Partidos convenceram Mattarella a manter-se como Presidente de Itália

O chefe de Estado em fim de mandato foi visto como a única salvação para superar a crise política e apesar de todas as suas reticências acabou por ceder e foi eleito à oitava votação.

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O Presidente de Itália, Sergio Mattarella, que vai permanecer no cargo por mais um mandato GIUSEPPE LAMI/EPA

Os partidos do Governo pediram este sábado a Sergio Mattarella para se manter como Presidente de Itália para um segundo mandado, depois de não terem chegado a um candidato de compromisso numa semana de votações tensas no Parlamento italiano.

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Os partidos do Governo pediram este sábado a Sergio Mattarella para se manter como Presidente de Itália para um segundo mandado, depois de não terem chegado a um candidato de compromisso numa semana de votações tensas no Parlamento italiano.

Mattarella, de 80 anos, sempre afirmou estar fora de questão permanecer no cargo, mas com a estabilidade política no país em risco, acabou por não conseguir resistir à pressão.

“Os italianos não merecem mais dias de confusão”, disse Matteo Salvini, líder da Liga, partido de extrema-direita, pedindo a Mattarella que fizesse “o sacrifício” pelo bem do país.

O primeiro-ministro Mario Draghi, que fracassou na busca de apoios para chegar ao cargo que ambicionava, telefonou este sábado a Mattarella e também lhe pediu para ficar, disse uma fonte política.

E durante a tarde deste sábado, Mariastella Gelmini, ministra para os Assuntos Regionais, adiantou que o chefe de Estado aceitou reconsiderar a sua decisão.

“A vontade do Presidente Sergio Mattarella de cumprir um segundo mandato, pedido pela grande maioria dos partidos políticos, mostra o seu sentido de responsabilidade e o seu apego ao país e às instituições”, disse a ministra.

Segunda vez

É a segunda vez consecutiva que ao Presidente italiano é pedido que renove o seu mandato de sete anos. Em 2013, os líderes políticos pediram encarecidamente ao então chefe de Estado, Giorgio Napolitano, que ficasse no cargo depois de também nessa altura não terem chegado a um candidato de consenso.

Napolitano aceitou de forma relutante, mas deixou o cargo ao fim de dois anos, depois de o novo governo estar instalado, abrindo caminho para Mattarella.

Mattarella também deverá seguramente demitir-se assim que a situação política lhe permitir, ou seja, depois das eleições legislativas de Maio de 2023 especulam os comentadores italianos.

Os esforços infrutíferos para o substituir deixaram feridas abertas no partido e na relação entre os seus líderes, com a aliança de centro-direita em especial desordem, depois de perderem qualquer aparência de unidade nas últimas 24 horas.

Enquanto a Liga de Salvini e a Força Itália estão empenhados em manter o statu quo, os seus aliados dos Irmãos de Itália (FdI), que não se juntaram a eles na coligação de governo, denunciou as manobras de bastidores.

“Mais uma vez, o Parlamento mostrou que não serve aos italianos”, disse a líder do FdI, Giorgia Meloni, acusando os seus aliados de “regatear” a presidência para assegurar que o Governo se mantém até ao final da legislatura em 2023.

Papel importante

Em Itália, o Presidente é uma figura poderosa que pode nomear primeiros-ministros e é muitas vezes chamado para resolver crises políticas na terceira maior economia da zona euro, onde os governos sobrevivem em média um ano.

Ao contrário de muitos países, onde os chefes de Estado são eleitos por voto popular, em Itália, são escolhidos por 1009 “grandes eleitores” (entre senadores, deputados e representantes regionais), numa eleição por voto secreto que os líderes partidários têm muitas vezes dificuldade em controlar.

Ameaçando assumir o controlo da situação, os parlamentares foram escolhendo o nome de Mattarella nas sete votações realizadas até este sábado de manhã, onde o apoio ao actual Presidente chegou aos 387 votos – tinham sido 125 na quarta-feira. Mesmo assim suplantado pela abstenção e longe dos 505 votos necessários para garantir a nomeação.

Na votação da tarde, Mattarella conseguiu a votação que precisava para ser nomeado novamente chefe de Estado, suplantando em muito a barreira dos 505 votos necessários, chegando a 759 votos quando estavam contabilizados 985 dos boletins dos 1009 grandes eleitores.