Porto, Gaia e Viana do Castelo com obras paradas e adiadas
A crise dos materiais e a falta de mão-de-obra provocadas pela pandemia estão a forçar paragens e atrasos nas obras públicas do Norte. O presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas diz tratar-se de uma situação “pontual”.
Os concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo viram-se obrigados, este mês, a parar ou atrasar obras públicas que estão a decorrer, devido à falta de matéria-prima, mão-de-obra e constrangimentos pandémicos.
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Os concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo viram-se obrigados, este mês, a parar ou atrasar obras públicas que estão a decorrer, devido à falta de matéria-prima, mão-de-obra e constrangimentos pandémicos.
Se já eram conhecidas as paragens em Vila Nova de Gaia (distrito do Porto) e em Viana do Castelo, na tarde de quinta-feira foi a vez do Porto, através da empresa municipal GO Porto - Gestão e Obras do Porto, anunciar o adiamento da abertura do Cinema Batalha para Setembro.
A falta de matéria-prima, nomeadamente, de vidro, alumínio, ferro e cobre adiam a obra por mais cinco meses e “forçam a sua conclusão” para o princípio do verão, de acordo com a autarquia.
Citada no comunicado da autarquia, a vice-presidente da GO Porto, Cátia Meirinhos, salienta que esta fase “está verdadeiramente crítica, pois não há prazos de entregas de materiais e os valores continuam instáveis e a subir”.
Segundo aquela responsável, além da falta de vidro, alumínio ou ferro, houve também “uma falha na entrega dos contraplacados ignífugos, supostamente assegurados desde o início da obra, não havendo nova produção de perfis e acessórios em cobre, material existente nos corrimãos, puxadores e em alguma sinalética”.
“Actualmente, subempreiteiros e fornecedores não garantem entregas, nem prazos, nem preço”, nota, acrescentando que tal implicou uma redução na mão-de-obra que chegou a rondar os 100 a 150 trabalhadores e que agora se fixa em 20 a 30 pessoas.
Aos constrangimentos da obra, juntaram-se os “efeitos da pandemia”, que, “continua a afectar gravemente o normal desenvolvimento dos trabalhos”.
Situação semelhante foi relatada em Viana do Castelo, já que na terça-feira a câmara municipal aprovou, por unanimidade, a prorrogação de quatro empreitadas a pedido das empresas, que alegam atrasos ou falta de materiais e ausência de mão-de-obra especializada devido à pandemia de covid-19.
Em causa estão empreitadas no valor global de 4,6 milhões de euros, relacionadas com a beneficiação de redes de abastecimento de águas e saneamento básico e regeneração urbana, com as empresas a pedir mais 150 dias para concluir os trabalhos.
No dia 10 de Janeiro, o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, já tinha dito aos jornalistas que o aumento “brutal” do preço das matérias-primas fez com que, num intervalo de 15 dias, parassem duas obras no concelho.
Em causa estão a construção do pavilhão de Olival e obras relacionadas com eficiência energética num bairro social.
Segundo o autarca gaiense, dado o aumento dos preços, entre ter prejuízo e abdicar da obra, os empreiteiros optam pela segunda opção.
“Os preços das empreitadas hoje em curso foram estabelecidos há dois ou três anos e, portanto, o que custava 100 euros à data custa hoje 120 ou 130 euros”, vincou.
Depois de ter dito à Lusa que não havia “problemas genéricos de paragem” no sector, apesar de referir a falta de mão-de-obra, o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), quando questionado novamente se um novo adiamento na região Norte não o fazia mudar de opinião, disse continuar “a pensar que este fenómeno é pontual”.
“É pontual devido à mão de obra que o sector necessita, e por outro lado agravado por esta situação da pandemia”, referiu Manuel Reis Campos, lembrando as “milhares de obras em funcionamento”.
“Quando estamos a falar de quatro ou cinco casos, estamos a falar de uma situação pontual”, reiterou.
Questionado sobre se o fenómeno corre o risco de se generalizar, Manuel Reis Campos disse que tal “não pode acontecer nem vai acontecer” num sector que emprega “directamente 300 mil pessoas”.
Todavia, reconheceu que “é natural que haja um acabamento de obra que possa ser prejudicado por alguma razão”, nomeadamente preço ou escassez de material, mas disse não compreender que as obras parem. “Não faz sentido”, concluiu.