Porto, Braga e Setúbal. “Portugal está hoje mais liberal”, resumiu Rodrigo Saraiva, o terceiro pela capital.
Vinha embalada pelas sondagens que desde o início da campanha lhe davam praticamente atingida a meta de cinco deputados que João Cotrim de Figueiredo estabelecera e foi assim que a Iniciativa Liberal acabou a noite: como uma das vencedoras. Ultrapassou os objectivos de cinco deputados e 4,5% da votação, uma vez que chegou aos 4,98% (266 mil votos) e conseguiu eleger oito deputados: quatro em Lisboa, dois no Porto, um em Braga e outro em Setúbal. Passou de oitava força política nas legislativas de 2019 (67.681 votos; 1,29%) para o quarto lugar nas eleições deste domingo.
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Vinha embalada pelas sondagens que desde o início da campanha lhe davam praticamente atingida a meta de cinco deputados que João Cotrim de Figueiredo estabelecera e foi assim que a Iniciativa Liberal acabou a noite: como uma das vencedoras. Ultrapassou os objectivos de cinco deputados e 4,5% da votação, uma vez que chegou aos 4,98% (266 mil votos) e conseguiu eleger oito deputados: quatro em Lisboa, dois no Porto, um em Braga e outro em Setúbal. Passou de oitava força política nas legislativas de 2019 (67.681 votos; 1,29%) para o quarto lugar nas eleições deste domingo.
Números que deram a Cotrim de Figueiredo balanço para só falar depois de Rui Rio, já perto da meia-noite, e puxar para si os louros. “Nestas eleições só dois partidos podem cantar vitória: um preocupa-nos porque é a maioria absoluta do PS” – a quem Cotrim já telefonara a dar os parabéns e prometera uma “oposição leal mas muito firme da Iniciativa Liberal” – e o outro a cantar vitória era a própria IL.
Será, no entanto, uma vitória agridoce, já que, apesar de considerar ser o único partido além do PS que superou os objectivos, acaba por não contribuir para a governabilidade que viu ao fundo da rua quando Rui Rio, a meio da campanha eleitoral, lhe abriu as portas do Governo.
Se Carlos Guimarães Pinto foi o primeiro a ser confirmado pouco antes das 22h como eleito pelo círculo do Porto (onde em 2019 falhara a eleição), o sexto deputado a ser eleito foi Rodrigo Saraiva, por Lisboa, que representou o primeiro nome ganho além do fixado como objectivo. Entre ambos tinham aparecido João Cotrim de Figueiredo por Lisboa, depois Rui Rocha por Braga, Carla Castro por Lisboa e Ana Patrícia Gilvaz pelo Porto. E depois ainda surgiram Bernardo Blanco em Lisboa e Joana Cordeiro por Setúbal. Gilvaz é a única que integra o Conselho Nacional; Guimarães Pinto e Joana Cordeiro não integram qualquer órgão dirigente, e os restantes fazem parte da comissão executiva do partido.
“Mostrámos que é possível fazer uma campanha com clareza de objectivos, com coerência de comportamento, com coragem de falar daquilo que é popular e daquilo que não é popular. E, com essa coerência, clareza e coragem, provámos que é possível ganhar votos sem ser populista e sem ser extremista”, afirmou o líder do partido perante uma plateia entusiasmada.
“Fenómeno político”
Também puxou para o partido os louros de ser o “fenómeno político” de Portugal – contrariando aqueles que usam esse epíteto para a ascensão do Chega. “Porque com ideias, sem protagonistas, sem populismo e com rigor provámos que é possível tirar pessoas da apatia e crescer eleitoralmente e voltar a dar esperança aos portugueses”, defendeu.
João Cotrim de Figueiredo assumiu ainda dois compromissos. “O grupo parlamentar da IL – que bom é dizer esta frase – será aquela oposição firme, constante e implacável ao socialismo que há tanto tempo nos desgoverna”, prometeu. O outro compromisso é “continuar a lutar todos os dias, a convencer todos os dias, doutrinar todos os dias para que cada português perceba que o liberalismo funciona e faz falta a Portugal”, afirmou levando a plateia entusiasmada a repetir a última parte da frase por duas vezes. “Obrigado, vocês foram enormes!”, rematou.
Aos jornalistas, o líder da IL considerou que à esquerda houve “mais voto útil do que nos espaço não-socialista” e lamentou que a maioria absoluta possa vir a “ser um problema para o país” por marcar um “período de enorme domínio do Estado por um único partido”. “Prova-se que os partidos da ‘geringonça’ não tinham um projecto comum para Portugal depois de se terem unido para reverter medidas e quando se zangaram as comadres houve uma delas que conseguiu captar o voto dos outros”, defendeu.
Cotrim chegou a apelar ao eleitorado que desse o terceiro lugar à Iniciativa Liberal quando o Chega andava a dizer que esse lugar seria seu no dia das eleições, admitindo agora que “foi uma forma de mobilizar algum eleitorado que pudesse estar motivado para esse tipo de competição”. Mas agora, garante, que “o terceiro lugar não tem significado em si”. E considera que as forças “extremistas” crescem porque “fazem apelo ao que de mais básico, simples e até feio tem a natureza humana: colocam portugueses contra portugueses, têm aquela postura xenófoba em relação a tudo o que vem de fora; não têm vergonha nenhuma de serem populistas e básicos; têm tido um apelo que temos que combater todos. Nós fazemos a nossa parte: ser muito firmes na oposição mas ser muito objectivo e com um grau de firmeza que se vê pouco em Portugal.”
Bar aberto e a cadela Bala
“Acho que podemos dizer que esta noite Portugal está mais liberal”, afirmara Rodrigo Saraiva, número três da lista da Iniciativa Liberal pelo distrito de Lisboa e o braço direito de Cotrim no Parlamento nestes dois anos quando as televisões lançaram as projecções. A RTP antecipava cinco a nove deputados; a SIC entre nove e quinze, a TVI dos sete aos onze, e a CMTV seis a doze. O agora deputado defendeu que a IL contribuiu para a redução da abstenção ao “mobilizar os sectores mais dinâmicos da sociedade e os jovens” e que capitalizou junto do eleitorado por ter sido “o único partido que se apresentou aos portugueses com objectivos qualitativos e quantitativos muito claros”.
A noite eleitoral da IL foi o reflexo da informalidade com que o partido fez a campanha. A gare marítima da Rocha do Conde d’Óbidos, na zona de Alcântara, foi recebendo apoiantes a partir das 19h30 e, logo a seguir ao rápido comentário às projecções das televisões, uma hora depois, o espaço transformou-se num enorme bar com música ambiente, e a meia-luz no tom azul do partido. No bar aberto servia-se sem parar gin tónico, vodka laranja, whisky, Red Bull e cerveja. Aliás, as garrafas e copos começaram a encher as mãos dos convivas bem cedo. E as máscaras eram acessório que não se via: apesar dos cartazes à porta a exigir máscara obrigatória, eram raros os militantes que a usavam estivessem ou não a beber. Até parecia uma noite eleitoral num ano ‘normal’.
Cotrim de Figueiredo e a sua equipa mais chegada estiveram várias horas fechados numa sala de reuniões do edifício e, à semelhança dos grandes partidos, chamaram os fotógrafos e câmaras de televisão para mostrar o “estado-maior” reunido.
Até a Bala veio fazer uma visita ao dono: a jovem cadela castanha que se tornou vedeta nas redes sociais a par dos animais de estimação de outros líderes foi trazida para a gare marítima por volta das 21h30 pelo filho de Cotrim. E foi vê-la a ser fotografada como uma candidata, posando para os telemóveis. A noite terminou, como a convenção de Dezembro, ao som de Freedom, de Pharrell Williams, e muitas mãos no ar, com o polegar e o indicador bem esticados, a formar um L.